quinta-feira, 25 de abril de 2019

LEITURAS INDIGESTAS


MATAR O TEMPO

Já que temos que estar cientes de que o tempo nos mata o melhor que podemos fazer, para nos desforrar, é matar o dito tempo. Gastá-lo da melhor maneira que se possa imaginar, atendendo às nossas vocações e capacidades.

Consoante a temperatura ambiente, digamos mais correctamente, a climatologia do dia, no permite e oriente, escolher entre ler, escrever, pintar e, por vezes, fazer alguma inutilidade talhando madeira, seja ela seca ou ainda viva. Confesso o pecado ambiental de talhar caras no tronco das árvores, procurando ferir menos do que eu vi, durante a minha juventude, as feridas que os resineiros faziam aos pinheiros com o propósito de lhes retirar a seiva vital (não confundir com o Moreira, que nem sequer conheço)

Sou um devorador de livros, e tenho tantos em casa, arrumados mas esquecidos, que depois de consulta aos meus descendentes -que me elucidaram não lhes interessar aquelas velharias- decidi reler e, umas vez digeridos, os oferecer a um vendedor de livros usados para que os colocasse na sua banca. Pode ser que assim tenham mais uma oportunidade de ser úteis.

E hoje, finalmente, terminei um livro, escrito em l969 -a edição que tive nas mãos já tem o papel torrado pelo tempo!- por uma jornalista italiana, ORIANA FALLACI. que teve um período de fama devido aos seus escritos. O livro traz o título de NADA E ASSIM SEJA.

A temática consiste em oferecer as meditações que lhe ocorreram quando esteve, como correspondente de guerra, no Vietnam, durante mais do que um a vez. Para quem não se sinta vocacionado para seguir as experiências de um civil, tanto na retaguarda como no meio das operações, aguentar os relatos das  mortes súbitas de jovens recrutas, enviados na véspera desde as bases e serem estilhaçados num conflito que não entendiam, e que verificaram as justificações que lhes foram dadas para os enviara uma morte absurda. Para os idosos de hoje nos pode recordar o que sabemos acerca do Vietcong, do Ho Chi Min, dos governos promovidos pelo USA a fim de justificar um símil de guerra civil e poder entrar num conflito, de índole planetário, entre o Capitalismo e o Comunismo, e assim “promover e defender a democracia?”

Anos mais tarde e por facilidade de um familiar (filho) destacado em Hanoi, verifiquei como aquele povo era pacífico, amável, aberto no convívio com estrangeiros, incluídos os “benfeitores” americanos, de triste memória. O que o “ocidente democrático” fez naquela zona do Oriente não se pode esquecer, e muito menos perdoar.

Imagino que actualmente as pessoas que ainda leem, sem ser o Correio ou as revistecas com falsas celebridades, fabricadas a martelo, não devem ter a mente propensa para enfrentar assuntos tão desagradáveis como são relatos das centenas, e muitos milhares, de pessoas que são arrancadas da vida por decisores sentados em poltronas.

Sem comentários:

Enviar um comentário