sexta-feira, 21 de abril de 2017

PESCAR FRASES II



A oração era o melhor modo de deixar de pensar. Iris Murdoch.

Quando ainda era um tenro infante, inocente, e estava inscrito num colégio religioso, nomeadamente num convento de freiras de São Vicente de Paul, tinha sessões de catequese e, pasmem-se, era o mais conhecedor do tema. Tanto assim que no dia em foi decidido preparar os alunos em idade de receber a primeira Eucaristia, fui escolhido para ficar na cabeceira da fila e os outros seguirem o meu exemplo.

Mas recordo que já naquele então tinha uma adversão, possivelmente congénita, em decorar as diferentes orações que a freira teimava em me ensinar. Durante anos ainda permaneciam em mim farrapos mentais de alguns destes elaborados textos. Mais tarde aconteceu como com a tabuada, que aprendíamos com o apoio de uma cantilena. Não tardou a que só ficasse gravada a “música”, e a letra fosse substituída por alguns truques que permitiam saber as respostas sem recorrer ao arquivo automático. Havia uma que tinha o visual bem fixo, a do 9. Aquilo de que na coluna dos resultados o algarismo da direita descesse e o da esquerda subisse era fantástico. Suponho são conhecidos de todos os que foram pressionados para aprenderem as tabuadas. Tanto teimei nesta embirração que, esforcei-me para que nunca jamais papagueasse uma resposta automática.

Daí que ao ler a frase que encabeça este escrito senti-me totalmente solidário coma escritora, por sinal irlandesa católica, mas que, por ter convivido sempre com gentes de outros credos, mostra uma mentalidade relapsa para aceitar que uma entidade, neste caso a sua Igreja, lhe retire a possibilidade de se expressar consoante o seu pensar a oriente no momento em que sinta necessidade de se dirigir ao seu Deus.


A fé é uma forma de artritismo intelectual. Pitigrilli

É reconhecido o facto de que muitos contestatários dos costumes bem estabelecidos social ou politicamente, o que no fundo vai dar ao mesmo, saltaram a barreira do circulo onde nasceram e foram criados, e mostraram-se, quase sempre, inimigos mais ferozes e propensos a tentar dar a volta ao texto do que aqueles que, ele já antevia o aguardarem para confirmar os preconceitos com que foram criados.


Pitigrilli (pseudónimo de Dino Segre 1893-1975) nascido e criado na Itália onde se encontra a sede do catolicismo, não foge à regra dos dois polos magneticos. Um país cujos cidadãos tem forçosamente que conviver com aqueles que se mostram fervorosos adeptos da fé, seja por convicção ou por conveniência, e os que são seus inimigos fidegais. Felizmente existem os que não são defensores, de capa e espada, de nenhuma facção. Estes, descomprometidos, são os que ficam sempre a pagar a loiça partid

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