Quem
me tenha seguido com atenção, coisa difícil e pouco provável, é
capaz de encontrar uma animosidade visceral contra as igrejas e
credos que “consolam” a humanidade. O culpado desta noção, que
certamente existe, só posso ser eu, apesar de que manifestei, por
mais de uma vez, que admito, como facto incontestável, que o homem,
desde os seus primórdios de erecto e sapiens, e
em consequência de que a sua sapiência não era suficiente para o
esclarecer sobre muitíssimas coisas e factos que o deixavam
perplexo, procurou explicações esotéricas, fabulosas, numa
evolução cada vez mais complexa e alambicada, que ao ser
estruturadas por cabeças astutas deram origem às múltiplas
religiões. Conceito que abrange desde o animismo mais primário, com
os seus bruxos, até as estruturas mais complexas.
Considerando
que a mente humana, neste aspecto de como enfrentar, mentalmente, o
desconhecido, pouco evoluiu desde que os cavernícolas pintalgavam
renas e auroques, mãos, caçadores, e outras figuras simbólicas,
com o propósito de assim conseguir uma colaboração fantasiosa para
a sua sobrevivência, nos pode deixar bastante perplexos. Não vale a
pena imaginar impossíveis, somos lá no fundo, estrutura e
mentalmente pouco diferentes dos cromagnhon e neandertais, entre
outros. Hoje, um grande, enorme, sector da sociedade civil mantêm
esta propensão a acreditar em explicações, favores, sucessos e
consolos que só existem nas suas mentes. É assim e não há volta a
dar.
Então
cabe perguntar: Se reconheço esta necessidade ou o quase inevitável
arrastamento por hábitos ancestrais, porque repudiar algo que admito
ser quase que instintivo? A resposta está precisamente no “quase”,
pois temos que admitir a existência de estruturas, bem montadas e
melhor oleadas, com diferentes nomes “comerciais”, que se
encarregam de manter agarrados os espíritos mais débeis, mesmo que
carreguem, orgulhosamente, com títulos académicos e presumam de
intelectualidade. Os convertem em adictos fieis dos protocolos. Neste
sector temos que incluir aqueles que, no fundo, se mostram como fieis
mas estão movidos por interesses mais terrenos do que celestiais. E
são muitos!
Pessoalmente,
tenho consideração e respeito pelos membros do chamado baixo
clero, (1) apesar de
saber que são os peões de brega (termo
do léxico tauromáquico)
da estrutura da Igreja. Sempre, ou quase sempre, me dei bem com estas
pessoas que valorizo como equiparáveis a profissionais de outros
sectores necessários para o funcionamento da sociedade. Sem dúvida,
são eles que convivem e consolam, dentro das suas possibilidades e
capacidades, a quem os procura. São eles os que cumprem a principal
função social neste campo das carências mentais. Por esta razão
não só mantive longos diálogos com alguns membros do baixo clero
como, inclusive, os sentei na nossa mesa para partilhar, irmãmente,
refeições descomprometidas.
O
mesmo não posso dizer para os elementos que estão integrados na
pirâmide estrutural do
médio e alto clero. Pois
que é neste sector que se promove o fanatismo, o obscurantismo, e
se incita a transferência de bens terrenos para seu proveito. Claro
que aqui, tal como as rémoras que acompanham os tubarões, desejosos
de partilhar os restos do festim; alguns dos que iniciaram o seu
percurso no tal de baixo clero, até conseguem subir degraus na
hierarquia, o que mostra o afastados que, de facto, se colocaram
daquele povo que deveriam servir.
(1)
O
baixo
clero
era constituído por sacerdotes e diáconos, que muitas vezes eram
oriundos de famílias pobres.
(definição
retirada da bibliografia)
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