Pensa
devagar e obra depressa
Decidir,
assim levianamente, que devemos seguir os conselhos dos adágios
antigos é muito prometedor. Mas a dificuldade está em que a maioria
dos cidadãos -como é o meu caso- não temos muitas
possibilidades de agir positivamente e menos que as nossas locuções,
assim como as nossas hipotéticas receitas, tenham a mais mínima
força para alterar o rumo da sociedade onde estamos inseridos.
Esta
forma de admitir a derrota antes de sequer tentar entrar numa luta
aberta é, como se entende, absolutamente castradora. E pior se
possível, mostra-se ligada a um futuro que não podemos dominar,
pela falta de capacidade reactiva. Porque sempre recordamos existir
uma série bastante longa de referências em que se nos “vende”
que insignes e temerárias personagens, em geral dotadas de uma verve
inflamada, que conseguiram, por si sós (permitam que duvide...)
arrastar multidões e dar a volta a sociedade.
Pelo
menos admito que conseguir o tal ponto de apoio onde fincar a
alavanca que possibilite mudar o mundo do seu estatismo natural, não
será resultado de uma meditação isolada, ao estilo do eremita
sofredor. Qualquer personagem histórica que se destacasse pela sua
capacidade em agitar as massas, teve que, antes de se lançar à
arena, conseguir um apoio. O tal fulcro onde situar a alavanca
figurativa.
Recordemos
que Júlio César, antes de expor as suas catilinárias já tinha
conseguido ser reconhecido como um grande e valente chefe de tropa.
Tinha uma corte de apoio e os portões abertos no ágora onde se
tinha canalizado uma multidão, certamente já catequizada com um
prévio “aquecimento”, como sempre procura ter o orador, pois que
tem a obrigação der saber que não é fácil convencer uma multidão
em estado “frio”. Mesmo o politiqueiro mais inexperiente, ou o
neófito nos espectáculos de palco, sabe quanto vale uma preparação
do ambiente.
Napoleão,
Hitler, Mussolini, e outros incitadores das massas nos mostraram como
se preparam os êxitos. Mesmo o profeta Jesus, teve a visão
necessária para seleccionar e preparar um conjunto, mesmo que
reduzido, de seguidores, adictos e predispostos a sorverem as suas
palavras. O pregar no deserto, sem a garantia de um público
propício, não é produtivo.
Pessoas
que partilham aquele senso comum -que
diz-se ser o menos comum de todos os sentidos- que
julgamos possuir, existem às dúzias, aos magotes mesmo. E quantos
são aqueles que conseguem ter uma audiência e dela criar um grupo
de aderentes? Infelizmente, para estes sonhadores sociais, é que
serão considerados como lunáticos, palhaços, loucos ou qualquer
outro grupo que esteja dentro da zona dos desprezáveis, dos que não
se podem aturar, nem sequer se devem ouvir. Difícil, quase
impossível, é conseguir uma aceitação, a partir do nada. E como
esta noção de ineficácia é extensiva, felizmente cada dia surgem
menos loucos dispostos a lutar contra moinhos de vento.
Tem muita razão. Só duvido que cada dia haja menos loucos (todos eles têm os seus moinhos de vento, que para outros são maluquices).
ResponderEliminarPerante a sua frustração, o melhor remédio, na minha opinião é "menos dizer/pensar/escrever e mais fazer". E nisso, cada pessoa tem a sua margem de acçâo. O importante passa a ser, não se consegue mudar o mundo, mas sim se ajudou a algumas pessoas em concreto ou em grupo. E isso é mais do que suficiente.
Agradeço, sinceramente, o seu escrito. Mas... há sempre um "mass" que espreita: incita-me a escrever menos e fazer mais, Tá verto. >Mas fazer o quê. Se estivesse em Londres agarrava num banco da cozinha, ia para o <Parque, e empoleirado começaria a discursar, até que um Bobby, com o seu cativante capacete, me fizesse descer, meter numa "ramona" e despejar-me, com todo o cuidado e educação, num hospício para chalados.
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