sexta-feira, 10 de abril de 2020

MEDITAÇÕES – Devagar evolui-se



NÃO SE PODE INSISTIR NO BIPARTIDISMO

Dizer que o comportamento dos humanos segue, sem dar por isso, involuntariamente, as leis da evolução das espécies (1). Mas reconhecemos que, paulatinamente, os comportamentos e o pensar das pessoas vão sofrendo mudanças, algumas profundas e outras quase que imperceptíveis.

Avancemos um exemplo: De mansinho os eleitores que se mantiveram fieis à participação democrática na escolha dos seus representantes, foram-se contentando com a alternância no poder de dois partidos maioritários e alternantes. Uma situação que numa visão sociológica pode-se assimilar à situação real, mas de índole sexual, que por extensão linguística podemos considerar como uma espécie de POLIANDRIA (2)

Concretamente a conjuntura conduz a que dois partidos, aparentemente em oposição aguda, partilham, com agrado, o poder alternadamente. Este revezamento, aceite tacitamente, sem o admitir, leva sempre a que os reais comportamentos dos parceiros em pouco ou nada diferem. A maior disparidade que se encontra, quando um sai da pista de dança e o outro começa a tangar, é que cada um destes sócios alternantes carrega às costas uma série de compromissos que cumprir, mais longas listas de parentes e amigos, todos eles chupistas que se de longe nos podem parecer diferentes, não se tarda a verificar que em se comportam com a mesma falta de ética e vergonha. Com outras palavras: De facto só mudam ALGUMAS moscas.

A anterior legislatura nos apresentou, falhando às expectativas, uma tentativa de consentir numa governação partilhada. Mas neste tímido reparto de poder não participaram os dois pesos pesados que se digladiaram ao longo da campanha eleitoral. Foi uma decisão amarga, mas inevitável, para conseguir governar do partido. A proposta de dançar com vários parceiros nunca foi clara nem definida. Foi um esquema inédito entre nós.

O partido mais forte entre o grupo, desde início tentou, e até conseguiu, levar quase sempre a sua vontade por cima das orientações propostas pelos sócios minoritários. Esta aceitação de fingida coligação caiu em descrédito entre os sectores mais reivindicativos. Hoje temos uma ainda mais difusa presença dos partidos minoritários qualificados como esquerdistas. É lamentável que não se saiba trabalhar em coligação. Deve ser genético.

À primeira vista somos induzidos a concluir que, neste Portugal actual, os eleitores ainda consideram como inoperacional uma governação colegiada. E podemos recordar que já anteriormente houve tentativas de manter um governo com várias mãos, ou concretamente, com mais do que um grupo definido, com siglas próprias. Os resultados nunca foram positivos, pois as pressões que os diferentes sócios consideravam que tinham direito induziu, sempre, a que se mantivessem e até aumentassem as lutas intestinas entre parceiros.

E quando chega o momento de escolher, democraticamente, um governo nacional continuamos sendo exclusivos. As pressões das clientelas e a fidelidade irracional, essencialmente mediática, nos conduz a promover um hipotético cabecilha, que se valoriza como diferente, e sem dúvida melhor, do que os opositores que pretendem o mesmo lugar. Curiosamente alguns eleitores, que não todos, surpreendem-se quando verificam, passado pouco tempo, que a lista de personagens importantes, favoritos do seu eleito governante, difere pouquíssimo da lista que também apoia e é apoiada pela equipa oposta.

A solução de uma governação partilhada entre partidos que representam sectores diferentes, mas próximos, já se verificou é optada por outros países, e com um certo sucesso. Mas para este êxito é necessário serem efectivamente democráticos, e os parceiros estarem prontos a receber parcelas de poder ou aceitar propostas internas diferentes das inicialmente desejadas. E assim conseguir não só uma calma favorável com outros pequenos ou médios grupos anteriormente na oposição.

Este esquema de governação permite diluir pressões, optando por compromissos menos exclusivismos, e daí conseguir e uma maioria, complexa, mas mais fiel do que as anteriores, de votantes com diferentes filiações. Podem deixar uma bandeira, a sua, para se aproximarem de outra, sem ceder totalmente daquele pensamento que consideram ser “os seus princípios básicos”.

Corolário: Será uma grande perda se os partidos maioritários não entenderem que uma larga coligação era favorável para o País. Mesmo que não desse tantas vias de enriquecimento pessoal.


1– Não confundir com as especiarias, aqueles produtos exóticos com poderes antissépticos que se tornaram imprescindíveis para conseguir digerir sem adoecer as carnes já em vias de avançarem para a decomposição.

2 – Organização familiar em que a mulher tem, legalmente, mais do que um marido ao mesmo tempo.

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