Nem
tudo o que luz é oiro, mas tudo o que balança cai.
Estes
dias de recolhimento, falsamente voluntário, induzem a nos dedicar a
tarefas inúteis, tais como tombado num sofá com um livro nas mãos
e rapidamente cair nos braços de Morfeu, ou de uma Morfeia,
consoante o seu sexo e as suas preferências. Eu preferiria a deusa,
mas, sendo possível, que não seja exageradamente feiosa.
Em
alternativa, depois de rejeitar tarefas que estão na lista de
afazeres, como seja o reunir e classificar os documentos que devemos
juntar à declaração do IRS -vade
retro Satanás! Antes a sorte que tal morte- A opção do
balanço do trajecto pessoal neste mundo, não será uma tarefa mais
interessante do que a anterior; mas tem a vantagem de poder fazer
batota, de esconder aquilo que nos magoa no mais íntimo, sem que os
inspectores das finanças nos venham bater à porta, ou nos convoquem
para nos apresentar no seu local de tormentos.
Creio
que a ordem dos factores não é totalmente arbitrária, e por isso
proponho que se comece pelos balancetes e depois, fazendo uma molhada
com estas primárias, pode ser a altura correcta de balançar. Ainda
opinaria que em vez de nos sentarmos numa destas cadeiras ergonómicas
que estão na moda, -e que se
estragam quando menos esperamos, que é nunca..-recuássemos
no tempo e instalemos o corpinho bem feito num daqueles balancés
herdados dos avós, que serviram de brincadeira às nossas crianças.
Seja
qual for o caminho que se optar, chegaremos, caso não se desista a
tempo, ao momento em que estaremos em risco de apresentar “ao
simpático público da sala” não só as fases e momentos mais
agradáveis de recordar como, se formos estupidamente honestos,
mostrar a careca em capítulos que nos magoam e que, sem dúvida
alguma, preferiríamos manter debaixo do tapete até que as chamas do
crematório nos purifiquem.
Quando
iniciei esta página estava com a disposição de me colocar
totalmente nu, confiando em que não espreitassem pelo olho mágico
do computador. Inclusive fiz, mentalmente pois que a
Prudência (companheira fiel do Prudêncio)
aconselha a
nunca jamais, em tempo algum, deixar documentos escritos onde se
tenham confiado temas e pormenores com um grau de intimidade que
convinha ter respeitado.
Esta
chamada de atenção que o meu grilo sábio mental -como o
do Pinóquio- teve a gentileza
de me acordar, já eliminou algumas páginas do meu percurso neste
mundo cruel, onde a sinceridade paga-se caro e quase sempre a pronto.
Apesar desta chamada à cautela, que coincide com a minha eterna
decisão de não comprar cautelas nem outras formas de derreter
dinheiro na mira de estragar o negócio à querida Santa Casa. No meu
íntimo (o mesmo que:
intrínseco, profundo, estreito, pessoal, privado (privada é a
retrete!), particular, doméstico, familiar, âmago (não confundir
com amargo), cerne, consciência) sinto
uma vontade raivosa de abrir a minha caixa dos pirolitos e dar ao
mundo um amostra das alegrias, alergias e frustrações que me tem
acompanhado durante décadas, oito e pico.
Davam
para fazer um romance com capítulos trágicos e outros de cariz
romântico. Mas terei coragem para tal? Recordo a periodicamente
ameaça de um funcionário da empresa -que
não identifico nem ele nem ela-
que dizia: Eu, se quisesse podia escrever a autobiografia da Empresa!
Como podem imaginar, jamais se descoseu, nem sequer num pequeno
detalhe que o pudesse comprometer. Sempre em conformidade com o que
está explícito num parágrafo anterior: Cautelas
e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.
Duas
notas: Sem valor no mercado.
-
A primeira é que não resisti a dar uso ao Dicionário de Sinónimos
e Antónimos (não
confundir com Antonios)
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