Pode
acontecer que, de facto, ao abrir o armário de alguém ou mesmo o
próprio, nos encontrar com a figura de um humano despido de carne,
só com os ossos, a estrutura óssea de suporte.
Mas
o normal é que a frase seja utilizada em sentido metafórico. Ou
seja, metade dentro e metade fora, como é referido na história da
velhota que foi chamada a depor em tribunal num processo de
adultério. Concretamente por ter assistido, espreitando por uma
frincha, a um dueto que se exercitava numa actividade absorvente e
quase convulsiva, sem ter passado previamente pelo registo civil com
o propósito de conseguir a licença legal para practicar o coito.
Podemos
dar como seguro que todos os meus cultos seguidores conhecem a grafia
tradicional do cabeçalho desta croniqueta, e que o seu significado é
intuitivo. Dá uma imagem, uma metáfora, onde se diz que segredos
todos temos. Sendo assim fui pesquisar alguns anexins adequados:
- Segredo de dois, segredo de Deus; segredo de três o diabo o fez.
- O segredo é a alma do negócio.
- Segredo em boca de mulher é manteiga em focinho de cão.
- Segredo em boca de mulher, é o mesmo que escrever num papel.
- O segredo melhor guardado é o que a ninguém é revelado.
E
recordamos, sem ser palavra por palavra, uma citação do Novo
Testamento em que relata que passeando Jesus deparou-se com um
ajuntamento em gritaria. Um grupo de homens, todos eles de barba
crescida e segurando pedregulhos, estavam dispostos a lapidar uma
linda e esbelta jóvem, acusando-a de ser adúltera.
Jesus,
que não era parvo, bem viu e qualificou aquela corja de invejosos,
possívelmente todos eles cornudos. Colocando-se frente da rapariga
lhes disse: O pescador sem
pescado pode atirar a primeira rede.
Todos se olharam entre si e deixando cair os seus projectis, viraram
costas e abandonaram o terreiro, que ficou entregue ao profeta (ainda
não adquirira o título de Cristo, porque nem sequer estavam no
domingo de Ramos, e daí não tinha chegado a sua hora de ser
crucificado)
e da formosa jóvem.
Chegando-se
mais perto, e tomando o seu ar beatífico de bom rapaz, que nunca
tinha partido um prato, lhe perguntou se ela podia ir até um local
seguro, para se acoitar. Perante a sua negativa ofereceu-lhe
companhia, e a conduziria até à casa da sua amiga Magdalena, que
certamente a acolheria como mais uma pomba no seu pombal. E assim
foi.
É
que as pedras preciosas tem que ser lapidadas com esmero por um
experto que as saiba transformar em jóias. Bem se recorda o conselho
de não dar pérolas a suinos.
Pois,
voltando à vaca frígida, a mensagem inicial serve para alertar do
facto de que poucos, ou nenhum, pode gabar-se de não guardar
segredos
inconfessáveis,
coisas da sua vida que prefere não serem divulgadas ao quatro ou
mais ventos (recordar a Rosa dos ditos, que tem tantos bicos).
Os
factos mais íntimos nunca se podem revelar a ninguém, e
especialmente em conversa de travesseiro. A situação potencialmente
mais perigosa é a que ocorre quando se atinge um estado de euforia
por embriaguez, não total, de cair para o lado, mas de perder o bom
senso e a cautela. Pode sentir-se um incitamento interno para revelar
aquilo que, mesmo estando guardado no fundo da gaveta mais alta,
sempre nos espreita acusando de faltar às nossas regras.
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