quinta-feira, 4 de abril de 2019

NON OMNIS MORIAR




NÃO VOU MORRER TOTALMENTE

Uma afirmação bastante egocêntrica e não universal, pois se deixa a noção de que se lembrarão do defunto durante um tempo, que para ele deve ser longo. A cruel realidade é que a maior parte de nós passa por este mundo sem pena nem glória e que recordar-se-ão, com maior ou menor intensidade, alguns familiares e uns poucos conhecidos, em especial aqueles que, de facto, se tornaram amigos “do peito” ou inimigos fidegais do ausente.

Já que utilizo algumas frases célebres do Latim clássico, a que recordo estar mais ligada ao declínio físico do homem/mulher é a célebre Atravessar o Rubicão, que se históricamente corresponde ao limite septentrional, marcado pelo rio Rubicão, -que corre desde a cordilheira central da península italiana até o Mar Adriático, perto de Rímini- A lei estabelecia que este rio devia respeitar-se como uma fronteira militar.

As legiões romanas que estavam distribuídas pelos territórios da República não podiam entrar na península a sul deste rio, sob pena de licenciamento imediato, forçoso e inapelável dos soldados legionários. Quando Júlio César, que estava no comando na Gália, entrou em litígio com os seus parceiros no triunvirato, e decidiu rumar para Roma a fim de disputar a liderança do Império, dando início à segunda guerra civil. Esta decisão de César, em atravessar a fronteira do Rubicão tornou-se célebre desde então.

Colóquialmente, para quem tem um mínimo de conhecimentos, referir a passagem do Rubicão corresponde a admitir que a vida terrestre do indivíduo concreto passou para se poder considerar como “fora de prazo”. Este valor, além de ser variável de pessoa para pessoa, foi afastando-se progressivamente com as melhoras da vida tanto alimentar como de cuidados de saúde. Tal como nos é explicado quando avançam com a idade de reforma legal.

Sendo assim que as coisas acontecem, nunca podemos afirmar a quanto estamos de perto ou se já ultrapassamos o nosso rubicão. Os mais sensatos afirmam, e estão certos, que mal nascemos caminhamos para o nosso desfecho. Outros, que nem sequer chegam a nascer vivos, ultrapassam este rio sem saberem da história.

Pragmaticamente podemos considerar que o conseguir uma certa “imortalidade”, mais concretamente em permanecer durante us tempos na memória colectiva, não depende exclusivamente dos nossos feitos mas, sem dúvida, de como alguns dos contemporâneos nos valorizaram e trataram, com os seus esforços, de procurar manter viva a imagem que eles seleccinaram.

Sei que é evidente que qualquer personagem que é recordada, nunca o é pela totalidade dos seus feitos, escritos ou de que foi actor principal. Cada biógrafo selecciona os capítulos da vida do defunto segundo o seu critério. Uns preparam uma imagem de santidade, de humanismo, de estudo, exemplar vida social e familiar, deixando sob o tapete todos aqueles factos que contrariam este retrato. Outros escribas, pelo contrário, limitam-se, com sanha, a referir todas as maldades, iniquidades, malfeitorias que tenham sido cometidas pela pessoa visada, sejam de facto de grau imperdoável ou meras nimiedades.

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