Não
nos basta a alegria que nos quer inculcar o Primeiro Ministro, não
eleito mas legitimamente empossado, um bocado a martelo, como dizem
que eram os vinhos que se engarrafonavam (em garrafões empalhados
com vime e depois com plástico) no Poço do Bispo. Com estes
anúncios, os três F e mais a hipótese do sempre sorridente, com o
piano completo à mostra, conhecido por Centeno ser seleccionado para
se juntar a outros PS's que já se instalaram em Bruxelas,
deveríamos, como diz um cronista, citando o PR, sentir que estávamos
mais altos, pelo menos uns 20 cm suplementares.
Quando
olharmos para a nossa imagem no espelho é pertinente sentir o nosso
ego elevar-se como um suflé, ou em opção tal como um pudim
Molotoffe, dos que não perdem altura repentinamente, como já vi
acontecer.
Tudo
isto é maravilhoso. São coisas que excedem tudo aquilo a que
estávamos habituados, no penar quotidiano de muitos cidadãos deste
jardim. O que nos ensinaram ao longo de décadas limitava-se a
insistir em que tudo isto é triste, tudo isto é fado! Agora,
por artes mágicas, ou truques de contabilidade criativa, já somos
novamente ricos. Muito mais do que se imaginou (na cabeça de muita
gentinha) quando nos deram entrada no clube
da moeda única.
É só equiparável ao que nos caiu da cornucópia dos bens terreais,
quando começou a chegar oiro e diamantes do Brasil.
Só
os mais cépticos, aqueles que não merecem ser respeitados, nem
ouvidos, é que duvidam de tanta fartura. Não devem entender que é
pertinente, sem discutir, o atender à norma do magister
dixit.
Desta
feita não vou tentar rebater este panorama oficial. O meu problema é
outro, mais grave e que cada dia que passa se acentua, como sucede
com aquelas doenças
más, cuja
existência nos orienta no sentido de aceitar da existência de
doenças
boas,
algo que, em princípio nos parece uma incongruência, a não ser que
neste apartado se coloquem as bexigas doidas, as constipações e os
entorses causados pelas irregularidades
da calçada à portuguesa. De
que tanto nos orgulhamos e agradecem os endireitas e massagistas
diplomados.
O
meu problema, que me traz angustiado, é a possibilidade, remota mas
não desprezível, de que o nosso actual Presidente da República,
aproveitando que a nossa humilde morada ficava-lhe no caminho para
algures, se lembre de tocar à campainha e tenha que lhe dar accesso
a este domicílio.
Como
devo estar preparado, arreado, para o receber condignamente? Já
vimos que faz gala de conviver com as gentes que militam nos ranchos
folclóricos. O problema é que não disponho de vestimenta adequada.
Será que devo procurar adquirir uma fardeta de pauliteiro de
Miranda? Ou de membro de um rancho de cantares alentejanos, com
chapéu, lenço ao pescoço, colete, cajado e uma lancheira de
cortiça, além de treinar o bambalear a sós? Claro que há mais
opções, tais como vestir segundo as regras dos antigos pescadores
da Nazaré. Ou de um pastor das terras transmontanas. Ou de multador
da EMEL. Existem muitas opções, mas todas elas implicam ter que
conseguir uma máscara credível. Qual a melhor?
Sendo
já um citadino, mesmo que morando num município da dita Grande
Lisboa, será pertinente estar todo o santo dia envergando um fato
completo, aquilo que no Brasil se chama terno e que aqui agora se
deve confundir com um acontecimento? Pode ser uma opção. Mas que
colide com a minha tentação, quase que diária, de jardinar usando
roupa já veterana, com a qual não me posso apresentar perante o
Professor Marcelo (ainda
bem que não caí na tentação de escrever martelo!).
Gostaria
que os meus caros leitores (os
três ou quatro que, a falta de melhor, entram neste espaço)
me enviassem umas dicas, das boas, -dispenso as foleiras- para poder
estar preparado para a situação que pende sobre mim como a
espada de Dâmócles.
Já
agora, que estou com a mão na argamassa, aproveito o ensejo (esta
é daquelas palavras que tinha na reserva especial para ser usada
numa ocasião que a merecesse)
para os cumprimentar, de coração aberto. Mas atenção, isto não
quer dizer que o ofereça ao tal rapaz da cantiga vencedora! Com as
coroas que ganhou pode comprar um órgão destes, de boa qualidade e
com garantia, num enorme país do Oriente, -que
cautelosamente não identifico-
mas que nos vende tudo e compra os nossos anéis.
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