sábado, 11 de abril de 2020

MEDITAÇÕES – Pensar não basta



Pensa devagar e obra depressa

Decidir, assim levianamente, que devemos seguir os conselhos dos adágios antigos é muito prometedor. Mas a dificuldade está em que a maioria dos cidadãos -como é o meu caso- não temos muitas possibilidades de agir positivamente e menos que as nossas locuções, assim como as nossas hipotéticas receitas, tenham a mais mínima força para alterar o rumo da sociedade onde estamos inseridos.

Esta forma de admitir a derrota antes de sequer tentar entrar numa luta aberta é, como se entende, absolutamente castradora. E pior se possível, mostra-se ligada a um futuro que não podemos dominar, pela falta de capacidade reactiva. Porque sempre recordamos existir uma série bastante longa de referências em que se nos “vende” que insignes e temerárias personagens, em geral dotadas de uma verve inflamada, que conseguiram, por si sós (permitam que duvide...) arrastar multidões e dar a volta a sociedade.

Pelo menos admito que conseguir o tal ponto de apoio onde fincar a alavanca que possibilite mudar o mundo do seu estatismo natural, não será resultado de uma meditação isolada, ao estilo do eremita sofredor. Qualquer personagem histórica que se destacasse pela sua capacidade em agitar as massas, teve que, antes de se lançar à arena, conseguir um apoio. O tal fulcro onde situar a alavanca figurativa.

Recordemos que Júlio César, antes de expor as suas catilinárias já tinha conseguido ser reconhecido como um grande e valente chefe de tropa. Tinha uma corte de apoio e os portões abertos no ágora onde se tinha canalizado uma multidão, certamente já catequizada com um prévio “aquecimento”, como sempre procura ter o orador, pois que tem a obrigação der saber que não é fácil convencer uma multidão em estado “frio”. Mesmo o politiqueiro mais inexperiente, ou o neófito nos espectáculos de palco, sabe quanto vale uma preparação do ambiente.

Napoleão, Hitler, Mussolini, e outros incitadores das massas nos mostraram como se preparam os êxitos. Mesmo o profeta Jesus, teve a visão necessária para seleccionar e preparar um conjunto, mesmo que reduzido, de seguidores, adictos e predispostos a sorverem as suas palavras. O pregar no deserto, sem a garantia de um público propício, não é produtivo.

Pessoas que partilham aquele senso comum -que diz-se ser o menos comum de todos os sentidos- que julgamos possuir, existem às dúzias, aos magotes mesmo. E quantos são aqueles que conseguem ter uma audiência e dela criar um grupo de aderentes? Infelizmente, para estes sonhadores sociais, é que serão considerados como lunáticos, palhaços, loucos ou qualquer outro grupo que esteja dentro da zona dos desprezáveis, dos que não se podem aturar, nem sequer se devem ouvir. Difícil, quase impossível, é conseguir uma aceitação, a partir do nada. E como esta noção de ineficácia é extensiva, felizmente cada dia surgem menos loucos dispostos a lutar contra moinhos de vento.

2 comentários:

  1. Tem muita razão. Só duvido que cada dia haja menos loucos (todos eles têm os seus moinhos de vento, que para outros são maluquices).

    Perante a sua frustração, o melhor remédio, na minha opinião é "menos dizer/pensar/escrever e mais fazer". E nisso, cada pessoa tem a sua margem de acçâo. O importante passa a ser, não se consegue mudar o mundo, mas sim se ajudou a algumas pessoas em concreto ou em grupo. E isso é mais do que suficiente.

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  2. Agradeço, sinceramente, o seu escrito. Mas... há sempre um "mass" que espreita: incita-me a escrever menos e fazer mais, Tá verto. >Mas fazer o quê. Se estivesse em Londres agarrava num banco da cozinha, ia para o <Parque, e empoleirado começaria a discursar, até que um Bobby, com o seu cativante capacete, me fizesse descer, meter numa "ramona" e despejar-me, com todo o cuidado e educação, num hospício para chalados.

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