NÃO
SE PODE INSISTIR NO BIPARTIDISMO
Dizer
que o comportamento dos humanos segue, sem dar por isso,
involuntariamente, as leis da evolução das espécies (1). Mas
reconhecemos que, paulatinamente, os comportamentos e o pensar das
pessoas vão sofrendo mudanças, algumas profundas e outras quase que
imperceptíveis.
Avancemos
um exemplo: De mansinho os eleitores que se mantiveram fieis à
participação democrática na escolha dos seus representantes,
foram-se contentando com a alternância no poder de dois partidos
maioritários e alternantes. Uma situação que numa visão
sociológica pode-se assimilar à situação real, mas de índole
sexual, que por extensão linguística podemos considerar como uma
espécie de POLIANDRIA (2)
Concretamente
a conjuntura conduz a que dois partidos, aparentemente em oposição
aguda, partilham, com agrado, o poder alternadamente. Este
revezamento, aceite tacitamente, sem o admitir, leva sempre a que os
reais comportamentos dos parceiros em pouco ou nada diferem. A maior
disparidade que se encontra, quando um sai da pista de dança e o
outro começa a tangar, é que cada um destes sócios alternantes
carrega às costas uma série de compromissos que cumprir, mais
longas listas de parentes e amigos, todos eles chupistas que se de
longe nos podem parecer diferentes, não se tarda a verificar que em
se comportam com a mesma falta de ética e vergonha. Com outras
palavras: De facto só mudam ALGUMAS moscas.
A
anterior legislatura nos apresentou, falhando às expectativas, uma
tentativa de consentir numa governação partilhada.
Mas neste tímido reparto de
poder não participaram os dois pesos pesados que se digladiaram ao
longo da campanha eleitoral.
Foi uma decisão amarga, mas inevitável, para conseguir governar do
partido. A proposta de dançar com vários parceiros nunca foi clara
nem definida. Foi um esquema inédito entre nós.
O
partido mais forte entre o grupo, desde início tentou, e até
conseguiu, levar quase sempre a sua vontade por cima das orientações
propostas pelos sócios minoritários. Esta aceitação de fingida
coligação caiu em descrédito entre os sectores mais
reivindicativos. Hoje temos uma ainda mais difusa presença dos
partidos minoritários qualificados como esquerdistas. É lamentável
que não se saiba trabalhar em coligação. Deve ser genético.
À primeira vista somos induzidos a
concluir que, neste Portugal actual, os eleitores ainda consideram
como inoperacional uma governação colegiada. E podemos recordar que
já anteriormente houve tentativas de manter um governo com várias
mãos, ou concretamente, com mais do que um grupo definido, com
siglas próprias. Os resultados nunca foram positivos, pois as
pressões que os diferentes sócios consideravam que tinham direito
induziu, sempre, a que se mantivessem e até aumentassem as lutas
intestinas entre parceiros.
E
quando chega o momento de escolher, democraticamente, um governo
nacional continuamos sendo exclusivos. As pressões das clientelas e
a fidelidade irracional, essencialmente mediática, nos conduz a
promover um hipotético cabecilha, que se valoriza como diferente, e
sem dúvida melhor, do que os opositores que pretendem o mesmo lugar.
Curiosamente alguns eleitores, que não todos, surpreendem-se quando
verificam, passado pouco tempo, que a lista de personagens
importantes, favoritos do seu eleito governante, difere pouquíssimo
da lista que também apoia e é apoiada pela equipa oposta.
A solução de uma governação
partilhada entre partidos que representam sectores diferentes, mas
próximos, já se verificou é optada por outros países, e com um
certo sucesso. Mas para este êxito é necessário serem
efectivamente democráticos, e os parceiros estarem prontos a receber
parcelas de poder ou aceitar propostas internas diferentes das
inicialmente desejadas. E assim conseguir não só uma calma
favorável com outros pequenos ou médios grupos anteriormente na
oposição.
Este esquema de governação permite
diluir pressões, optando por compromissos menos exclusivismos, e daí
conseguir e uma maioria, complexa, mas mais fiel do que as
anteriores, de votantes com diferentes filiações. Podem deixar uma
bandeira, a sua, para se aproximarem de outra, sem ceder totalmente
daquele pensamento que consideram ser “os seus princípios
básicos”.
Corolário: Será uma grande
perda se os partidos maioritários não entenderem que uma larga
coligação era favorável para o País. Mesmo que não desse
tantas vias de enriquecimento pessoal.
1–
Não confundir com as
especiarias, aqueles produtos exóticos com poderes antissépticos
que se tornaram imprescindíveis para conseguir digerir sem adoecer
as carnes já em vias de avançarem para a decomposição.
2
– Organização
familiar em que a mulher tem, legalmente, mais do que um marido ao
mesmo tempo.
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