A
oração era o melhor modo de deixar de pensar. Iris
Murdoch.
Quando ainda era um tenro infante,
inocente, e estava inscrito num colégio religioso, nomeadamente num
convento de freiras de São Vicente de Paul, tinha sessões de
catequese e, pasmem-se, era o mais conhecedor do tema. Tanto assim
que no dia em foi decidido preparar os alunos em idade de receber a
primeira Eucaristia, fui escolhido para ficar na cabeceira da fila e
os outros seguirem o meu exemplo.
Mas recordo que já naquele então
tinha uma adversão, possivelmente congénita, em decorar as
diferentes orações que a freira teimava em me ensinar. Durante anos
ainda permaneciam em mim farrapos mentais de alguns destes elaborados
textos. Mais tarde aconteceu como com a tabuada, que aprendíamos com
o apoio de uma cantilena. Não tardou a que só ficasse gravada a
“música”, e a letra fosse substituída por alguns truques que
permitiam saber as respostas sem recorrer ao arquivo automático.
Havia uma que tinha o visual bem fixo, a do 9. Aquilo de que na
coluna dos resultados o algarismo da direita descesse e o da esquerda
subisse era fantástico. Suponho são conhecidos de todos os que
foram pressionados para aprenderem as tabuadas. Tanto teimei nesta
embirração que, esforcei-me para que nunca jamais papagueasse uma
resposta automática.
Daí que ao ler a frase que encabeça
este escrito senti-me totalmente solidário coma escritora, por sinal
irlandesa católica, mas que, por ter convivido sempre com gentes de
outros credos, mostra uma mentalidade relapsa para aceitar que uma
entidade, neste caso a sua Igreja, lhe retire a possibilidade de se
expressar consoante o seu pensar a oriente no momento em que sinta
necessidade de se dirigir ao seu Deus.
A
fé é uma forma de artritismo intelectual. Pitigrilli
É reconhecido o facto
de que muitos contestatários dos costumes bem estabelecidos social
ou politicamente, o que no fundo vai dar ao mesmo, saltaram a
barreira do circulo onde nasceram e foram criados, e mostraram-se,
quase sempre, inimigos mais ferozes e propensos a tentar dar a volta
ao texto do que aqueles que, ele já antevia o aguardarem para
confirmar os preconceitos com que foram criados.
Pitigrilli
(pseudónimo de Dino Segre 1893-1975) nascido e criado na Itália
onde se encontra a sede do catolicismo, não foge à regra dos dois
polos magneticos. Um país cujos cidadãos tem forçosamente que
conviver com aqueles que se mostram fervorosos adeptos da fé, seja
por convicção ou por conveniência, e os que são seus inimigos
fidegais. Felizmente existem os que não são defensores, de capa e
espada, de nenhuma facção. Estes, descomprometidos, são os que
ficam sempre a pagar a loiça partid
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