As
décadas de paz no Ocidente e a implosão do consumismo deram
uma reviravolta no panorama político que herdamos, pelo menos na
nomenclatura dos partidos. Apesar desta sensação de existirem menos
entraves na adquisição e desfrute de bens e serviços, incluída a
muitas vezes enganosa noção de ter bens imóveis, quase sempre
centrados na “compra” de uma casa de habitação para acolher a
sua família, o facto de ter que pagar o IMI já os torna
proprietários perante o fisco.
É
pertinente ter a noção de que, pelo menos entre nós, o tempo das
ditaduras extremistas só permanece activo na mente dos
extremistas dos dois lados opostos. Fora deste grupo perigoso
que, como os necrófagos urubus, sempre estão aguardando a sua
oportunidade para se locupletar nos bens alheios e em instituir a
repressão cega, com a qual podem entregar vítimas aos sádicos
esbirros que são os alicerces do seu poder. Entre as hostes dos dois
movimentos, que estão desfasados no tempo, pelo menos entre nós,
existem os que negam participar nas zonas negras do seus estimados,
embora nunca façam nada no sentido de promover a sensatez e o
humanismo real.
É
lamentável o facto de que na Europa comunitária e por um complexo
leque de circunstâncias, umas próprias e outras com génese fora,
criou-se um clima de incerteza e temor. Uma das facetas deste
nervosismo é a presença, cada dia mais notória, de gentes
que sendo oriundas de áreas onde a religião imperante é o
islamismo - com várias estirpes que guerreiam entre si-
que não aceitam de bom grado a adopção dos hábitos e costumes do
país que, propositadamente, escolheram para que os acolhessem. O que
sim lhes agrada, e não dispensam, é o poder aproveitar, no máximo,
todas as ajudas sociais que, com extrema benevolência, os governos
colocaram à disposição destes migrantes.
Além
deste foco de inquietação e descontentamento, é pertinente
recordar que existem outros temas que influem na vida social das
populações das camadas abaixo dos
muito bem instalados. Sendo assim o clima de revolta contra o
sistema, mesmo que pouco analisada por parte dos descontentes, está
condicionado aos efeitos provocados pela desindustrialização,
pelo livre comércio e pela ainda não estabilizada a nova
economia.
A
utilização destas inquietudes por parte dos conservadores,
interesseiros como lhes é apanágio, e também saudosistas da sua
ditadura, lhes proporcionou um caldo de cultura para poder avançar
no seu desejado percurso para o poder total e, como futuro
inevitável, desfazer tudo o que puderem do, para eles
nefasto, estado social.
Estes
conservadores, claramente neo-fascistas, tratarão de reduzir,
reduzir, ainda mais, e anular as reformas pelo trabalho (que
o governo actual também tem na sua mira); o atendimento
médico pelo SNS a quem não tenha capacidade económica para se
dirigir à medicina privada; descurarão, progressivamente, o apoio à
velhice e, se conseguirem dominar por completo a sociedade, induzir,
subtilmente, a eutanásia dos dispensáveis, que obviamente serão
aqueles que não pertencem ao seu grupo de eleitos. E outros motivos
de acção estão, com certeza, na sua ementa de actividades que
desejam fomentar.
Entre
nos, como sabemos ou deveríamos saber, o socialismo nacional está
mais desnatado do que o leite magro. O benfeitor da Pátria,
recentemente falecido e merecedor de vir a ocupar um belo sarcófago
num lugar de alto relevo, e mais os seus parceiros, depois de
seleccionados por ele mesmo, encarregaram-se de só manter a sigla
partidária, pois pragmáticamente sabiam que, sendo já burgueses
(ele desde nascença) e outros porque engordaram pelo caminho,
a população normal, os que quer é sopas e descanso, não está
propícia a invadir propriedades, tanto rústicas como urbanas.
A
insistência em maldizer do socialismo utiliza um alvo errado. Os
socialistas de hoje são exclusivamente partidários de que o governo
não utilize as classes média e baixas só para as sangrar, e que as
melhores fatias deste espolio sejam dirigidas aos capitalistas que
apoiaram as suas campanhas.
Nem
sequer há que recear as “feras” dos partidos comunista e os da
sua esquerda, que gostam de vociferar para provocar o alarme. Esta
zona do espectro político nacional está numa fase residual, e só
crescerá se os conservadores os provocarem. Sabem que a
população que “deveria” ser o seu alvo de captação de votos
não quer colocar as “suas galinhas” à disposição dos
exaltados.
Quando
era novo, jovem, era frequente ler e ouvir, vindo dos católicos
progressistas e dos da esquerda mais bonzinhos, que Jesus foi o
primeiro socialista da história. Curiosamente este Jesus não tinha
nada para dar neste mundo, nem sequer trabalhava par poder distribuir
um pecúlio. O que ele oferecia era uma utopia, que dava como certa e
indiscutível. Mas os humanos, se esceptuar os eremitas vocacionais,
gostam dos bens terrenos, de comer -bem e bom se for possível-
de vestir roupa nova e dentro da moda imposta, de habitar e de
passear, nem que seja no low-cost.
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