quinta-feira, 27 de abril de 2017

DEPOIS DE MORTOS


Os que são propensos à benignidade não poupam os elogios para quem deixou este mundo. Mesmo que este empenho laudatório refira facetas que não correspondem à realidade. Poucos escapam desta maquilhagem e menos aqueles que, ainda vivos, preveem que para eles não se cumprirá o hábito social.

Cujo aqueles cujo comportamento em vida foi de molde a receber as piores qualificações por parte da comunidade, incluídos os que ganharam, com o seu esforço, a imagem de facínora encartado, com uma longa ficha de referência dos seus abusos, delitos e crimes, terão os seus sempre fieis, que com afinco tentarão limpar a sua nefasta memória.

Esta duplicidade na reacção da sociedade quando alguém nos deixa será ecuménica? Ou é quebrada com aquele respeitoso silêncio daqueles que não sabendo o que dizer de positivo tampouco desejam manchar a sua própria estampa caso se decidirem a denunciar, ou esclarecer, sob o seu ponto de vista, qual era de facto era a personalidade daquele que, ao falecer, fez o seu maior serviço possível à sociedade?.


Seja como for, atendendo ao axioma de que Morre o Bispo e morre o Papa, de morrer ninguém escapa, tenho que admitir como certeza inabalável o facto de estar perto a incineração do meu corpo já alquebrado. Assim como também tenho a certeza, baseada no meu repulsivo “feitiozinho”, que preferiria qualificar de feitio, sem diminutivo carinhoso, não incitarei ninguém a dedicar palavras simpáticas ou severas. Isto porque deixei bem recomendado que a minha morte não seja referenciada além do reduzido círculo de familiares de primeira linha. 

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