domingo, 28 de maio de 2017

ISTO JÁ NÃO É VIDA


Não nos basta a alegria que nos quer inculcar o Primeiro Ministro, não eleito mas legitimamente empossado, um bocado a martelo, como dizem que eram os vinhos que se engarrafonavam (em garrafões empalhados com vime e depois com plástico) no Poço do Bispo. Com estes anúncios, os três F e mais a hipótese do sempre sorridente, com o piano completo à mostra, conhecido por Centeno ser seleccionado para se juntar a outros PS's que já se instalaram em Bruxelas, deveríamos, como diz um cronista, citando o PR, sentir que estávamos mais altos, pelo menos uns 20 cm suplementares.

Quando olharmos para a nossa imagem no espelho é pertinente sentir o nosso ego elevar-se como um suflé, ou em opção tal como um pudim Molotoffe, dos que não perdem altura repentinamente, como já vi acontecer.

Tudo isto é maravilhoso. São coisas que excedem tudo aquilo a que estávamos habituados, no penar quotidiano de muitos cidadãos deste jardim. O que nos ensinaram ao longo de décadas limitava-se a insistir em que tudo isto é triste, tudo isto é fado! Agora, por artes mágicas, ou truques de contabilidade criativa, já somos novamente ricos. Muito mais do que se imaginou (na cabeça de muita gentinha) quando nos deram entrada no clube da moeda única. É só equiparável ao que nos caiu da cornucópia dos bens terreais, quando começou a chegar oiro e diamantes do Brasil.

Só os mais cépticos, aqueles que não merecem ser respeitados, nem ouvidos, é que duvidam de tanta fartura. Não devem entender que é pertinente, sem discutir, o atender à norma do magister dixit.

Desta feita não vou tentar rebater este panorama oficial. O meu problema é outro, mais grave e que cada dia que passa se acentua, como sucede com aquelas doenças más, cuja existência nos orienta no sentido de aceitar da existência de doenças boas, algo que, em princípio nos parece uma incongruência, a não ser que neste apartado se coloquem as bexigas doidas, as constipações e os entorses causados pelas irregularidades da calçada à portuguesa. De que tanto nos orgulhamos e agradecem os endireitas e massagistas diplomados.

O meu problema, que me traz angustiado, é a possibilidade, remota mas não desprezível, de que o nosso actual Presidente da República, aproveitando que a nossa humilde morada ficava-lhe no caminho para algures, se lembre de tocar à campainha e tenha que lhe dar accesso a este domicílio.

Como devo estar preparado, arreado, para o receber condignamente? Já vimos que faz gala de conviver com as gentes que militam nos ranchos folclóricos. O problema é que não disponho de vestimenta adequada. Será que devo procurar adquirir uma fardeta de pauliteiro de Miranda? Ou de membro de um rancho de cantares alentejanos, com chapéu, lenço ao pescoço, colete, cajado e uma lancheira de cortiça, além de treinar o bambalear a sós? Claro que há mais opções, tais como vestir segundo as regras dos antigos pescadores da Nazaré. Ou de um pastor das terras transmontanas. Ou de multador da EMEL. Existem muitas opções, mas todas elas implicam ter que conseguir uma máscara credível. Qual a melhor?

Sendo já um citadino, mesmo que morando num município da dita Grande Lisboa, será pertinente estar todo o santo dia envergando um fato completo, aquilo que no Brasil se chama terno e que aqui agora se deve confundir com um acontecimento? Pode ser uma opção. Mas que colide com a minha tentação, quase que diária, de jardinar usando roupa já veterana, com a qual não me posso apresentar perante o Professor Marcelo (ainda bem que não caí na tentação de escrever martelo!).

Gostaria que os meus caros leitores (os três ou quatro que, a falta de melhor, entram neste espaço) me enviassem umas dicas, das boas, -dispenso as foleiras- para poder estar preparado para a situação que pende sobre mim como a espada de Dâmócles.


Já agora, que estou com a mão na argamassa, aproveito o ensejo (esta é daquelas palavras que tinha na reserva especial para ser usada numa ocasião que a merecesse) para os cumprimentar, de coração aberto. Mas atenção, isto não quer dizer que o ofereça ao tal rapaz da cantiga vencedora! Com as coroas que ganhou pode comprar um órgão destes, de boa qualidade e com garantia, num enorme país do Oriente, -que cautelosamente não identifico- mas que nos vende tudo e compra os nossos anéis.

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