Mais
vergonhoso até, pois olhamos, ouvimos, sabemos e desviamos a atenção
enquanto assobiamos, nem que seja metafóricamente. Com estas
atitudes, desprezando os reiterados avisos que nos são dados acerca
da destruição do ambiente em que no sentimos tão agradados, mesmo
satisfeitos, com as benesses envenenadas que nos proporciona,
obviamente pagando, a brilhante sociedade de consumo.
Hoje
apareceu noticiado nalguns dos jornais diários, com uma unanimidade
pouco habitual dada a seriedade da denúncia, a notícia, de agência,
que diz em resumo: Foram analisadas várias amostras de sal de
cozinha com o propósito de verificar se as inevitáveis impurezas
detectadas eram, potencialmente, prejudiciais para a nossa saúde.
Viram que em quase todas as havia partículas de matérias
plásticas.
Ou
seja, não nos basta saber que os animais confundem os plásticos que
invadem o seu ambiente, e os ingerem, com consequências fatais. E
que inclusive aquelas embalagens
que nos anunciam ser biodegradáveis
nunca ultrapassam de ficar reduzidos a partículas mais ou menos
grosseiras, sem que a estrutura sintética desapareça totalmente.
Até
aqui podem ter lido como mais um aviso de um lunático que teima em
prever o futuro tenebroso, o maremoto, a subida do nível das águas
do mar, o aquecimento global, o degelo das calotes polares, etc. Já
ouvimos tantas vezes estes alarmes que, tal como sucede na história
do Pedro e o Lobo,
não ligamos nada.
PIOR
DO QUE NÃO LIGAR É O COLABORAR.
Na
nossa casa, onde residimos dois velhos, sem grandes necessidades nem
excessiva vocação para cair no consumismo, que confesso ser muito
difícil resistir, encarrego-me de separar as embalagens de plástico,
num grande saco que, semanalmente, vou descarregar no contentor
existente num espaço escolhido pela entidade que decide e que
implica percorrer uns 500 metros com três sacas: uma com as
embalagens, outra com papel e cartão e ainda outra com frascos e
garrafas de vidro. É notável o volume e peso que dois velhos
conseguem acumular em poucos dias!
Pensar
que com
esta recolha e entrega estamos livres de responsabilidades
é uma ilusão sem fundamento. Induzida pelos que comandam o consumo.
Sabe-se que, as centrais de tratamento de lixo,
não conseguem seleccionar e empacotar todo o material que lhes
chega. O excedente vai, sem problemas de consciência ecológica, com
destino a ser incinerado, a um dos chamados aterros
sanitários (que
equivale a esconder o lixo para debaixo do tapete), ser
enviado para países onde, pagando, aceitam acolher o lixo dos
outros, ou outra não solução de deitar tudo para o mar, como se a
água salgada fosse o esgoto onde tudo pode ser lançado. Também
existe a solução, pessoal e incívica de largar as embalagens em
qualquer lado, seja na cidade ou no campo e praia.
Dar
uma volta num super ou hiper nos dá a ideia de como somos
manipulados, não só para
consumir como para aderir, satisfeitos, à distribuição de tudo
aquilo que, anteriormente, se comprava a granel agora “devidamente
embalado” em recipientes estudados por desenhadores, sempre
tentando ser originais com o que eu chamo de “variações à
guitarra”. Já não existem taras a devolver, reutilizáveis. Mesmo
os produtos vegetais, hortícolas ou frutícolas, quando não estão
previamente doseados e marcados com o seu preço, nos são entregues
em sacos de plástico, que quase sempre irão para para o lixo
doméstico.
A
solução, mais aparente do que efectiva, de nos venderem
umas modernas alcofas, de plástico,
a fim de evitar os sacos, sempre com a publicidade da casa, onde se
reuniam as peças depois de passar pela caixa, não resolve
minimamente o problema. E os cidadãos estão tão viciados no
esquema imposto que nem sequer pensam numa possível alternativa.
Apesar
de saber que o comprador final: nós todos, é quem paga as
embalagens que deitamos fora, os governantes, caso tenham um mínimo
de consciência ambiental, deveriam penalizar, fortemente, as vendas
com embalagens não recuperáveis, logo no produtor, armazenista ou
embalador. Cada embalagem deveria ser fortemente taxada em origem. O
cliente final, que sempre pagaria este aumento de custos, clamaria
aos céus, e exigiria aumentos de salários para poder continuar no
seu ritmo de compras. Mas poderia repercutir num decréscimo do
consumismo. Nesta altura não parece ser factível, a não ser
indirectamente, ao estilo do “poluidor pagador”.
As
únicas embalagens, não aceites na devolução, que admito ter um
reciclado importante são as garrafas de vidro e as latas de
alumínio, porque ambas são novas matérias primas valorizáveis.
Mas, por exemplo, aqueles simpáticos pacotes de leite, que destino
podem ter, além de serem triturados, queimados ou enterrados?
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