MATAR
O TEMPO
Já
que temos que estar cientes de que o tempo nos mata o melhor que
podemos fazer, para nos desforrar, é matar o dito tempo. Gastá-lo da
melhor maneira que se possa imaginar, atendendo às nossas vocações
e capacidades.
Consoante
a temperatura ambiente, digamos mais correctamente, a climatologia do
dia, no permite e oriente, escolher entre ler, escrever, pintar e, por
vezes, fazer alguma inutilidade talhando madeira, seja ela seca ou
ainda viva. Confesso o pecado ambiental de talhar caras no tronco
das árvores, procurando ferir menos do que eu vi, durante a minha
juventude, as feridas que os resineiros faziam aos pinheiros com o
propósito de lhes retirar a seiva vital (não confundir com o
Moreira, que nem sequer conheço)
Sou
um devorador de livros, e tenho tantos em casa, arrumados mas
esquecidos, que depois de consulta aos meus descendentes -que me
elucidaram não lhes interessar aquelas velharias- decidi
reler e, umas vez digeridos, os oferecer a um vendedor de livros
usados para que os colocasse na sua banca. Pode ser que assim tenham
mais uma oportunidade de ser úteis.
E
hoje, finalmente, terminei um livro, escrito em l969 -a
edição que tive nas mãos já tem o papel torrado pelo tempo!-
por uma jornalista italiana, ORIANA FALLACI. que teve um período de
fama devido aos seus escritos. O livro traz o título de NADA E ASSIM
SEJA.
A
temática consiste em oferecer as meditações que lhe ocorreram
quando esteve, como correspondente de guerra, no Vietnam, durante
mais do que um a vez. Para quem não se sinta vocacionado para seguir
as experiências de um civil, tanto na retaguarda como no meio das
operações, aguentar os relatos das mortes súbitas de jovens recrutas, enviados
na véspera desde as bases e serem estilhaçados num conflito que
não entendiam, e que verificaram as justificações que lhes foram
dadas para os enviara uma morte absurda. Para os idosos de hoje nos
pode recordar o que sabemos acerca do Vietcong, do Ho Chi Min, dos
governos promovidos pelo USA a fim de justificar um símil de guerra
civil e poder entrar num conflito, de índole planetário, entre o
Capitalismo e o Comunismo, e assim “promover e defender a
democracia?”
Anos
mais tarde e por facilidade de um familiar (filho) destacado em Hanoi,
verifiquei como aquele povo era pacífico, amável, aberto no
convívio com estrangeiros, incluídos os “benfeitores”
americanos, de triste memória. O que o “ocidente democrático”
fez naquela zona do Oriente não se pode esquecer, e muito menos
perdoar.
Imagino
que actualmente as pessoas que ainda leem, sem ser o Correio ou as
revistecas com falsas celebridades, fabricadas a martelo, não devem
ter a mente propensa para enfrentar assuntos tão desagradáveis como
são relatos das centenas, e muitos milhares, de pessoas que são
arrancadas da vida por decisores sentados em poltronas.
Sem comentários:
Enviar um comentário