Ainda
o Presidente do Conselho de Ministros -que era a designação do
agrado de António Salazar- estava em plena posse das suas
faculdades mentais e ditatoriais contavam uma história, apócrifa
como é hábito serem, na qual se relatava da visita de um grupo de
escuteiros ou alunos de uma escola, tanto faz, que conseguiram ser
recebidos pelo Professor. Provavelmente eram alunas do Instituto de
Odivelas, naquele convento que, nos tempos da monarquia, ganhou
merecida fama de ser antro de encontros de terceiro grau.
Os
minutos disponíveis eram poucos, dadas as múltiplas tarefas e
ocupações do P.M., daí que aquele menino, ou menina, que fora
escolhida para se dirigir à respeitável personalidade desse um
passo em frente para lhe oferecer uma prenda, numa caixa embrulhada
em papel dourado e com um fita encimada com um formoso laçarote.
Salazar agradeceu e, como pessoa bem educada, quis desembrulhar para
ver de que oferta se tratava.
De
imediato o Professor disse, que sem desprezar nem ofender as
crianças, não podia aceitar aquela prenda. Uma bonita tartaruga de
terra, das que antigamente povoavam a zona meridional da península.
A garotada ficou terrivelmente triste. Alguns ainda derramaram uma
lágrimas que não conseguiram reter. Foi tanta a ilusão com que
juntaram as suas economias para poder comprar esta prenda!
Vendo
o desconsolo do grupo, Salazar sentiu a necessidade de se justificar
dizendo: Tenho que confessar que me afeiçoo muito aos animais de
companhia, e quando morrem de velhice sofro um pesado desgosto. Por
esta razão nunca quis ter cães, gatos, papagaios ou nenhum animal
ao qual me possa habituar.
Ontem
encontrei-me perante uma situação potencialmente parecida.
Ofereceram-me, com amizade e por saber que nesta derradeira fase da
vida terrena dedico tempo e esmero, dentro das minhas fracas
capacidades, na plantação de viveiros e canteiros, sem ideia de vir
a concorrer ao certame dos mais cuidados pequenos jardins caseiros.
No intuito de acompanhar o meu hobby, deram-me
um projecto de árvore, que pode crescer num exemplar exótico
de grande porte. Agradeci comovido e ainda hoje plantei aquele
vegetal em estado vegetativo, atendendo às recomendações e
indicações que a acompanhavam, numa longa série de idiomas:
Francês; Inglês; Holandês; Espanhol; Alemão; Italiano; Russo;
Coreano; Japonês e Árabe (por esta ordem) Tudo bem explicadinho.
Casualmente,
ou não, a árvore em questão é um imbondeiro, o nome mais
corrente em Portugal, mas que no folheto que a acompanhava é
identificada como um boabab,
também se conhece como árvore
garrafa, e do qual é
possível encontrar alguns exemplares em jardins públicos e
colecções botânicas.
Até
aqui tudo bem. O alarme disparou nas orientações de como devia ser
tratada esta árvore, terminando com a recomendação de que
dando-lhe os cuidados indicados pode transitar de geração em
geração sucessivamente pois que pode
viver até uns 2000 anos.
Por esta razão o boabab é conhecido como a árvore da
longevidade.
Só
de pensar nas responsabilidades que irei transferir aos meus
descendentes, caso a árvore não medre -que é uma hipótese
plausível- sinto um enorme peso sobre mim.
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