terça-feira, 2 de maio de 2017

SEMPRE BONS OU SEMPRE MAUS


Admitimos que para um cidadão normal existe uma dualidade comportamental. Que nem sempre é apreciada pelo próprio, pelo menos de imediato. Se bem que é possível que decorrido um tempo sobre os factos, onde teve uma acção preponderante, faça uma avaliação acurada, positiva ou negativa. Daí que, a posteriori, pode sentir-se culpado ou bater palmas a ele próprio.

Dito de outra forma, aquilo que podemos considerar como normal, é que o comportamento do indivíduo raramente segue o mesmo rumo, em permanência. Os desvios e escorregadelas são sempre possíveis. Esta ambiguidade comportamental é uma característica tão geral que inclusive adquiriu o estatuto de uma verdade insofismável, e que está gravada na linguagem comum ao afirmar que jamais se pode agradar a todos ao mesmo tempo.

No catecismo católico, pelo menos naquele que me transmitiram quando era um infante, referia-se que estávamos acompanhados por um anjo bom e, em simultâneo, por um anjo mau, mais propriamente um diabinho, que tentava influenciar para um mau comportamento. Ou seja, a entidade que tomou a seu cargo orientar para a bondade indiscutível a humanidade em geral, ou os seus crentes em particular, reconhece que não é um dado adquirido ter conseguido levar todo o rebanho no bom caminho. A culpa deste falhanço está no supremo Criador quando decidiu, por decisão própria, dar ao homem a capacidade da livre escolha, ou opção. Naquele dia aziago abriu todos os caminhos para pecar. Em compensação montou o inferno para castigar, eternamente, aqueles que escolheram o mau caminho. Como não tenho receio de pecar opino que este comportamento divino é uma velhacaria imperdoável.

Aliás, esta pressão em sentidos opostos é comum a muitas culturas, mesmo naquelas em que a qualificação das acções humanas não é uniforme. Um exemplo na literatura ocidental, conhecido por todos, sejam crianças ou adultos, -inclusive os adúlteros,que são uma classe aparte, mas com muitos adeptos- é a história do boneco Pinóquio, onde o autor Carlo Collodi em 1883, incluiu as duas personagens influentes no boneco animado, um bom e outro mau, materializados num grilo falante (como a famosa picareta falante) cheio de bons conselhos mas sem poder de convicção, e um raposo esperto e malandro.

Recordei que na linguagem coloquial os indivíduos que se esforçam, com denodo, a ser sempre notavelmente bons, e assim auferirem dum estatuto de santo sem altar, nem sempre são apreciados pela malta no grau excelso que eles pretendem. Esta desconformidade é fruto de que, a cidadania em geral, tem as suas reservas quanto a ser possível manter tanta bondade em permanência. Daí que os qualifica como santos de gesso ou de pau carunchoso o que equivale a lhes dar um voto de desconfiança.

Já com aqueles que deram sobejadas provas de má índole, vemos que também estes não são vistos sob o mesmo prisma por todos os cidadãos que os conhecem. Se optarmos pelos que o desprezam são vários, e de grau de agressividade diferente, os epítetos que lhes são dedicados. desde velhaco a falso, patife, biltre,canalha, burlão, traste, devasso, tratante, intrujão, ladrão, bandido e suas múltiplas variantes.


P.S. O que escrevi está bastante longe do esquema mental que trazia preparado. Era bastante mais ácido. Preferi não arriscar na quase certa possibilidade de molestar os mais respeitosos (cumprimentos)

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