Não
se deseja o que não se conhece
Esta máxima clássica, do tempo dos
romanos, deve constituir a primeira regra de trabalho para quem se
dedica à publicidade, assim como de quem produz e distribui artigos
de consumo perecível ou sujeitos à pressão para serem substituídos por outros mais recentes.
O incitamento ao consumo, apesar de
que em menos de cem anos se tornou uma força intensiva, já existe
desde muitos séculos atrás. Os pregões e cartazes estimulantes
foram as primeiras intromissões na vida de cada cidadão para nos
comunicar das excelências, tantas vezes falsas, de produtos
comerciais que se desejava viessem a ter um público consumidor
quanto mais numeroso melhor.
Históricamente, no mundo ocidental
onde nos encontramos, ficaram famosas as mensagens promocionais que
se conservaram ainda hoje nos muros de Pompéia, preservadas pela
chuva de cinzas vulcânicas do Vesúvio que a soterrou, com muitos dos seus habitantes tal como estavam, antes de morrerem sufocados
pelas poeiras e gases.
Em Pompeia encontram-se mensagens de
tipo político e comercial, em várias actividades, desde barbeiros,
ferradores, restauração e até a prostituição. É este sector
aquele que é mais referenciado . Alguns exemplos:
- Lais chupa por dois ases.
- Paute, garota simpática. Seis ases.
- Serei tua por dois ases de bronze.
- Esperança. Deliciosas habilidades. Nove ases.
- LOGRAS. Escravas do país. Nascidas em casa. Oito ases.
- Marcos ama Espedusia.
- TESTIS EGO SUMS FELLATVS. Sou testemunha de que aqui há fellatio.
- Não vendo o meu homem por preço algum.
- Marcelão o ama Pernestina e não é correspondido.
Através destes exemplos podemos
verificar que pouco se avançou neste ramo de publicidade até agora,
a não ser na inclusão de fotos, embora em Pompeia também existe um
extenso repositório de frescos elucidativos das possibilidades de
escolha.
Algumas mensagens são muito
extensas e descritivas. Como esta:
Bar
de Prima (a história de Successus, Severus e Iris é contada nas
paredes do bar): [Severus]:
“Successus, um tecelão, ama a escrava do dono desse bar chamada
Iris. Ela, no entanto, não o ama. Ainda assim, ele implora que ela
tenha pena dele. Seu rival escreveu isso. Adeus.” [Resposta de
Successus]: “Pessoa invejosa, porque se intromete? Submeta-se a um
homem mais bonito que está sendo injustiçado e é charmoso.”
[Resposta de Severus]: “O que eu tinha a dizer foi dito. Escrevi
tudo que devia. Você ama Iris, mas ela não te ama.”
Mas ali também encontramos avisos
de restaurantes, tabernas do estilo “aqui vendemos o melhor vinho”.
Muito provavelmente as casas de pasto e similares tinham à porta uns
angariadores, escravos já domesticados, que importunavam os
passantes referindo as excelências da cozinha e a frescura dos seus
alimentos, nomeadamente do peixe e marisco.
A publicidade, como sabemos,
presta-se a dar gato por lebre -como
referiu um anterior Presidente da República- e mesmo sabendo
que aquilo que nos oferecem nem sempre corresponde ao que de facto
está à venda, a obsessão do consumo desenfreado faz com que se
aceitem as pretensas novas valências do produto já em vias de estar
estafado. Com uma mudança de embalagem, um palavreado novo e
cativante, mais uma grafia e colorido chamativos, consegue-se
recuperar, ou mesmo a ultrapassar, o nível de vendas anterior.
Concluíndo: Se já os latinos eram
conscientes de que o que se deseja conseguir vender tinha que, com
alguma antecedência e seguida de uma pressão mediática continuada,
ser insinuado, proposto e até com uma degustação promocional,
concluímos que pouco de novo existe agora.
Os profissionais de vendas e
publicidade sabem que, se agem com habilidade, não serão alvo de
represálias por enganar o consumidor. Hoje as técnicas, batidas e
sempre actualizadas, embora no fundo permanecem as mesmas, são
estudadas em cursos especializados.
NOTA Há muita bibliografia sobre
publicidade, e nomeadamente sobre os graffiti de Pompeia. Parte deste
material podem encontrar no Google – Wikipedia.
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