ONDE ESTÁ A ADMIRAÇÃO ?
Quando
começamos a receber notícias acerca da epidemia, que se transformou
em pandemia quando se espalhou para todo o globo “e parte
do estrangeiro”, imagino, por não ter dados estatísticos
próprios mas só por fazer especulações a partir dos noticiários,
que houve uma parte importante da população ocidental que se
espantou ao saber que na China, e não só, havia um comércio de
animais exóticos, em princípio não domesticados, embora se ficasse
a saber que alguns eram criados em cercados, propositadamente para
abate e alimentação da população.
A
estes espantados podemos avisar de algumas observações a nãp
descurar.
Em
primeiro lugar sabe-se, sem fantasiar, que os nossos ancestrais, dos
quais ficaram restos e sinais do seu comportamento e alimentação,
inicialmente eram recolectores e caçadores, e nómadas,
seguindo as migrações dos animais e a maturação dos vegetais e
seus frutos.
Mais
tarde evoluíram. Tornaram-se sedentários e foram descobrindo
os primeiros princípios da agricultura. De de imediato
conseguiram domesticar algumas espécies de animais a fim de,
através deles, poder usufruir de proteínas, peles e também lâ
para se resguardarem do frio. Além de que alguns deste animais
domésticos foram treinados para serem uma força “de carne” que
os ajudasse no trabalho e nas suas deslocações. Nunca mais pararam
de aproveitar as possibilidades que o solo e a vida natural lhes
ofereciam, fosse directamente ou após transformações.
Quando
caçavam, actividade que ainda hoje é procurada e praticada (por
indivíduos que se auto-qualificam de educados, evoluídos e pode ser
que com excessiva auto-valorização se considerem ser respeitadores
da natureza, incluindo a fauna silvestre) a regra era de
que tudo aquilo que voava, nadasse, corresse ou reptasse, caso o
conseguissem apanhar, era uma fonte de proteínas a não desprezar. E
assim estamos, desprezando os animais que são utilizados
abusivamente, sem atender e menos respeitar mínimamente às suas
necessidades naturais. Todos terminamos fechando os olhos, por muitas
denuncias que nos cheguem.
Aceitando
que, apesar de tudo o que se viveu e evoluiu, as necessidades
proteicas dos que não se devotam às normas “vegan” são
normais, e que nem sequer as civilizações milenárias, como é a
chinesa, podem garantir a ingestão de proteínas obtidas
“legalmente” a partir da criação de gado, pesca e inclusive de
plantas que fornecem proteínas, para a totalidade das suas
populações, é fácil entender que ali se comam gatos, cães,
ratos, morcegos, pangolins, cagados, lagartos, insectos, larvas e
peixes de todas as espécies. Não esqueço que existiu nos
super-mercados nacionais se encontravam à venda filetes de crocodilo
ou jacaré, ou seja de répteis que não era tradição actual
comermos.
Regressando
à China, é de recordar que nem todos os animais selvagens que
comercializam o são para satisfazer as necessidades alimentares,
pelas suas proteínas. Partes destes animais são consideradas como
medicamentos valiosos na sua medicina tradicional. Tampouco não
podemos ficar admirados do que hoje são valorizadas como bruxarias e
mistelas potencialmente perniciosas.
Finalmente
acredito, e quase posso garantir, que qualquer oriental que compre
uma perna de cão para assar e comer, caso lhe dessem um bom bife da
vazia para troca, de imediato rejeitava o petisco local.
Como
vivência pessoal, embora indirectamente, refiro que durante anos
frequentávamos um restaurante chinês,que considerávamos de
confiança e que nos satisfazia. Ficamos conhecidos pelo casal que
explorava o local. Conversávamos ao entrar, durante o repasto e no
fim. Um dia o dono, João na nossa língua, nos avisou de que ás
quartas não nos podia atender. Não estava ali. Juntava-se com
outros patrícios seus e iam almoçar juntos. E dizendo que sempre
comiam o mesmo! Se adivinhávamos qual era o seu prato português que
todos eles apreciavam? Cozido !!!!!
Passados
una anos, depois de termos estado fora de Portugal por razoes
profissionais minhas, soubemos que o casal tinha trespassado o
restaurante. Reformaram-se. E os encontramos inesperadamente em
alguns locais. Uma alegria! Beijos, abraços e uns minutos de
cavaqueira de saudade, perguntar pelos filhos respectivos, da
evolução destes, e saber que estavam felizes em Portugal.
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