sexta-feira, 5 de abril de 2019

IGOTE NULLA CUPIDO (Ovidio)



Não se deseja o que não se conhece

Esta máxima clássica, do tempo dos romanos, deve constituir a primeira regra de trabalho para quem se dedica à publicidade, assim como de quem produz e distribui artigos de consumo perecível ou sujeitos à pressão para serem substituídos por outros mais recentes.

O incitamento ao consumo, apesar de que em menos de cem anos se tornou uma força intensiva, já existe desde muitos séculos atrás. Os pregões e cartazes estimulantes foram as primeiras intromissões na vida de cada cidadão para nos comunicar das excelências, tantas vezes falsas, de produtos comerciais que se desejava viessem a ter um público consumidor quanto mais numeroso melhor.

Históricamente, no mundo ocidental onde nos encontramos, ficaram famosas as mensagens promocionais que se conservaram ainda hoje nos muros de Pompéia, preservadas pela chuva de cinzas vulcânicas do Vesúvio que a soterrou, com muitos dos seus habitantes tal como estavam, antes de morrerem sufocados pelas poeiras e gases.

Em Pompeia encontram-se mensagens de tipo político e comercial, em várias actividades, desde barbeiros, ferradores, restauração e até a prostituição. É este sector aquele que é mais referenciado . Alguns exemplos:
  • Lais chupa por dois ases.
  • Paute, garota simpática. Seis ases.
  • Serei tua por dois ases de bronze.
  • Esperança. Deliciosas habilidades. Nove ases.
  • LOGRAS. Escravas do país. Nascidas em casa. Oito ases.
  • Marcos ama Espedusia.
  • TESTIS EGO SUMS FELLATVS. Sou testemunha de que aqui há fellatio.
  • Não vendo o meu homem por preço algum.
  • Marcelão o ama Pernestina e não é correspondido.
Através destes exemplos podemos verificar que pouco se avançou neste ramo de publicidade até agora, a não ser na inclusão de fotos, embora em Pompeia também existe um extenso repositório de frescos elucidativos das possibilidades de escolha.

Algumas mensagens são muito extensas e descritivas. Como esta:
Bar de Prima (a história de Successus, Severus e Iris é contada nas paredes do bar): [Severus]: “Successus, um tecelão, ama a escrava do dono desse bar chamada Iris. Ela, no entanto, não o ama. Ainda assim, ele implora que ela tenha pena dele. Seu rival escreveu isso. Adeus.” [Resposta de Successus]: “Pessoa invejosa, porque se intromete? Submeta-se a um homem mais bonito que está sendo injustiçado e é charmoso.” [Resposta de Severus]: “O que eu tinha a dizer foi dito. Escrevi tudo que devia. Você ama Iris, mas ela não te ama.”

Mas ali também encontramos avisos de restaurantes, tabernas do estilo “aqui vendemos o melhor vinho”. Muito provavelmente as casas de pasto e similares tinham à porta uns angariadores, escravos já domesticados, que importunavam os passantes referindo as excelências da cozinha e a frescura dos seus alimentos, nomeadamente do peixe e marisco.

A publicidade, como sabemos, presta-se a dar gato por lebre -como referiu um anterior Presidente da República- e mesmo sabendo que aquilo que nos oferecem nem sempre corresponde ao que de facto está à venda, a obsessão do consumo desenfreado faz com que se aceitem as pretensas novas valências do produto já em vias de estar estafado. Com uma mudança de embalagem, um palavreado novo e cativante, mais uma grafia e colorido chamativos, consegue-se recuperar, ou mesmo a ultrapassar, o nível de vendas anterior.

Concluíndo: Se já os latinos eram conscientes de que o que se deseja conseguir vender tinha que, com alguma antecedência e seguida de uma pressão mediática continuada, ser insinuado, proposto e até com uma degustação promocional, concluímos que pouco de novo existe agora.

Os profissionais de vendas e publicidade sabem que, se agem com habilidade, não serão alvo de represálias por enganar o consumidor. Hoje as técnicas, batidas e sempre actualizadas, embora no fundo permanecem as mesmas, são estudadas em cursos especializados.

NOTA Há muita bibliografia sobre publicidade, e nomeadamente sobre os graffiti de Pompeia. Parte deste material podem encontrar no Google – Wikipedia.

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