sexta-feira, 5 de maio de 2017

OLHAMOS E NÃO VEMOS


Mais vergonhoso até, pois olhamos, ouvimos, sabemos e desviamos a atenção enquanto assobiamos, nem que seja metafóricamente. Com estas atitudes, desprezando os reiterados avisos que nos são dados acerca da destruição do ambiente em que no sentimos tão agradados, mesmo satisfeitos, com as benesses envenenadas que nos proporciona, obviamente pagando, a brilhante sociedade de consumo.

Hoje apareceu noticiado nalguns dos jornais diários, com uma unanimidade pouco habitual dada a seriedade da denúncia, a notícia, de agência, que diz em resumo: Foram analisadas várias amostras de sal de cozinha com o propósito de verificar se as inevitáveis impurezas detectadas eram, potencialmente, prejudiciais para a nossa saúde. Viram que em quase todas as havia partículas de matérias plásticas.

Ou seja, não nos basta saber que os animais confundem os plásticos que invadem o seu ambiente, e os ingerem, com consequências fatais. E que inclusive aquelas embalagens que nos anunciam ser biodegradáveis nunca ultrapassam de ficar reduzidos a partículas mais ou menos grosseiras, sem que a estrutura sintética desapareça totalmente.

Até aqui podem ter lido como mais um aviso de um lunático que teima em prever o futuro tenebroso, o maremoto, a subida do nível das águas do mar, o aquecimento global, o degelo das calotes polares, etc. Já ouvimos tantas vezes estes alarmes que, tal como sucede na história do Pedro e o Lobo, não ligamos nada.

PIOR DO QUE NÃO LIGAR É O COLABORAR.

Na nossa casa, onde residimos dois velhos, sem grandes necessidades nem excessiva vocação para cair no consumismo, que confesso ser muito difícil resistir, encarrego-me de separar as embalagens de plástico, num grande saco que, semanalmente, vou descarregar no contentor existente num espaço escolhido pela entidade que decide e que implica percorrer uns 500 metros com três sacas: uma com as embalagens, outra com papel e cartão e ainda outra com frascos e garrafas de vidro. É notável o volume e peso que dois velhos conseguem acumular em poucos dias!

Pensar que com esta recolha e entrega estamos livres de responsabilidades é uma ilusão sem fundamento. Induzida pelos que comandam o consumo. Sabe-se que, as centrais de tratamento de lixo, não conseguem seleccionar e empacotar todo o material que lhes chega. O excedente vai, sem problemas de consciência ecológica, com destino a ser incinerado, a um dos chamados aterros sanitários (que equivale a esconder o lixo para debaixo do tapete), ser enviado para países onde, pagando, aceitam acolher o lixo dos outros, ou outra não solução de deitar tudo para o mar, como se a água salgada fosse o esgoto onde tudo pode ser lançado. Também existe a solução, pessoal e incívica de largar as embalagens em qualquer lado, seja na cidade ou no campo e praia.

Dar uma volta num super ou hiper nos dá a ideia de como somos manipulados, não só para consumir como para aderir, satisfeitos, à distribuição de tudo aquilo que, anteriormente, se comprava a granel agora “devidamente embalado” em recipientes estudados por desenhadores, sempre tentando ser originais com o que eu chamo de “variações à guitarra”. Já não existem taras a devolver, reutilizáveis. Mesmo os produtos vegetais, hortícolas ou frutícolas, quando não estão previamente doseados e marcados com o seu preço, nos são entregues em sacos de plástico, que quase sempre irão para para o lixo doméstico.

A solução, mais aparente do que efectiva, de nos venderem umas modernas alcofas, de plástico, a fim de evitar os sacos, sempre com a publicidade da casa, onde se reuniam as peças depois de passar pela caixa, não resolve minimamente o problema. E os cidadãos estão tão viciados no esquema imposto que nem sequer pensam numa possível alternativa.

Apesar de saber que o comprador final: nós todos, é quem paga as embalagens que deitamos fora, os governantes, caso tenham um mínimo de consciência ambiental, deveriam penalizar, fortemente, as vendas com embalagens não recuperáveis, logo no produtor, armazenista ou embalador. Cada embalagem deveria ser fortemente taxada em origem. O cliente final, que sempre pagaria este aumento de custos, clamaria aos céus, e exigiria aumentos de salários para poder continuar no seu ritmo de compras. Mas poderia repercutir num decréscimo do consumismo. Nesta altura não parece ser factível, a não ser indirectamente, ao estilo do “poluidor pagador”.


As únicas embalagens, não aceites na devolução, que admito ter um reciclado importante são as garrafas de vidro e as latas de alumínio, porque ambas são novas matérias primas valorizáveis. Mas, por exemplo, aqueles simpáticos pacotes de leite, que destino podem ter, além de serem triturados, queimados ou enterrados?

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