Como
se verificou após a contagem dos votos da segunda volta das eleições
presidenciais francesas, aquilo que para os menos dispostos a meditar
era apresentado como uma escolha entre mau e pior, não tinha
cabimento.
Para
já o facto de terem ficado como finalistas, após a primeira volta,
um partido sem história e personificado por um jovem, considerado
como sem experiência de governação, e para mais formado no seio do
grande capital, e daí que visto como sendo o representante do
capitalismo tão odiado por um importante sector da sociedade
francesa, é valorizar as coisas de uma forma excessivamente
simplista. Além de que foi a população que, no uso das suas
prerrogativas democráticas, dispersaram os votos de uma forma que só
poderia beneficiar a tal Frente Nacional, proto-fascista.
Aqueles
cidadãos que, como mal menor, optaram pelo voto em branco ou nulo,
por rejeitar a abstenção, mas que não se viam como adeptos a
nenhum dos finalistas, pertencem ao universo geral dos seguidores do
consumismo -que igualmente criticam da boca para
fora- se bem que procuram justificar a sua atitude de
adesão pelo facto de não existir uma opção válida.
Complementarmente deveriam meditar no facto de que, seja qual for o
governo que se forme após as eleições parlamentares, fatalmente
terão que se apoiar com as entidades que dispõem dos meios
económicos de que carecem. Ou seja, queiram ou não, o capitalismo
estará presente e decidirá.
Sabem,
ou deveriam saber, que a opção da Frente Nacional, criada e
orientada pela família Le Pen, assumidamente vocacionada para os
extremismos que foram a base dos fascismos europeus do século
passado, não teria capacidade para alterar, positivamente, os
factores que atualmente condicionam a vida económica e de trabalho
de uma fracção considerável da população.
A
hipótese que a FN apresentou reiteradamente de sair da Comunidade
Europeia, da Globalização e da moeda única, implicaria
dificuldades de tal magnitude que só seria factível após um
cataclismo, uma guerra destrutiva que afectasse não só as pessoas
como os bens imóveis e de produção. É o sonho destes regimes:
poder começar de novo. Hipótese que não se pode considerar como
interessante depois das décadas de paz que gozou o Ocidente.
Com
problemas sociais semelhantes aos da actualidade é que os demagogos
dos partidos de extrema direita conseguiram convencer as populações,
em situação de desespero, não só a aderir ás suas doutrinas como
a lhes darem todos os poderes para preparar conflitos bélicos,
entrarem neles com convicção de sarem vencedores, e destruir o que
existia para instalar a sua nova ordem. Só que, como recordamos,
apesar de estarem apoiados pelo grande capital, estes mesmos “sócios”
eram, igualmente, a base económica dos opositores. Podemos dizer que
o capitalismo ganhou nos dois lados do tabuleiro. Quem perdeu foi a
maioria da população,os que se viram imersos nos conflitos sem
hipóteses de agir.
O
que se decidia nas eleições francesas é simples. Entregar o poder
a representantes do capitalismo, sempre presente, ou optar pelo
partido que pertencia, ideologicamente, aos que destruíram a Europa
a partir dos anos '30. A escolha, quase que inevitável, tem a
vantagem de que, passado o período de vigência do eleito, sempre
seria possível, pelo recurso a novo processo eleitoral, não só
mudar as caras como, mais importante, conseguir uma modulação
positiva das políticas. Pelo contrário, entregar o poder a um
partido da extrema direita, ou esquerda pois que neste aspecto são
iguais, tem o perigo de ambos estarem vocacionados, e fatalmente
activos, no sentido de alterar toda a legislação democrática a fim
de perpetuarem o seu poder.
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