terça-feira, 9 de maio de 2017

NÃO ERA UM DILEMA



Como se verificou após a contagem dos votos da segunda volta das eleições presidenciais francesas, aquilo que para os menos dispostos a meditar era apresentado como uma escolha entre mau e pior, não tinha cabimento.

Para já o facto de terem ficado como finalistas, após a primeira volta, um partido sem história e personificado por um jovem, considerado como sem experiência de governação, e para mais formado no seio do grande capital, e daí que visto como sendo o representante do capitalismo tão odiado por um importante sector da sociedade francesa, é valorizar as coisas de uma forma excessivamente simplista. Além de que foi a população que, no uso das suas prerrogativas democráticas, dispersaram os votos de uma forma que só poderia beneficiar a tal Frente Nacional, proto-fascista.

Aqueles cidadãos que, como mal menor, optaram pelo voto em branco ou nulo, por rejeitar a abstenção, mas que não se viam como adeptos a nenhum dos finalistas, pertencem ao universo geral dos seguidores do consumismo -que igualmente criticam da boca para fora- se bem que procuram justificar a sua atitude de adesão pelo facto de não existir uma opção válida. Complementarmente deveriam meditar no facto de que, seja qual for o governo que se forme após as eleições parlamentares, fatalmente terão que se apoiar com as entidades que dispõem dos meios económicos de que carecem. Ou seja, queiram ou não, o capitalismo estará presente e decidirá.

Sabem, ou deveriam saber, que a opção da Frente Nacional, criada e orientada pela família Le Pen, assumidamente vocacionada para os extremismos que foram a base dos fascismos europeus do século passado, não teria capacidade para alterar, positivamente, os factores que atualmente condicionam a vida económica e de trabalho de uma fracção considerável da população.

A hipótese que a FN apresentou reiteradamente de sair da Comunidade Europeia, da Globalização e da moeda única, implicaria dificuldades de tal magnitude que só seria factível após um cataclismo, uma guerra destrutiva que afectasse não só as pessoas como os bens imóveis e de produção. É o sonho destes regimes: poder começar de novo. Hipótese que não se pode considerar como interessante depois das décadas de paz que gozou o Ocidente.

Com problemas sociais semelhantes aos da actualidade é que os demagogos dos partidos de extrema direita conseguiram convencer as populações, em situação de desespero, não só a aderir ás suas doutrinas como a lhes darem todos os poderes para preparar conflitos bélicos, entrarem neles com convicção de sarem vencedores, e destruir o que existia para instalar a sua nova ordem. Só que, como recordamos, apesar de estarem apoiados pelo grande capital, estes mesmos “sócios” eram, igualmente, a base económica dos opositores. Podemos dizer que o capitalismo ganhou nos dois lados do tabuleiro. Quem perdeu foi a maioria da população,os que se viram imersos nos conflitos sem hipóteses de agir.


O que se decidia nas eleições francesas é simples. Entregar o poder a representantes do capitalismo, sempre presente, ou optar pelo partido que pertencia, ideologicamente, aos que destruíram a Europa a partir dos anos '30. A escolha, quase que inevitável, tem a vantagem de que, passado o período de vigência do eleito, sempre seria possível, pelo recurso a novo processo eleitoral, não só mudar as caras como, mais importante, conseguir uma modulação positiva das políticas. Pelo contrário, entregar o poder a um partido da extrema direita, ou esquerda pois que neste aspecto são iguais, tem o perigo de ambos estarem vocacionados, e fatalmente activos, no sentido de alterar toda a legislação democrática a fim de perpetuarem o seu poder.

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