terça-feira, 2 de maio de 2017

AS ELEIÇÕES FRANCESAS


Escrever sobre este assunto, que indubitavelmente é de interesse europeu, é quase que uma prova de tontice quando quem se mete nele não está por dentro da sociedade francesa e do ambiente político e social que por lá inflama a mente de muitos eleitores.

Mesmo assim, e estando as opções reduzidas a duas possibilidades, ao estilo de atirar uma moeda ao ar e decidir sem raciocinar, é fatal que neste cantinho da Europa, um “cul de sac”, cheguem as ondas de choque, fatalmente prejudiciais para a nossa, já de por si, fraca sociedade civil.

Só quero recordar que uma possível entrega do poder às forças, nitidamente vocacionadas para o extremismo ditatorial fascista, que tanto Mussolini como Hitler atingiram o poder democraticamente, por uma maioria nas urnas, dada por seus apoiantes e por muitos ingénuos que acreditaram nas suas canções do bandido.

Ambos tomaram posse vestidos com cuidado, sem fardas militares, com casaca e chapéu alto, mas não tardaram nada em dar ordens ás suas milícias para-militares, que com os seus métodos intimidatórios, perseguições, agressões e até assassinatos, impuseram regimes que nada tinham em comum com a democracia que lhes abriu as portas.

Para quem dedicou algum tempo lendo atentamente o comportamento da sociedade civil francesa a partir dos anos '30 do século passado, reconhece que sempre existiu um forte sentimento anti-semita, e que muitos colaboraram com os nazis alemães durante a ocupação. Uns descaradamente e outros com fingida neutralidade com o marechal Petain no papel de fantoche convicto. Daí que não nos podemos admirar que a Le Pen venha a conseguir uma votação alarmante, não só conseguida pelos seus aderentes de sempre mas daqueles que julgam poder dar um voto de castigo aos governos anteriores.

Não discutimos a justeza do sentimento de frustração dos cidadãos democratas franceses. Aqui também deve existir, mas em menor percentagem dada a pouca participação na política de um importante sector, pelo menos numericamente, da nossa sociedade. Uma abstenção que só serve para favorecer a continuação dos abusadores e gananciosos. O difícil, para os visionários do futuro que pode cair sobre a França, é conseguir ilustrar os votantes que reagem por impulso, sem dar valor ao que lhes pode cair em cima.


Mesmo que as tropas de choque da Frente Nacional não entrem em actividade de imediato, a história nos mostra que uma maioria, quando recai em pessoas “iluminadas” ou obcecadas, propícia a que decida impor as suas ideias pela força. Daí para o desastre é só o tal salto de uma cobra.

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