A
IRONIA É A QUINTA ESSÊNCIA DA VERDADE. Millôr
Fernandes
O
brasileiro autor desta frase (1923-2012) foi um fino humorista e
pensador, muito celebrado no Brasil e entre nós.
O
facto de que um humorista de renome refira um capítulo específico
da sua arte, e com tão parca frase, é como desnudar-se em frente de
todos os leitores, na imensa maioria desconhecidos. Mostrou quão
importante era, para ele, o poder da ironia, onde mascarando o que se
pensa, e o que se pretende, utilizando o dissimulo, com frases
aparentemente laudatórias ou inócuas, deixa a ideia de que a sua
mensagem é oposta. O viciado na ironia consegue, com um comentário
aparentemente inócuo, inocente, atacar a vítima, com cínicos
sorrisos.
De
facto a ironia é a arma mais letal que um humorista pode utilizar,
sempre e tanto que tenha um arquivo dialéctico e uma finura na
apresentação do seu discurso indispensáveis para conseguir
desorientar a vítima. Sem que o espectador atento, e treinado, não
deixe escapar a farpa. A vítima, duplamente vítima, além de ser
gozada com subtileza, normalmente fica impedida de retorquir. Só os
mais treinados nos ataques verbais florentinos é que podem ganhar ao
humorista irónico.
Por
existir este risco, de o carrasco virar a vítima, com o gáudio da
assistência, é imprescindível conhecer previamente as
características e capacidades de quem se pensou ironizar. Não há
pior vexame para um humorista, seja amador ou profissional, que lhe
apareça pela frente quem seja capaz de o derrubar com as suas
próprias armas.
Aquilo
que convêm ficar bem claro é que com o uso da ironia podem-se
conseguir apreciadores. Sem dúvida necrófagos que deleitam-se com
as humilhações alheias. Dificilmente conseguirá fazer amigos.
Antes pelo contrário, criará inimigos e perderá anteriores amigos
caso tiver a infeliz ideia de aplicar este agressivo humor sem
ponderar riscos
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