Admitimos
que para um cidadão normal existe uma dualidade
comportamental. Que nem sempre é apreciada pelo próprio, pelo menos
de imediato. Se bem que é possível que decorrido um tempo sobre os
factos, onde teve uma acção preponderante, faça uma avaliação
acurada, positiva ou negativa. Daí que, a posteriori, pode sentir-se
culpado ou bater palmas a ele próprio.
Dito
de outra forma, aquilo que podemos considerar como normal, é que o
comportamento do indivíduo raramente segue o mesmo rumo, em
permanência. Os desvios e escorregadelas são sempre possíveis.
Esta ambiguidade comportamental é uma característica tão geral que
inclusive adquiriu o estatuto de uma verdade insofismável, e que
está gravada na linguagem comum ao afirmar que jamais
se pode agradar a todos ao mesmo tempo.
No
catecismo católico, pelo menos naquele que me transmitiram quando
era um infante, referia-se que estávamos acompanhados por um anjo
bom e, em simultâneo, por um anjo mau, mais propriamente um
diabinho, que tentava influenciar para um mau comportamento. Ou seja,
a entidade que tomou a seu cargo orientar para a bondade indiscutível
a humanidade em geral, ou os seus crentes em particular, reconhece
que não é um dado adquirido ter conseguido levar todo o rebanho no
bom caminho. A culpa deste falhanço está no supremo Criador quando
decidiu, por decisão própria, dar ao homem a capacidade da livre
escolha, ou opção. Naquele dia aziago abriu todos os caminhos para
pecar. Em compensação montou o inferno para castigar, eternamente,
aqueles que escolheram o mau caminho. Como não tenho receio de pecar
opino que este comportamento divino é uma velhacaria
imperdoável.
Aliás,
esta pressão em sentidos opostos é comum a muitas culturas, mesmo
naquelas em que a qualificação das acções humanas não é
uniforme. Um exemplo na literatura ocidental, conhecido por todos,
sejam crianças ou adultos, -inclusive
os adúlteros,que são uma classe aparte, mas com muitos adeptos-
é a história do boneco Pinóquio, onde o autor Carlo
Collodi em 1883, incluiu as duas
personagens influentes no boneco animado, um bom e outro mau,
materializados num grilo falante (como
a famosa picareta falante)
cheio de bons conselhos mas sem poder de convicção, e um raposo
esperto e malandro.
Recordei
que na linguagem coloquial os indivíduos que se esforçam, com
denodo, a ser sempre notavelmente bons, e assim auferirem dum
estatuto de santo sem altar, nem sempre são apreciados pela malta no
grau excelso que eles pretendem. Esta desconformidade é fruto de
que, a cidadania em geral, tem as suas reservas quanto a ser possível
manter tanta bondade em permanência. Daí que os qualifica como
santos
de gesso ou de pau carunchoso
o que equivale a lhes dar um voto de desconfiança.
Já
com aqueles que deram sobejadas provas de má índole, vemos que
também estes não são vistos sob o mesmo prisma por todos os
cidadãos que os conhecem. Se optarmos pelos que o desprezam são
vários, e de grau de agressividade diferente, os epítetos que lhes
são dedicados. desde velhaco a falso, patife, biltre,canalha,
burlão, traste, devasso, tratante, intrujão, ladrão, bandido e
suas múltiplas variantes.
P.S.
O
que escrevi está bastante longe do esquema mental que trazia
preparado. Era bastante mais ácido. Preferi não arriscar na quase
certa possibilidade de molestar os mais respeitosos (cumprimentos)
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