Escrever
sobre este assunto, que indubitavelmente é de interesse europeu, é
quase que uma prova de tontice quando quem se mete nele não está
por dentro da sociedade francesa e do ambiente político e social que
por lá inflama a mente de muitos eleitores.
Mesmo
assim, e estando as opções reduzidas a duas possibilidades, ao
estilo de atirar uma moeda ao ar e decidir sem raciocinar, é fatal
que neste cantinho da Europa, um “cul de sac”, cheguem as ondas
de choque, fatalmente prejudiciais para a nossa, já de por si, fraca
sociedade civil.
Só
quero recordar que uma possível entrega do poder às forças,
nitidamente vocacionadas para o extremismo ditatorial fascista, que
tanto Mussolini como Hitler atingiram o poder democraticamente,
por uma maioria nas urnas, dada por seus apoiantes e por muitos
ingénuos que acreditaram nas suas canções
do bandido.
Ambos
tomaram posse vestidos com cuidado, sem fardas militares, com casaca
e chapéu alto, mas não tardaram nada em dar ordens ás suas
milícias para-militares, que com os seus métodos intimidatórios,
perseguições, agressões e até assassinatos, impuseram regimes que
nada tinham em comum com a democracia que lhes abriu as portas.
Para
quem dedicou algum tempo lendo atentamente o comportamento da
sociedade civil francesa a partir dos anos '30 do século passado,
reconhece que sempre existiu um forte sentimento anti-semita, e que
muitos colaboraram com os nazis alemães durante a ocupação. Uns
descaradamente e outros com fingida neutralidade com o marechal
Petain no papel de fantoche convicto. Daí que não nos podemos
admirar que a Le Pen venha a conseguir uma votação alarmante, não
só conseguida pelos seus aderentes de sempre mas daqueles que julgam
poder dar um voto de castigo aos governos anteriores.
Não
discutimos a justeza do sentimento de frustração dos cidadãos
democratas franceses. Aqui também deve existir, mas em menor
percentagem dada a pouca participação na política de um importante
sector, pelo menos numericamente, da nossa sociedade. Uma abstenção
que só serve para favorecer a continuação dos abusadores e
gananciosos. O difícil, para os visionários do futuro que pode cair
sobre a França, é conseguir ilustrar os votantes que reagem por
impulso, sem dar valor ao que lhes pode cair em cima.
Mesmo
que as tropas de choque da Frente Nacional não entrem em actividade
de imediato, a história nos mostra que uma maioria, quando recai em
pessoas “iluminadas” ou obcecadas, propícia a que decida impor
as suas ideias pela força. Daí para o desastre é só o tal salto
de uma cobra.
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