PEDI
A NACIONALIDADE PARA PAGAR IMPOSTOS Pilar
del Rio
Viúva
de José Saramago (pseudónimo literário e “de guerra”) é uma
personagem que, durante bastantes anos, com a qual não simpatizava,
mesmo de longe pois que nunca a vi de perto, nem desejava tal
encontro. Do pouco que conhecia criei a noção de que foi muito
volúvel, apesar de que todos os humanos o sejam, nem que seja por
vocação, não realizada, fosse por falta de oportunidade ou por
simples covardia. Além disso a qualifiquei de oportunista
por se aproximar de Saramago por sentir que ali havia seiva poderosa,
e que, como se verificou posteriormente, ela tinha os conhecimentos
na imprensa e intelectualidade espanholas capazes de o ajudar
a criar um cartel num país onde não existiam os anticorpos criados,
politicamente na sociedade do seu Pais de origem. Preconceitos ainda
fortemente activos nas gerações mais adultas.
Depois
de ler a sua entrevista no Expresso senti que, como na aioria das
pessoas, tinha facetas que se devem apreciar respeitar, ouvir, ou
ler. Culpabilizo-me de ceder, em demasiadas ocasiões, a impulsos
viscerais ao avaliar pessoas, e pior quando aquilo que julgo conhecer
ofusca, perniciosamente, o bom discernimento.
Neste
caso particular admito terem sido as circunstâncias paralelas à
pessoa Pilar del Rio que condicionaram a minha avaliação.
Sem dúvida que não fui influenciado pela fama do seu inicialmente
companheiro e depois marido oficial, convicto activista político,
num partido de cariz intensamente esquerdista, o que lhe concedeu o
estatuto de empestado entre os cidadãos que se consideram defensores
de algo que nem eles sabem o que é na actualidade. Já coloquei aqui
um escrito onde especulo sobre o interesse dos saudosistas em
retroceder umas décadas, provocando os opositores.
Daí
que, para contrariar os bem pensantes, tenho um bom número de obras
de Saramago na minha livraria. Que li. Mesmo aquelas que foram
redigidas, tal vez propositadamente, de modo a afastar os leitores
que preferem textos amenos. Também escreveu obras deste teor, que se
não chegaram ao grande público andaram perto disso.
O
“azar” que mantinha sobre Pilar del Rio nem sequer
correspondia a factos concretos, indiscutíveis. Sabia que as suas
origens eram de uma família aderente ao nacional-catolicismo, e que
inclusive tinha sido freira. Desconhecia que o seu pai, apesar de
católico oficial, foi frade e deixou os hábitos e casou, gerando
uma extensa prole. Aspecto que, até certo ponto, é comum ao do pai
do falecido Mário Soares. Daí que, dada a minha ignorância e
preconceitos, não explicava o facto de se ter ligado a uma
personagem situada no extremo posto do leque político em que foi
criada.
Tudo
fica esclarecido, até certo ponto, pelo facto de que, desde muito
nova, Pilar del Rio se mostrou contrária às normas de
conduta então vigentes, tanto na faceta do comportamento pessoal
como o de não gostar de obedecer à política imposta. Ela explica
como a partir de um contacto meramente literário se criou uma
amizade e um sentimento que conduziu ao casamento e, mais tarde, já
falecido o escritor, a solicitar a mudança de nacionalidade.
Pilar
del Rio especifica as razões porque decidiu tomar esta atitude,
de “renegar”da sua nacionalidade por nascimento e família. A que
alega ser mais importante é que os seus rendimentos e os da Fundação
devem ser cotizados em Portugal. Não considerava correcto declarar
rendimentos em Espanha onde, por sinal, pagaria menos impostos. Mas
considera, e bem, que a sua decisão contributiva lhe outorga o
direito de ficar colérica de cada vez que gastam mal o dinheiro
(sic)
Assim
como não esconde a dificuldade, quase inultrapassável de ser vista
como mais um português. Por mais conhecidos que tenha herdado do
falecido marido, e dos colaboradores fieis e atentos na Fundação,
sabe e sofre internamente por ser considerada uma forasteira, uma
espécie de intrusa. É muito provável que este isolamento seja a
consequência do exílio voluntário de Saramago para a ilha
espanhola de Lançarote. Um afastamento que devemos compreender dado
o acto cometido, oficialmente, por um membro do governo de Portugal.
Por
mim sei o que sente, mesmo implicitamente, apesar dos sorrisos e boas
palavras de amizade. São muitos séculos de
martelar as mentes com o perigo espanhol, com o mau vento e mau
casamento. E nem sequer neste século e numa fase histórica em que
deixaram de existir fronteiras com barreiras e polícias, continuam a
insistir nos conflitos do passado, inevitáveis, quando só se tem um
país na fronteiras
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