sexta-feira, 21 de abril de 2017

PESCAR FRASES



Uma das vantagens de ler o que outros escreveram é a de encontrar frases com um conteúdo subjacente que nos chama a atenção. Por vezes caímos na tentação de sublinhar, com o propósito de assim conseguir fixar no nosso arquivo mental aquela ideia que acertou na nossa forma de pensar. Todavia nem sempre a nossa memória ajuda no sentido de ter o arquivo sempre disponível.

Hoje decidi comentar algumas das frases que nos últimos dias pensei serem merecedoras de atenção.

Na América os bons não privam com os maus. Iris Murdoch (1)

Temos a convicção ao fazer comentários extremistas que uma impressão isolada pode-se considerar como um todo indiscutível. Da minha experiência pessoal posso confirmar que, de facto, entre os cidadãos residentes nos EUA e que não apreciam aquelas cenas de pancadaria gratuita que nos relatam, insistentemente, em muitos filmes made in USA evitam conviver com potenciais agressivos. São o que podemos qualificar de timoratos.

Viajando nos States numa auto-estrada de muitas vias paralelas, quando os estômagos já marcavam as horas, os olhares estavam mais pendentes de encontrar um local onde matar a fome do que em apreciar a paisagem. E aqui surgiu uma das muitas recomendações, ou receios inculcados: Neste não convêm parar, só há grandes camiões! Tem que ser num sitio onde no parque abexo estejam carros familiares.

Mas a larica ia-se acentuando e quando vimos um local com automóveis e aqueles enormes transportes que usam buzinas com muitos decibéis, o clamor foi de tal ordem que o condutor teve que ceder. Ao entrar, primeira surpresa: no quiosque vendiam algemas, matracas, punhos de metal para andar à pancada rija e outros artigos propícios para conseguir fazer amigos. Segunda surpresa: Duas salas de jantar, nitidamente diferentes, tanto na decoração como no mobiliário. Dum lado cadeiras com estofo de tecido e do outro cadeiras resistentes e com estofos de napa. Para evitar confusões, cada sala tinha à entrada um grande cartaz indicando: só camionistas e no outro Turistas. Na linguagem própria da zona, que mesmo de raiz inglesa tem os seus modismos.

Esta situação não foi única, mas no rifoneiro português podemos ler Em toda a parte está o perigo. Sendo assim temos que reconhecer que os cidadãos cá da terra evitam entrar em bairros pouco recomendáveis, e nalguns deles mesmo a força policial toma as suas precauções.

(1) filósofa e prolífera escritora irlandesa (1919-1999)


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