sábado, 18 de abril de 2020

MEDITAÇÕES- Animais que também são gente.



Sem chegar ao quando os animais falavam

Não trago in pectore dissertar sobre a fantasia, própria dos contos para infantes -os elefantes não devem entender estas doideiras. Tem a sua própria cultura- de que os animais podem comunicar verbalmente entre si e até com os humanos. Todavia este capítulo da humanização da bicharada tem estado presente, desde séculos, no imaginário humano, tanto popular como erudito.

Desde muitos anos atrás fui ficando convencido de que aqueles companheiros de viagem planetária, ou seja na Terra, e que, sem dúvida nem disfarce, tratamos tão mal, dado que "são considerados como irracionais" apesar de ser um erro crasso, só se salvam alguns. Aqueles que induzimos a partilhar a nossa “caverna”, são muito sábios e deles é possível, e até mesmo recomendável, aprender algumas coisas. Outros limitam-se a ser animais "domésticos" ou criados para a nossa alimentação dita omnívora.

Sendo observador, mesmo que não preparado em biologia e antropologia comparadas, reparei que entre os animais que nos acompanham de livre vontade, sem fugir quando não estão presos, e cujo exemplo mais evidente é o gato “inteiro”, quase que vadio, ou mesmo sem o quase, eles nos ensinam um código de sinais, inclusive sem miar, como sucede com o que nos visita várias vezes por dia- já tentei, sem sucesso, ensina-lo a miar, mas ele olha para mim uns instantes e depois abandona a sala de aula- Em reciprocidade nós o educamos, até os limites que ele aceitou, nas regras que decidimos para o comportamento em comunidade aberta.

Estes felinos caseiros, mesmo aqueles aos que se lhes permite partilhar o nosso habitáculo, sempre reservam uma boa parte da sua independência. São o que podemos qualificar de "senhores do seu nariz". Todos nós tivemos exemplos de tarecos com um nítido egoísmo, ou egocentrismo, com o qual nos alertam de que aceitam submissão, mas até certo ponto. Reconhecer estas característica não impedem a verificação de situações onde se observe a dedicação, até mesmo de afabilidade, com uns seres tão diferentes deles como somos os humanos.

Os cães são um caso aparte. Consideramos serem os primeiros animais de companhia que aceitaram ser nossos parceiros, mesmo em condições duras e abusivas. Admitiram que inclusive podiam ser ensinados em tarefas concretas. Um exemplo, duplo até, é o dos cães de guarda e os de pastor, ambos importantes para quem se auxilia deles. Sem esquecer, os cães de tracção de trenós. Mesmo que jamais os tenha visto agir no seu meio habitual.

Também encontramos, entre os animais de penas exemplos de comportamentos que parecem ser copiados dos nossos, ou viceversa. Melros, corvos, papagaios, catatuas e outras pênsis, conseguem imitar a voz humana e aprendem, muitas vezes de por si, habilidades que nos admiram.

Resumindo: se nos pararmos a observar e meditar, depressa se chega à convicção de que os seus cérebros não se ficam pelo que o instinto adquirido pela espécie lhes oriente, mas que aprendem mesmo sem serem ensinados. Podemos aceitar, de boa fé, que eles são capazes de iniciativas não aprendidas e mesmo de resolver dificuldades que os motivam para as ultrapassar.

Cheguei à segunda parte desta meditação, e que se resume em poucas palavras: os animais, quando estão num ambiente de partilha-livre, com humanos, nos dão orientações acerca do que lhes agrada e desejam. Eles têm uma mímica própria. Cada espécie a sua. Melros e rolas bravas nos mostram como somos observados sem os vermos, e como e quando decidem aproximar-se de algum alimento que tivermos deixado ao ar livre, sem armadilhas, fosse em principio para mamíferos mas que eles, voadores e ovíparos, também apreciem. 

Quando a já pouca passarada que circula por perto entende que não constituímos um perigo, cada vez se mostram mais amigáveis. O extremo mais simpático e, até certo ponto inusitado, da confiança entre aves e pessoas o encontramos em alguns parques onde os pássaros e até aves de maior porte decidem que podem comer da mão da pessoa que consideram merecer tal confiança.

Dentro dos peixes, e descontando aqueles que foram treinados para espectáculo, também os há que se aproximam de nós para conseguir algum petisco do seu agrado. Os pescadores de cana e carreto sabem disso a potes; por isso engodam previamente o pesqueiro de onde pretendem apanhar os peixes que procuram.


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