domingo, 30 de abril de 2017

SOCIALISMO OU SOCIALISMOS ?



Parece insólito, mas ainda hoje há pessoas que colocam este, digamos que sentimento de solidariedade entre humanos, em pontos muito afastados de uma escala, associada a partidos políticos, onde cabe tudo e ainda sobra espaço para muitas fantasias. Se nos dedicarmos a folhear o dicionário, dando como certo que as definições que lá se colocaram mereceram uma acurada análise antes de as considerar como correctas, aquilo que lá aparece pode admitir-se como uma justificação, um pouco simplista e por isso passível de diferentes interpretações.

Social pertencente ou respeitante à sociedade; sociável; diz-se dos problemas que visam à organização e à satisfação das necessidades dos indivíduos em sociedade.

Socialismo sistema político-económico que preconiza, respectivamente, a direcção e domínio do Estado nos bens de produção e consumo, e uma nova distribuição das riquezas com a abolição do capital; doutrina que defende o predomínio da sociedade civil sobre o indivíduo. (1)

Apesar destas definições “oficiais”, que certamente foram sendo moduladas em conformidade com o tempo e a época, aquilo que se verifica é que, sempre e com o intuito de mascarar ou agradar aos que se deseja, interpretem a solidariedade, inerente ao socialismo mais puro, a fim de que adiram ao ideário do seu partido (ideário que raramente é especificado para conhecimento geral da população) Por isso encontramos programas e interpretações capciosas em grupos pertencentes a patamares de comportamento bastante diferentes entre si, quando não nitidamente opostos.

Para nos ajudar a ver como se usam estes termos, interpretando-os como lhes convier, recordemos que a União Soviética, onde predominou uma ditadura “do proletariado”, que sacrificou o seu próprio povo e outros onde conseguiu entrar, sem o mínimo respeito. Apresentava-se nos organismos internacionais com o nome, em siglas, de URSS que corresponde a União de Repúblicas Socialistas Soviéticas. Paralelamente, na Alemanha Hitleriana pontificava o regime NAZI, que por extenso diziam ser Nacional Socialista, onde a desigualdade de trato para os seus nacionais foi bem notória.

E não foram só estes partidos totalitários aqueles que se auto-qualificaram de sociais. Na actualidade temos uma série de partidos políticos onde o termo socialismo associado aos termos “democrata e cristão” não garantem nada sério, pois neles se acoitam os membros mais conservadores da sociedade. visceralmente com pouca vocação para beneficiar os cidadãos das camadas mais carenciadas.

Ou seja, apesar de que, segundo eu julgo saber, a maioria das pessoas entendem como correcto aplicar um pensamento social, na doutrina que deve prevalecer, ou deveria, na tal doutrina social da Igreja, e que corresponde ao sentimento de conseguir encontrar uma via de trato humanista e igualitário para todos os membros da sociedade, quando se chega ao momento de agir o tentar igualar é uma utopia, pois que, como reza o ditado Entre dizer e fazer, muita coisa há a meter, ou o seu equivalente Entre ricos e pobres não há parentesco. Ou seja, nem sempre é factível uma repartição equitativa de bens terrenos. Mesmo assim sempre vão surgindo oportunidades de ir remediando injustiças e poder aplicar as noções mais puras e altruístas do socialismo real.

Ou seja, pendurando este parágrafo nas duas últimas palavras anteriormente escritas, não é correcto, nem corresponde à realidade dos humanos, entender que o socialismo militante, o dos elementos extremistas de partidos ainda com sentimento totalitário, que não aprenderam da sensatez que existe naquele aforismo, que se cita, quase sempre jocosamente ou com maldade e denúncia, de que somos todos iguais, mas uns são mais iguais do que outros.

Não é necessário referir que existem diferenças intrínsecas e que elas podem ocasionar desigualdades nas oportunidades que o percurso de vida de cada um apresenta. De facto todos nascemos nus, mas a partir daí uns crescerão mais do que outros; uns ficarão magros ou esbeltos enquanto que outros terão tendência para ser robustos; uns serão ágeis no pensamento enquanto outros se mostrarão lerdos; uns gastadores e outros amealhadores; haverá faladores e silenciosos por vocação; etc. Um sem fim de modulações que nos diferenciam e que podem, fatalmente, conduzir a que se situem em patamares diferentes na sociedade. As tentativas de igualar por baixo, sempre se mostraram desastrosas. Tal não implica o tentar remediar, socialmente, e tanto quanto nos for possível, agir positivamente nos aspectos que estejam à mão de cada um de nós.


(1) estou usando a 5ª edição, sem data de impressão, mas que segue as normas de ideologia do Estado Novo. O sublinhado é meu, e destaquei porque, a meu ver, subtilmente, contraria a rigidez programática precedente.


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