quarta-feira, 31 de maio de 2017

NÃO ENTENDO



Pergunto a mim mesmo e não sei responder, admitindo logo de entrada que não tenho bagagem de conhecimentos sobre a economia que move os países, e concretamente sobre a que afecta Portugal se, de facto, existe neste jardim alguém que, com sinceridade e convicção, considere a situação que nos é apresentada como um sucesso, quase que milagroso.

Para toda a equipa que está instalada na governação, incluído o PR, Portugal está marchando, em passo de corrida, para o melhor dos mundos. Vejam-se os efeitos dos FFF e os índices positivos que ofuscam, escondendo aqueles que não se ajustam à mítica visão que se impõe para levantar o moral da população. Acusar todos pode ser um exagero, pois que além de alguns teimosos, que são vistos como Velhos do Restelo, há os que preferem estar mudos e quedos nestes temas.

Também é pertinente reconhecer a existência dos sócios refilões, pouco citados e só ouvidos pelos seus adeptos fieis. Este alheamento perante as denuncias do que se esconde pode atribuir-se ao facto de que a malta conhece, sem ser consciente deste capítulo na sua bagagem cultural, a história do Pedro e o lobo. Os meios de comunicação social colaboram com ardor nesta selecção, que se anuncia como caminhando, resolutamente, para a vitória. Um ardor que pode estar localizado nos estômagos dos que tem o seu salário dependente do seu comportamento, que, sem subtilezas, os obriga a seguir as linhas de opinião que agradam aos proprietários.

Aquilo que continua a me preocupar é que tanto a balança de pagamentos como a dívida nacional e privada continuam aumentando, sem sintomas de que às cacarejadas exportações lhes correspondam uma diminuição no peso das importações (a crédito!!)

Referem que a evolução positiva deve-se, principalmente ao aumento da confiança da cidadania, e também ao dinheiro que nos deixa o turismo de massas.

Quando referem esta “confiança” devemos traduzir pelo aumento do consumo, mantido em alta pelo crédito que se abriu na banca depois de recapitalizada, e que depois vai, quase todo, dirigido a bens importados, sejam de consumo imediato e de curta duração ou de viaturas, cujo tempo de vida também é progressivamente encurtado por interesse dos fabricantes. Sem números à minha frente, e que sei devem existir, atrevo-me a dizer que esta confiança tem pés de barro, cru.

A segunda parcela favorável veio dirigir uma parte da cidadania, cada vez em maior percentagem, especialmente a muitos dos que vivem ou trabalham nas grandes urbes, a ficar dependentes do sector serviços. É melhor do que nada. Mas degrada a muitas pessoas na sua auto-estima. Hoje, na capa de um jornal generalista, vinha a declaração de uma insigne profissional afirmando, pouco mais ou menos, que as famílias deviam sentir orgulho em ter filhos cozinheiros ou empregados de mesa. Da minha lavra juntaria condutores de tuc-tuc, e não refiro os carteiristas porque as notícias referem que muitos destes profissionais não são, de facto portugueses. Longe vão os tempos em que a nação produzia profissionais neste ramo sem concorrência vinda de fora, excepto nas datas com maiores ajuntamentos de pessoal.

O turismo de massas, que é um fenómeno relativamente recente, depende em parte da oferta de viagens com baixo custo. Já lhes sai mais barato, e cómodo, subir a um avião, apertados, do que tentar boleias com a mochila às costas. Venham hotéis, de preferência com bastantes estrelas, casas que aluguem quartos, mais ou menos legalmente. Atraquem, por umas horas, grandes paquetes de cruzeiro, que são hotéis flutuantes e só deixam algum dinheiro nas lojas da baixa e nas empresas que os passeiam em grupo, em circuitos curtos ou extensos, consoante o tempo que dispõem. Qualquer dia Lisboa e Porto vão tornar-se a versão lusitana do execrável Marraqueshe, onde os ambulantes são tantos e tão persistentes como as moscas em Óbidos .


O que vemos de facto é um progresso nacional? Ou é uma ilusão que teremos que pagar com língua de palmo, como cães sedentos.

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