segunda-feira, 17 de abril de 2017

GLOBALIZAÇÃO OU NOVA COLONIZAÇÃO



O facto de que me mantenha em regime de reclusão domiciliária, admitindo que, em parte, por vontade pessoal, pelo menos, no que respeita à carência, quase que absoluta, de “vida social”, tal não impede a minha cabeça sofra desvarios e a pensar em horizontes que não conheço directamente, mas que admito existem.

A madrugada é a fonte de inspiração, e a última não falhou. Meditava eu na enorme reviravolta em que está o mundo. Só comparável a alguns dos grandes acontecimentos históricos que nos precederam e que ainda recordamos. Basta referir, como exemplo, a formação do grande império mongol, ou do fim do império romano, a descoberta formal do continente americano, ou da rota para as Índias orientais.

Aquilo que, a meu entender, está marcando o roteiro é a substituição da antiga colonização e esbulho das riquezas e trabalho dos povos não ocidentais, sempre conseguido pela força das armas, e depois do dinheiro, e que actualmente funciona com base à globalização e com o recurso às novas tecnologias. Identificadas com a informática e o automatismo. que dispõe de uma arma muitíssimo eficaz para descaracterizar os povos, novamente escravizados, mas que por não recorrer à força bruta mal se apercebem do que lhes espera.

Como me acontece quando utilizo este sistema de escrita tão actual (enquanto não for substituído por outro) tudo funciona aplicando uma linguagem que, derivada do inglês, certamente seria ininteligível a Shakespeare ou a Lord Bacon. A maioria dos termos utilizados são de poucas letras, curtos e incisivos, mas aos quais correspondem funções basilares para conseguir obter uma utilização eficiente das imensas possibilidades que a informática nos proporciona.

Esta situação está ocasionando uma cultura muito centralizada, cada vez mais funcional ou pelo menos afastada da leitura em papel e dos temas clássicos. Os mais jovens sabem que hoje o domínio da língua inglesa, e em especial da utilizada na informática é fundamental. Até certo ponto, mas respeitando as diferenças existentes, é semelhante ao fenecido domínio do latim, que deixou de ser ensinado massivamente e ficou reduzido aos textos religiosos, a certas expressões do domínio da jurisprudência e, juntamente com o grego clássico, para a composição de termos científicos de novo cunho.

É reconhecido que os povos, tanto de regiões concretas do ocidente, como de países que foram formal e factualmente colónias até poucas décadas, quando os seus representantes pretendem comunicar com países mais avançados tem que utilizar alguma língua europeia, que já foi o francês mas que hoje é o inglés, ameaçado de perto pelo chinés.

Esta realidade leva-me a deduzir que as línguas regionais e autóctonas tendem a ser cada vez mais residuais, a só servirem para comunicar entre pessoas sem representatividade perante o exterior. Vendo do lado mais negro, a globalização carrega armas poderosas, que não se resumem à exploração comercial mas, socialmente, a uma cada vez mais notória descaracterização das populações autóctones. Neste sector da uniformidade linguística incluo, como deixei indicado na primeira linha deste parágrafo, a limitação das variantes regionais no estrito âmbito familiar ou, quando muito, válido num sector da população que seja cioso da cultura herdada.

Ao referir o declínio do latim quando a Europa medieval foi desmembrada e se optou por dar valor às línguas utilizadas pela população em geral, é citada a data de 880 por corresponder ao mais antigo escrito, conhecido até hoje, totalmente redigido no francês popular. A data é importante por corresponder à entrada oficial da primeira língua derivada do latim. Hoje, ouvindo como falam os jovens, já absortos na referida informática, sente-se como inserem muitas palavras inglesas no meio dos seus discursos.


Pergunto: surgirão novas linguagens, não eruditas, no seio dos diversos países, derivadas deste inglês “abastardado”? Ou seja, veremos que a história repete-se com novos actores?

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