Sem
chegar ao quando os animais falavam
Não
trago in pectore dissertar sobre a fantasia, própria
dos contos para infantes -os elefantes não devem
entender estas doideiras. Tem a sua própria cultura- de
que os animais podem comunicar verbalmente entre si e até com os
humanos. Todavia este capítulo da humanização da bicharada tem
estado presente, desde séculos, no imaginário humano, tanto popular
como erudito.
Desde
muitos anos atrás fui ficando convencido de que aqueles companheiros
de viagem planetária, ou seja na Terra, e que, sem dúvida nem
disfarce, tratamos tão mal, dado que "são considerados como
irracionais" apesar de ser um erro crasso, só se salvam alguns.
Aqueles que induzimos a partilhar a nossa “caverna”, são muito
sábios e deles é possível, e até mesmo recomendável, aprender
algumas coisas. Outros limitam-se a ser animais "domésticos"
ou criados para a nossa alimentação dita omnívora.
Sendo
observador, mesmo que não preparado em biologia e antropologia
comparadas, reparei que entre os animais que nos acompanham de livre
vontade, sem fugir quando não estão presos, e cujo exemplo mais
evidente é o gato “inteiro”, quase que vadio, ou mesmo sem o
quase, eles nos ensinam um código de sinais, inclusive sem miar,
como sucede com o que nos visita várias vezes por dia- já
tentei, sem sucesso, ensina-lo a miar, mas ele olha para mim uns
instantes e depois abandona a sala de aula- Em
reciprocidade nós o educamos, até os limites que ele aceitou, nas
regras que decidimos para o comportamento em comunidade aberta.
Estes
felinos caseiros, mesmo aqueles aos que se lhes permite partilhar o
nosso habitáculo, sempre reservam uma boa parte da sua
independência. São o que podemos qualificar de "senhores do
seu nariz". Todos nós tivemos exemplos de tarecos com um nítido
egoísmo, ou egocentrismo, com o qual nos alertam de que aceitam
submissão, mas até certo ponto. Reconhecer estas característica
não impedem a verificação de situações onde se observe a
dedicação, até mesmo de afabilidade, com uns seres tão diferentes
deles como somos os humanos.
Os
cães são um caso aparte. Consideramos serem os primeiros animais de
companhia que aceitaram ser nossos parceiros, mesmo em condições
duras e abusivas. Admitiram que inclusive podiam ser ensinados em
tarefas concretas. Um exemplo, duplo até, é o dos cães de guarda e
os de pastor, ambos importantes para quem se auxilia deles. Sem
esquecer, os cães de tracção de trenós. Mesmo que jamais os tenha
visto agir no seu meio habitual.
Também
encontramos, entre os animais de penas exemplos de comportamentos que
parecem ser copiados dos nossos, ou viceversa. Melros, corvos,
papagaios, catatuas e outras pênsis, conseguem imitar a voz humana e
aprendem, muitas vezes de por si, habilidades que nos admiram.
Resumindo:
se nos pararmos a observar e meditar, depressa se chega à convicção
de que os seus cérebros não se ficam pelo que o instinto adquirido
pela espécie lhes oriente, mas que aprendem mesmo sem serem
ensinados. Podemos aceitar, de boa fé, que eles são capazes de
iniciativas não aprendidas e mesmo de resolver dificuldades que os
motivam para as ultrapassar.
Cheguei
à segunda parte desta meditação, e que se resume em poucas
palavras: os animais, quando estão num ambiente de partilha-livre,
com humanos, nos dão orientações acerca do que lhes agrada e
desejam. Eles têm uma mímica própria. Cada espécie a sua. Melros
e rolas bravas nos mostram como somos observados sem os vermos, e
como e quando decidem aproximar-se de algum alimento que tivermos
deixado ao ar livre, sem armadilhas, fosse em principio para
mamíferos mas que eles, voadores e ovíparos, também apreciem.
Quando
a já pouca passarada que circula por perto entende que não
constituímos um perigo, cada vez se mostram mais amigáveis. O
extremo mais simpático e, até certo ponto inusitado, da confiança
entre aves e pessoas o encontramos em alguns parques onde os pássaros
e até aves de maior porte decidem que podem comer da mão da pessoa
que consideram merecer tal confiança.
Dentro
dos peixes, e descontando aqueles que foram treinados para
espectáculo, também os há que se aproximam de nós para conseguir
algum petisco do seu agrado. Os pescadores de cana e carreto sabem
disso a potes; por isso engodam previamente o pesqueiro de onde
pretendem apanhar os peixes que procuram.
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