quarta-feira, 3 de abril de 2019

ISKALETOS NO AL MÁRIO




Pode acontecer que, de facto, ao abrir o armário de alguém ou mesmo o próprio, nos encontrar com a figura de um humano despido de carne, só com os ossos, a estrutura óssea de suporte.

Mas o normal é que a frase seja utilizada em sentido metafórico. Ou seja, metade dentro e metade fora, como é referido na história da velhota que foi chamada a depor em tribunal num processo de adultério. Concretamente por ter assistido, espreitando por uma frincha, a um dueto que se exercitava numa actividade absorvente e quase convulsiva, sem ter passado previamente pelo registo civil com o propósito de conseguir a licença legal para practicar o coito.

Podemos dar como seguro que todos os meus cultos seguidores conhecem a grafia tradicional do cabeçalho desta croniqueta, e que o seu significado é intuitivo. Dá uma imagem, uma metáfora, onde se diz que segredos todos temos. Sendo assim fui pesquisar alguns anexins adequados:

  • Segredo de dois, segredo de Deus; segredo de três o diabo o fez.
  • O segredo é a alma do negócio.
  • Segredo em boca de mulher é manteiga em focinho de cão.
  • Segredo em boca de mulher, é o mesmo que escrever num papel.
  • O segredo melhor guardado é o que a ninguém é revelado.
E recordamos, sem ser palavra por palavra, uma citação do Novo Testamento em que relata que passeando Jesus deparou-se com um ajuntamento em gritaria. Um grupo de homens, todos eles de barba crescida e segurando pedregulhos, estavam dispostos a lapidar uma linda e esbelta jóvem, acusando-a de ser adúltera.

Jesus, que não era parvo, bem viu e qualificou aquela corja de invejosos, possívelmente todos eles cornudos. Colocando-se frente da rapariga lhes disse: O pescador sem pescado pode atirar a primeira rede. Todos se olharam entre si e deixando cair os seus projectis, viraram costas e abandonaram o terreiro, que ficou entregue ao profeta (ainda não adquirira o título de Cristo, porque nem sequer estavam no domingo de Ramos, e daí não tinha chegado a sua hora de ser crucificado) e da formosa jóvem.

Chegando-se mais perto, e tomando o seu ar beatífico de bom rapaz, que nunca tinha partido um prato, lhe perguntou se ela podia ir até um local seguro, para se acoitar. Perante a sua negativa ofereceu-lhe companhia, e a conduziria até à casa da sua amiga Magdalena, que certamente a acolheria como mais uma pomba no seu pombal. E assim foi.
É que as pedras preciosas tem que ser lapidadas com esmero por um experto que as saiba transformar em jóias. Bem se recorda o conselho de não dar pérolas a suinos.

Pois, voltando à vaca frígida, a mensagem inicial serve para alertar do facto de que poucos, ou nenhum, pode gabar-se de não guardar segredos inconfessáveis, coisas da sua vida que prefere não serem divulgadas ao quatro ou mais ventos (recordar a Rosa dos ditos, que tem tantos bicos).

Os factos mais íntimos nunca se podem revelar a ninguém, e especialmente em conversa de travesseiro. A situação potencialmente mais perigosa é a que ocorre quando se atinge um estado de euforia por embriaguez, não total, de cair para o lado, mas de perder o bom senso e a cautela. Pode sentir-se um incitamento interno para revelar aquilo que, mesmo estando guardado no fundo da gaveta mais alta, sempre nos espreita acusando de faltar às nossas regras.

RECOMENDAM-SE CAUTELAS E CALDOS DE GALINHA. E dormir sem companhia até passarem as tonturas.


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