sexta-feira, 26 de abril de 2019

POLÉMICAS




Aconselho, com convicção, evitar ou mesmo fugir de polêmicas, em especial quando estas estiverem conectadas com convicções políticas ou religiosas. Estes temas, e alguns outros como as equipas de futebol, tem a característica de, quase sempre serem obsesivas . Assuntos onde existe uma imensa dificuldade em admitir a conveniência de ceder nos seus pontos de vista e convicções pessoais, que por quase soberba se consideram ser inamovíveis. Daí que nestes assuntos aquilo que se pode iniciar como uma conversa suave, sem a mínima agressividade, tem muitas probabilidades de conduzir a uma incompatibilidade, quase que feroz, que até pode destruir uma anterior agradável convivência. Pode desabar mesmo a um arrefecer irreversível. Pelo menos de difícil recuperação.

Estes dias, anteriores e posteriores, em que se rememorou a revolta militar que abriu a sociedade portuguesa à real e possível democracia -com todos os defeitos e algumas qualidades, que podemos atribuir à falta de seriedade e correcção inerente aos humanos, temos mais uma vez o recrudescer das convicções pessoais e grupais. Biologicamente para os mais atreitos a polemizar é semelhante ao periódico surto das sezões, ou febres palúdicas.

Infelizmente a visão mental e social dos mais acérrimos defensores de cada bando os mantêm enrrocados, entendendo por isso que cada parte só aponta os logros que entende como positivos e o outro, em especial se é o dos saudosistas, só encontram negrume, queixas, mau caminho da sociedade em geral, desrespeito para os valores que estruturam a sociedade antes de cair no que entendem ser um caos de difícil recuperação.

Tudo o que apontei pertence ao domínio da sociologia e comportamento dos humanos. Mas podemos dar algumas pinceladas noutros temas “pesados”. Que também são perigosos pela possibilidade de conduzir a separar muitas pessoas de bem. Sem que friamente lhe encontremos uma justificação válida.

O capítulo da religião é um dos mais escorregadios. Seja ela qual for. Pois que vistas sem paixão, friamente, todas elas se baseiam e manobram dentro da mesma área de preceitos, positivos, negativos e obrigatórios. De nada serve referir que os prelúdios das estruturas catequistas ou dogmáticas, são muito anteriores ao que se valoriza como cultura independente. Ou referir que a gênese das diferentes divindades que se tem adorado, respeitado ou temerosamente aceite, é sempre igual. Que todas se geraram no pensamento humano. É uma premissa que nenhum convicto aceita, seja qual for o credo a que aderiu. Todos invocarão a revelação através de uma entidade sobrenatural, superior a todos e sem possibilidade normal de ser vista, de dialogar, de visitar quando for necessário. Tudo fica, sempre, no âmbito do nebuloso, do mistério, do inalcançável. Excepto em casos muito especiais e de difícil explicação racional.

Retomando o ambiente de Abril, sabemos, os que olham com tranquilidade e sem favoritismo exacerbado, que é sempre possível, escamoteando aquilo que não convêm para a nossa dissertação, encontrar vectores de evolução evidentemente positivos. E, por outro lado referir situações que se valorizam como ser prejudiciais.

Temos exemplos, simples e sintéticos, que para bem ser teriam que se debater com cuidado. Um deles pode ser o sentimento de que se perdeu aquilo de “o respeitinho é muito bonito”, frase que, de imediato nos traz a visão do humilde respeitador, agarrado ao seu boné, e com a cabeça devidamente agachada, esperando ser ouvido pelo respeitado e ser “magnanimamente” atendido.

Outro aspecto que habitualmente se refere é que a educação que o estado oferece aos seus jóvens, é muito menos abrangente do que a que anteriormente se dava a um universo muito restrito de jovens. Aqui peca-se por ignorância dos adultos actuais. Para já o educar a uma massa quase que indiferenciada, onde muitos partem de ambientes familiares com pouca ou nenhuma cultura literária, afecta não só a capacidade de atenção e compreensão de uma boa parte dos alunos, e até dos resultados que podem conseguir os docentes mais empenhados.

O entorno em que as pessoas se movem na actualidade fornece, se assim for aproveitado, muitas mais possibilidades de educação geral do que nos outros tempos. Mas, paralelamente, também põe nas mãos dos alunos uns campos de distracção, alguns até tecnicamente evoluídos, que os podem afastar do estudo oficial proposto.

Além disso, não podemos tentar comparar, sem aprofundar devidamente, a sociedade portuguesa de 50 anos atrás com a actual, em que as “necessidades” de ordem múltipla e que se podem considerar, em muitos casos, como dispensáveis, são promocionadas insistentemente pela múltipla acção do consumismo.

Entre umas razões e muitas mais que deixei para trás, o lamentar o “bom tempo passado” é uma atitude absurda, por extemporânea. Os idosos é que estão totalmente cientes de que não se pode recuar para o passado, por muitas saudades das facetas boas que nos venham á memória. Seja qual for o resultado de um cômputo social, racionalmente é imperioso pensar no tempo actual, hoje, amanhã e mais adiante para quem tiver oportunidade.

COM LEITE DERRAMADO JAMAIS SE PODE FAZER QUEIJO.

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