Muitas
novidades vos aguardam
Esta
“brincadeira” triste, ameaçadora, reclusa e prolongada em
excesso, pelo menos para cada um dos que a aguentam, melhor (só
uns poucos), razoavelmente e pessimamente em progressão
sem se prever ter fim brevemente, pode vir a nos oferecer uma
situação, em escala muito maior, daquela desorientação que se
sente no dia em que acordamos com uma mudança da hora.
Se
já estamos batidos nesta decisão de tentar orientar a nossa vida
pelo horário do sol, o que nos pode esperar, quase de certeza,
naquele dia ainda não enunciado, em que nos digam que “já tudo
passou” e que podemos retomar as nossas vidas no mesmo ritmo que
tínhamos antes da ameaça invisível, posso garantir, e não me
arvorar em adivinho nem em profeta, que ao abrir a porta da rua,
encontraremos um mundo muito diferente.
Mesmo
que as mudanças que se foram introduzindo na sociedade, ao amparo
das precauções sanitárias, nos possam parecer ser de pouca monta,
é aconselhável que, por enquanto e fechados no nosso casulo,
tentemos ponderar algumas das consequências que são quase de teor
irresgatável
Sabemos disso, pois por pouco que meditemos entra pelos olhos dentro,
que serão muitas “as mortes anunciadas”.
E
não me refiro a mortes físicas de pessoas, que estas nos são dadas
a conhecer às colheradas, muitas vezes com aquela grande colher que
se coloca nas travessas.
Já
nos conformamos à ideia de que muitas pequenas actividades,
comércios e lojas, dificilmente retomarão o mesmo mester, pelo
menos com os mesmos responsáveis, fossem donos ou locatários. Por
uns tempos os taipais e cortinas metálicas ficarão fechados. Mas …
se a crise económica que está prevista tomar uma dimensão
notável, é bastante provável que alguns dos que ficaram sem
trabalho tentem um modo de vida no pequeno comércio.
Um
dos vectores que foi ganhando dimensão nestas longas semanas de
paragem obrigatória é o de que muitas famílias ficaram sem as suas
pequenas reservas monetárias para poder atender o fluxo constante de
despesas, umas até quase que fixas e com pouca margem para as
reduzir. As decisões do governo para dar uma folga a quem já está
com a água pelo nariz, portanto acima do pescoço, são como um saco
de gelo ou de água quente em face de uma dor, dado que não anulam a
despesa, antes a protelam, e muitas vezes com o incremento de juros
de mora.
Todos
estávamos já cientes de que, como sempre aconteceu, qualquer crise
que ultrapasse as oscilações bolsistas, termina c caindo sobre as
classes mais pobres, as desfavorecidas, aquelas que já carregaram às
costa e durante bastante tempo. Anos se não foram décadas.
Subindo
na estratigrafia social, podemos apostar, sem receio de errar, em que
a classe “remediada”, ou média baixa, também terá muitos
problemas e dificuldades terríveis, algumas mesmo invencíveis, para
conseguir recuperar o seu nível de vida. Uma parcela desta camada
social descerá para o nível inferior, possivelmente aquele que a
sua geração ou a imediatamente anterior, tanto se esforçou para
escapar.
Sem
conhecerem a mitologia, estarão dentro do uroboro -aquele
dragão que faz um círculo mordendo a sua cauda, e que representa o
eterno ciclo da vida-
e que encontramos com frequência em desenhos e gravuras.
Todavia
existe uma referência que não devemos descurar. O
princípio da conservação da energia, e
por extensão da matéria, nos elucida de que nada se perde nem
destrói, que só muda de gaveta (por
dizer de forma menos séria, aparentemente)
Daí que confirma-se que aquela parte da economia, ou distribuição
monetária, até de “riqueza” que se retirou das classes mais
débeis, não se esfumou. Fora alguma moeda, sem grande valor, que
tenha caído de um bolso roto, recheado, tudo foi arrecadado pelos
que estão no nível mais superior.
Muitos
profissionais, com preparação académica actualizada, que não
foram mantidos nas estruturas de decisão, poderão ter a surpresa de
ver que foram dispensados, tal como a rececionista já com um visual
pouco cativante. Os elementos do núcleo duro das empresas
aproveitarão esta situação e a recuperação, para fazer uma
selecção cruel entre os funcionários de segunda, terceira e linhas
seguintes., com o argumento, já batido, de ser imprescindível
efectuar uma reestruturação da empresa É fatal como o destino.
Conclusão:
A pancada não será dada exclusivamente aos mais fracos, alguns dos
que estavam bem situados podem ter a surpresa de que ao sair de casa
e dirigir-se, bem lavados, vestidos, barbeados e perfumados, para
aquele ninho na empresa que “era seu” se dará com o nariz na
porta. Seja de imediato ou após ver que o colocavam, inactivo, no
famoso arquivo dos condenados, ou, em alternativa, conceder-lhe uma
compensação monetária...
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