sexta-feira, 3 de abril de 2020

MEDITAÇÕES – Há mais maleitas




AS MEDIDAS SÃO SUFICIENTES ?

A nossa sociedade, -que nunca devemos esquecer o facto de que continua muito classicista- aderiu, com medo, a umas medidas de prevenção que, sem serem discutidas com profundidade, foram aceites sem, até o momento, sem grandes protestos ou receios de poder dar sinais de insuficientes e até pecarem de irrealistas.

Vejamos o que nos deveria preocupar, sem ser exclusivamente o vírus que se apresenta como agressivo e invisível, mas que se admite poder ser combatido com os progressos que a medicina nos pode dar em breve prazo. Aceitemos esta visão técnica e até bastante sensata.

Mas é mesmo sensata para todos os quadrantes? Sem dúvida que aqueles que usufruem de uma almofada económica razoável, seja pelo seu pé-de-meia pessoal ou porque o Estado se dispõe a suprir uma parcela dos fundos monetários necessários, sem nos avisar de quanto tempo, semanas, meses ou até anos, se pode aguentar emitindo papel moeda continuadamente. Um caminho que pode ir, com forte probabilidade, a uma escassez de bens essenciais e, paralelamente, a uma hiperinflacção, mais o quase inevitável mercado negro.

Por vaidade ou por ignorância do que a ponderação histórica nos deve alertar, aguentamos estar reclusos em casa. Porque não existe o perigo sem medo de bombardeios ou de tropas inimigas que nos agridam caso surgirmos nas ruas. Aceitamos os cuidados de distância entre pessoas nas filas, pequenas por enquanto, nas lojas de alimentação que ainda estão abertas. Tudo isto inocentemente convencidos que estamos numa situação transitória, “possivelmente” breve. E se for longa? Estão os países da nossa zona preparados para resistir um isolamento e paragem profissional longa? Duvido. E nos podem ajudar?

Um exemplo, entre outros: Clausuraram-se as feiras. Tudo bem. Ou nem tudo? Nas feiras tradicionais, semanais, todos sabemos que havia um bloco importante de feirantes em exclusividade -a não ser que, de facto, também se dedicassem ao tráfego de produtos alucinogénos- Quase todos de etnia cigana, e muitos deles com cidadania portuguesa, mas sempre vistos como uma minoria pouco controlada, perderão o seu modo de se financiar -e com eles as empresas ou fabricas e oficinas que lhes forneciam a contrafacção- E agora? Nem pretendo indicar para que actividades se poderão orientar.

E a enorme quantidade de pessoas com empregos muito precários, que se viram desempregados sem “direito” a terem acesso ao fundo de desemprego? Quando chegarem ao nível da pobreza absoluta podemos ter a surpresa de que serão multidão. Que farão estes deserdados e que fará a autoridade que nos representa?

Por enquanto o que nos caiu em cima é canja, aguenta-se com algo de estoicidade, mas por enquanto sem passar fome nem frio. Os subsídios e adiamentos não podem esconder que terão que ser revertidos, pagos, e com juros, pois que a produção de notas não esquece a pressão do Ministério das Finanças, digamos dos Impostos.

Situações equivalentes, e relativamente recentes, conduziram estados a ter que declarar banca-rota. Pois, pois! Pensamos que os colegas e amigos nos ajudarão! E e forem “Amigos de Peniche”, com problemas próprios que os desaconselhem a dar a mão aos outros quando na sua terra também haja fortes carências?

Uma das possíveis evoluções da situação actual, que insisto não ser grave para muitos, mas bastante preocupante para muitos mais, em especial pelo facto de que atingiu uma dispersão mundial do problema, é que o êxodo do campo para as cidades venha a ter um refluxo, ou seja, que muitos dos que se sintam desamparados, com risco imediato de carência alimentar, se decidam a procurar acolhimento entre aqueles que ficaram nas suas localidades de origem. Em zonas quase que improdutivas, e onde não existem os salva-vidas de empregos remunerados -que já foram permanentes, mas já não são. Aqueles “resistentes” que se visitavam nas férias (se não partissem num cruzeiro a pagar em prestações) e ao partir levavam aos seus habitáculos suburbanos, cargas de batatas, azeite e hortaliças que os velhotes amanharam.

A sociedade, quase que estável, a que nos habituamos, teve grandes penalidades nos países que sofreram a segunda guerra mundial. O que eu deixei em alerta é pouco, em comparação geral com o que as pessoas comuns, os que não estavam no nível das elites, tiveram que suportar. E alguns sobreviveram. São os avós dos que hoje tremem com um medo que não conhecem.

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