domingo, 19 de abril de 2020

MEDITAÇÕES - Obcecados e Incultos




Portugal está socialmente atrasado

E, mesmo com graduações, podemos verificar com excessiva frequência que o extremismo é uma característica muito comum, demasiado até, nos países do sul da Europa, e não só, pois que as épocas em que surgem problemas incitam a que as mentes do pessoal se desloquem para os extremos do espectro político-social.

Resumindo, de um modo cru, muita gente não ultrapassou a convicção de que ESTÁS COMIGO OU ESTÁS CONTRA MIM, é um preceito a seguir e a condicionar aqueles que não partilhem.

Observando com o propósito de isenção que penso ser pertinente, não posso aceitar, sem me sentir lesado, as posições extremistas que se estão tomando a propósito das pretendidas celebrações das datas de cariz político que se aproximam.

Em verdade, e seguindo o mesmo propósito de precaução sanitária, evitando as aglomerações que se receiam poder facilitar a transmissão vírica, não se autorizaram marchas políticas. Assim como as autoridades eclesiásticas sentiram que deviam travar a participação dos seus fieis nas aglomerações de cariz religioso, tanto dentro como fora dos templos. Tudo bem, dentro da situação actual que aconselha não perder o que se tinha conseguido.

Todavia, e por um excesso de zelo político, não se protelaram as sessões habituais na Assembleia Nacional. Mas... que se saiba, não se declarou ser obrigatória a presença naquelas sessões. Ou seja, quem não gosta, não vai; não aplaude nem vocifera. Tudo bem, educadinho como pertence a um povo educado (?)

E é aqui onde a minha meditação tropeça. As sucessivas autoridades de Portugal, centrando-nos neste rectângulo, durante séculos fizeram tudo o que imaginaram, inclusive com muita vigilância e repressão, para evitar que a sua população adquirisse uma ampla e alargada educação política.

É fácil comprovar que desde a monarquia, incluída a fase constitucional, as pessoas que tentaram introduzir os conceitos mais abrangentes da democracia partidária, foram muito poucas, e a sua influência reduzida a um sector muito minoritário. Com a primeira república e a acção da “nefasta” maçonaria -que por não partilhar abertamente com a Igreja católica foi considerada um grupo a abater- apesar de que algumas personagens do topo da Igreja se filiaram nesta “seita”, se iniciou a escolarização das crianças num ensino civil, não religioso, mas com preceitos democráticos e sociais.

Houve, na referida fase da primeira república -demasiado curta dadas as pressões militares conservadoras- uma acção de promoção cultural, dirigida concretamente para a incipiente classe dos operários fabris, que não se pode esquecer. Foi sol de pouca dura.

O trio fascismo+capital+igreja tiveram o campo totalmente livre para “educar” a população. E as forças policiais se encarregaram de fechar as portas das prisões para aqueles atrevidos que se atreviam a abrir as mentes enclausuradas de séculos. O resultado inevitável, e conseguido, foi o de que a população aceitou tacitamente, como se não existisse outra opção, a norma de estás ao meu lado ou contra mim. Inclusive bastantes elementos da faixa mais ilustrada!

E, apesar de que numa sociedade que está aprendendo a viver em democracia, não nos parecer possível, ou desejável, existe uma fração, ruidosa e azeda, que mantém e propaga uma relutância congénita em aceitar as diversas opções possíveis para quem não deseje ficar num dos dois extremos. E, para mal do País, continua a ter muitos prosélitos. São, precisamente estes elementos ultra-conservadores que propõem as listas de adesão para contrariar temas que não merecem tanta atenção. São gente (serão mesmo?) que não admitem o simples preceito de vive e deixa viver.


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