Aconselho,
com convicção, evitar ou mesmo fugir de polêmicas, em especial
quando estas estiverem conectadas com convicções políticas ou
religiosas. Estes temas, e alguns outros como as equipas de futebol,
tem a característica de, quase sempre serem obsesivas . Assuntos
onde existe uma imensa dificuldade em admitir a conveniência de
ceder nos seus pontos de vista e convicções pessoais, que por quase soberba se consideram ser inamovíveis. Daí que nestes assuntos
aquilo que se pode iniciar como uma conversa suave, sem a mínima
agressividade, tem muitas probabilidades de conduzir a uma
incompatibilidade, quase que feroz, que até pode destruir uma
anterior agradável convivência. Pode desabar mesmo a um arrefecer
irreversível. Pelo menos de difícil recuperação.
Estes
dias, anteriores e posteriores, em que se rememorou a revolta militar
que abriu a sociedade portuguesa à real e possível democracia -com
todos os defeitos e algumas qualidades, que podemos atribuir à falta
de seriedade e correcção inerente aos humanos, temos mais uma vez o recrudescer das convicções pessoais e grupais. Biologicamente para
os mais atreitos a polemizar é semelhante ao periódico surto das
sezões, ou febres palúdicas.
Infelizmente
a visão mental e social dos mais acérrimos defensores de cada bando
os mantêm enrrocados, entendendo por isso que cada parte só aponta
os logros que entende como positivos e o outro, em especial se é o
dos saudosistas, só encontram negrume, queixas, mau caminho da
sociedade em geral, desrespeito para os valores que estruturam a
sociedade antes de cair no que entendem ser um caos de difícil
recuperação.
Tudo
o que apontei pertence ao domínio da sociologia e comportamento dos
humanos. Mas podemos dar algumas pinceladas noutros temas “pesados”.
Que também são perigosos pela possibilidade de conduzir a separar
muitas pessoas de bem. Sem que friamente lhe encontremos uma
justificação válida.
O
capítulo da religião é um dos mais escorregadios. Seja ela qual
for. Pois que vistas sem paixão, friamente, todas elas se baseiam e
manobram dentro da mesma área de preceitos, positivos, negativos e
obrigatórios. De nada serve referir que os prelúdios das estruturas
catequistas ou dogmáticas, são muito anteriores ao que se valoriza
como cultura independente. Ou referir que a gênese das diferentes
divindades que se tem adorado, respeitado ou temerosamente aceite, é
sempre igual. Que todas se geraram no pensamento humano. É uma
premissa que nenhum convicto aceita, seja qual for o credo a que
aderiu. Todos invocarão a revelação através de uma entidade
sobrenatural, superior a todos e sem possibilidade normal de
ser vista, de dialogar, de visitar quando for necessário. Tudo fica,
sempre, no âmbito do nebuloso, do mistério, do inalcançável.
Excepto em casos muito especiais e de difícil explicação racional.
Retomando
o ambiente de Abril, sabemos, os que olham com tranquilidade e sem
favoritismo exacerbado, que é sempre possível, escamoteando aquilo
que não convêm para a nossa dissertação, encontrar vectores de
evolução evidentemente positivos. E, por outro lado referir
situações que se valorizam como ser prejudiciais.
Temos
exemplos, simples e sintéticos, que para bem ser teriam que se
debater com cuidado. Um deles pode ser o sentimento de que se perdeu
aquilo de “o
respeitinho é muito bonito”,
frase que, de imediato nos traz a visão do humilde respeitador,
agarrado ao seu boné, e com a cabeça devidamente agachada,
esperando ser ouvido pelo respeitado e ser “magnanimamente”
atendido.
Outro
aspecto que habitualmente se refere é que a educação que o estado
oferece aos seus jóvens, é muito menos abrangente do que a que
anteriormente se dava a um universo muito restrito de jovens. Aqui
peca-se por ignorância dos adultos actuais. Para já o educar a uma
massa quase que indiferenciada, onde muitos partem de ambientes
familiares com pouca ou nenhuma cultura literária, afecta não só a
capacidade de atenção e compreensão de uma boa parte dos alunos, e
até dos resultados que podem conseguir os docentes mais empenhados.
O
entorno em que as pessoas se movem na actualidade fornece, se assim
for aproveitado, muitas mais possibilidades de educação geral do
que nos outros tempos. Mas, paralelamente, também põe nas mãos dos
alunos uns campos de distracção, alguns até tecnicamente
evoluídos, que os podem afastar do estudo oficial proposto.
Além
disso, não podemos tentar comparar, sem aprofundar devidamente, a
sociedade portuguesa de 50 anos atrás com a actual, em que as
“necessidades” de ordem múltipla e que se podem considerar, em
muitos casos, como dispensáveis, são promocionadas insistentemente
pela múltipla acção do consumismo.
Entre
umas razões e muitas mais que deixei para trás, o lamentar o “bom
tempo passado” é uma atitude absurda, por extemporânea. Os idosos
é que estão totalmente cientes de que não se pode recuar para o
passado, por muitas saudades das facetas boas que nos venham á
memória. Seja qual for o resultado de um cômputo social,
racionalmente é imperioso pensar no tempo actual, hoje, amanhã e
mais adiante para quem tiver oportunidade.
COM
LEITE DERRAMADO JAMAIS SE PODE FAZER QUEIJO.
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