domingo, 5 de abril de 2020

MEDITAÇÕES – Um acordar esquisito



Muitas novidades vos aguardam

Esta “brincadeira” triste, ameaçadora, reclusa e prolongada em excesso, pelo menos para cada um dos que a aguentam, melhor (só uns poucos), razoavelmente e pessimamente em progressão sem se prever ter fim brevemente, pode vir a nos oferecer uma situação, em escala muito maior, daquela desorientação que se sente no dia em que acordamos com uma mudança da hora.

Se já estamos batidos nesta decisão de tentar orientar a nossa vida pelo horário do sol, o que nos pode esperar, quase de certeza, naquele dia ainda não enunciado, em que nos digam que “já tudo passou” e que podemos retomar as nossas vidas no mesmo ritmo que tínhamos antes da ameaça invisível, posso garantir, e não me arvorar em adivinho nem em profeta, que ao abrir a porta da rua, encontraremos um mundo muito diferente.

Mesmo que as mudanças que se foram introduzindo na sociedade, ao amparo das precauções sanitárias, nos possam parecer ser de pouca monta, é aconselhável que, por enquanto e fechados no nosso casulo, tentemos ponderar algumas das consequências que são quase de teor
irresgatável Sabemos disso, pois por pouco que meditemos entra pelos olhos dentro, que serão muitas “as mortes anunciadas”.

E não me refiro a mortes físicas de pessoas, que estas nos são dadas a conhecer às colheradas, muitas vezes com aquela grande colher que se coloca nas travessas.

Já nos conformamos à ideia de que muitas pequenas actividades, comércios e lojas, dificilmente retomarão o mesmo mester, pelo menos com os mesmos responsáveis, fossem donos ou locatários. Por uns tempos os taipais e cortinas metálicas ficarão fechados. Mas … se a crise económica que está prevista tomar uma dimensão notável, é bastante provável que alguns dos que ficaram sem trabalho tentem um modo de vida no pequeno comércio.

Um dos vectores que foi ganhando dimensão nestas longas semanas de paragem obrigatória é o de que muitas famílias ficaram sem as suas pequenas reservas monetárias para poder atender o fluxo constante de despesas, umas até quase que fixas e com pouca margem para as reduzir. As decisões do governo para dar uma folga a quem já está com a água pelo nariz, portanto acima do pescoço, são como um saco de gelo ou de água quente em face de uma dor, dado que não anulam a despesa, antes a protelam, e muitas vezes com o incremento de juros de mora.

Todos estávamos já cientes de que, como sempre aconteceu, qualquer crise que ultrapasse as oscilações bolsistas, termina c caindo sobre as classes mais pobres, as desfavorecidas, aquelas que já carregaram às costa e durante bastante tempo. Anos se não foram décadas.

Subindo na estratigrafia social, podemos apostar, sem receio de errar, em que a classe “remediada”, ou média baixa, também terá muitos problemas e dificuldades terríveis, algumas mesmo invencíveis, para conseguir recuperar o seu nível de vida. Uma parcela desta camada social descerá para o nível inferior, possivelmente aquele que a sua geração ou a imediatamente anterior, tanto se esforçou para escapar.
Sem conhecerem a mitologia, estarão dentro do uroboro -aquele dragão que faz um círculo mordendo a sua cauda, e que representa o eterno ciclo da vida- e que encontramos com frequência em desenhos e gravuras.

Todavia existe uma referência que não devemos descurar. O princípio da conservação da energia, e por extensão da matéria, nos elucida de que nada se perde nem destrói, que só muda de gaveta (por dizer de forma menos séria, aparentemente) Daí que confirma-se que aquela parte da economia, ou distribuição monetária, até de “riqueza” que se retirou das classes mais débeis, não se esfumou. Fora alguma moeda, sem grande valor, que tenha caído de um bolso roto, recheado, tudo foi arrecadado pelos que estão no nível mais superior.

Muitos profissionais, com preparação académica actualizada, que não foram mantidos nas estruturas de decisão, poderão ter a surpresa de ver que foram dispensados, tal como a rececionista já com um visual pouco cativante. Os elementos do núcleo duro das empresas aproveitarão esta situação e a recuperação, para fazer uma selecção cruel entre os funcionários de segunda, terceira e linhas seguintes., com o argumento, já batido, de ser imprescindível efectuar uma reestruturação da empresa É fatal como o destino.

Conclusão: A pancada não será dada exclusivamente aos mais fracos, alguns dos que estavam bem situados podem ter a surpresa de que ao sair de casa e dirigir-se, bem lavados, vestidos, barbeados e perfumados, para aquele ninho na empresa que “era seu” se dará com o nariz na porta. Seja de imediato ou após ver que o colocavam, inactivo, no famoso arquivo dos condenados, ou, em alternativa, conceder-lhe uma compensação monetária...

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