CRÓNICAS
DO VALE – cap 67
por razões de programação, como mais adiante se verá. repetimos o último capítulo anteriormente editado da saga CRÓNICAS DO VALE
Foi
falso alarme ?
Depois
de tomar o segundo comprimido comecei a sentir uma moinha esquisita
na barriga. Tive uma noite inquieta, mal dormida ou mais propriamente
com uma insónia misturada com pesadelos instantâneos. De madrugada
guardei a orina que o Dr. me pediu e, no boião transparente vi uns
laivos de sangue. Tomei o terceiro comprimido e o mal-estar se
acentuou. Quando me arranjava, com muita dificuldade em coordenar
movimentos e um sentimento estranho no meu interior, sentí como
surgiu um fluxo, mais espesso e até violento, do que o meu normal.
-
Bom dia. Sou a Senhora Luísa Maragato e vinha deixar as amostras de urina de ontem ao deitar e de esta manhã ao levantar, atendendo às indicações do Senhor Doutor. Certamente a enfermeira saberá o
destino a dar a estas amostras. E creio que por agora é tudo. Se o
Dr. Entender tem o meu telefone na ficha para entrar em contacto.
-
Desculpe. Não se vá embora já. O dr. Avisou que quando a dona
Luísa, chegasse para entregar os dois frascos o informassem, pois
deseja consultar a Senhora quanto antes. Faça o favor de aguardar
enquanto eu comunico com o Doutor. O Dr. Deu indicação para que
entre no gabinete de consulta. Faça o favor de me seguir.
-
Doutor, bom dia. Antes de mais queria dizer que, sejam quais forem
as razões terapêuticas, os comprimidos que me entregou foram de
efeito rápido. Não quero especular acerca do tratamento, mas
gostaria que o Doutor me esclarecesse. Não tenho uma explicação
plausível que me satisfaça, pois o que sei de medicina e nada é a
mesma coisa. Só posso afirmar que agradeço ao Doutor a atenção
com que atendeu ao nosso - meu e do meu marido- não digo que
problema, pois caso se confirmasse existir uma gravidez inesperada.
seria encarada com toda a sensibilidade e bom senso pertinente.
Mas, de facto não deixava de ser uma situação extemporânea.
Já
discursei e assim descarreguei o nervosismo que me pesava desde a
noite passada. Agradeço o silêncio com que me ouviu e, também, em
primeiro lugar, o método indolor e rápido com que possibilitou uma
solução. Peço que me desculpe. Sempre fui impulsiva quando entro
em parafuso, e o conhecer o Doutor de bastantes anos tornou-me
indesculpávelmente atrevida.
-
Amiga Dona Luísa Maragato. Conheço-a desde muitos anos a esta
parte, como paciente de seguimento e por sorte sempre com boa saúde,
ou seja, foram visitas rotineiras de precaução. Desta vez as coisas
não foram, exactamente, como a Dona Luísa imaginou. Mas esteve
muito perto. O que a desconcertou foi que, sem dar por isso,
chegaram os primeiros sinais da fase menopáusica, que altera
practicamente todo o funcionamento do aparelho reprodutivo feminino,
e provoca uma sintomatologia que nem sempre é agradável. Os homens
também tem a sua cruz neste sector sexual: a andropausa, de que, tal
como as senhoras, não gostam de falar porque psicologicamente sentem-se diminuídos. E de facto assim é!
Aguardaremos
os resultados das análises a fazer com a sua urina, e depois o mais
provável é que lhe tenha que receitar um tratamento hormonal
específico para esta fase da vida femenina. É melhor tratar disso
enquanto os sintomas não se acentuam. Entretanto, e porque a chegada
deste declínio hormonal é causa de efeitos psicológicos, a maioria
das mulheres, como já disse, não gostam de referir esta situação
aos demais. Não devia ser visto como uma vergonha, mas a reacção
habitual é como se fosse.
Confio
na Dona Luísa para que arquitecte um arrazoado, credível, sem
entrar em especulações de mau gosto. E até, se já tinha dado
vozes de novidade a pessoas suas conhecidas, use a mesma argumentação
para dar uma nova versão mais aceitável, esquecendo o alarme,
imprevisto mas em princípio aceite, de que iria dar mais um herdeiro
ao José Maragato.
E
aqui damos a consulta por terminada. Felizmente sem sequelas, segundo
desejo. Quero voltar a observar daqui a um mês. Trate de marcar a consulta
com a senhora da recepção, a quem darei já indicações pelo
telefone interno. Os dois estamos de parabéns, tendo remediado uma
situação que se podia prever visse a ser potencialmente
problemática.
-
Então Luísa, como decorreu o encontro com a Dra. Diana? O que me
antecipaste pelo telefone creio que é suficiente, mas tens via
livre para completar, caso entendar ser pertinente.
-
É um assunto que ainda está no início. Não digo no prólogo,
porque já se deram novas e rápidas alterações não organização
da filial de Coimbra. Já não é aquilo que conhecemos. E o melhor
seria que pudéssemos esquecer das circunstâncias que nos conduziram a
ter estes contactos.
Mas
há outros assuntos que mais nos podem interessar neste momento, além
de que a possibilidade de te dar mais um herdeiro ficou pelo caminho.
Segundo parecer do meu médico “de senhoras” acontece que entrei
na fase menopáusica, com a certeza de vir a sofrer dos calores,
conhecidos como afrontamentos e indisposições de novo tipo,
próprios das matronas. Querido, não te darei um filho -vade
retro, Satanás!- mas cá estou para passar a ser uma senhora
respeitável, sem despesas de pensos higiénicos, pelo menos numa
periodicidade regular.
O
outro tema, que trazia na mira, ou seja a vontade de instalar uma
estufa para plantas junto da hortinha, pode ser que venha a ter algun
avanço. Ao passar pela Vila falei com a referida senhora, mãe de um
engenheiro “ingrícola”, especializado em floricultura e meninas
-a mamá sempre conta, muito vaidosa, da constante mudança de
namoradas do seu rebento. E todas elas de parar o trânsito!- a
fim de que lhe pergunte se pode deslocar-se até o Vale para nos
poder dar uma ideia de se entende ser possível a instalação da
sonhada estufa. E depois poder contar com a sua assistência futura
enquanto eu não ganhe experiência.
Uma
loucura serôdia que, como ves, está tão longe do lavar cabeças, e
pintar cabeleiras, como consta do meu currículo “universitário”,
como está Marte em relação a Aveiro.
-
Eu dei um dos meus passeios diários no terreno e tive uma conversa
com o Ernesto acerca da tua ideia de montar uma estufa. Ele sabia
disso, porque tu já lho contaste. Vimos os espaços que nos parecem
apropriados e qual implicaria abater muitas árvores. O que ele
nos recomenda é que nos precavermos de que a estrutura a instalar
seja resistente a ventanias, pois é uma tristeza ver como algumas
instalações deste género são derrubadas e desfeitas caso a aragem
seja mais forte; ou seja, se surgir um vendaval. Quando souberes da
vinda do “técnico” posso estar por perto. Mas a conversa terás
que a ter tu. Como na cozinha, duas pessoas a temperar o mesmo estrugido ou assado é muito arriscado.
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