AS
MEDIDAS SÃO SUFICIENTES ?
A
nossa sociedade, -que nunca
devemos esquecer o facto de que continua muito classicista-
aderiu, com medo, a umas medidas de prevenção que, sem serem
discutidas com profundidade, foram aceites sem, até o momento, sem
grandes protestos ou receios de poder dar sinais de insuficientes e
até pecarem de irrealistas.
Vejamos
o que nos deveria preocupar, sem ser exclusivamente o vírus que se
apresenta como agressivo e invisível, mas que se admite poder ser
combatido com os progressos que a medicina nos pode dar em breve
prazo. Aceitemos esta visão técnica e até bastante sensata.
Mas
é mesmo sensata para todos os quadrantes? Sem dúvida que aqueles
que usufruem de uma almofada económica razoável, seja pelo seu
pé-de-meia pessoal ou porque o Estado se dispõe a suprir uma
parcela dos fundos monetários necessários, sem nos avisar de
quanto tempo, semanas, meses ou até anos, se pode aguentar emitindo
papel moeda continuadamente. Um caminho que pode ir, com forte
probabilidade, a uma escassez de bens essenciais e, paralelamente, a
uma hiperinflacção, mais o quase inevitável mercado negro.
Por
vaidade ou por ignorância do que a ponderação histórica nos deve
alertar, aguentamos estar reclusos em casa. Porque não existe o
perigo sem medo de bombardeios ou de tropas inimigas que nos agridam
caso surgirmos nas ruas. Aceitamos os cuidados de distância entre
pessoas nas filas, pequenas por enquanto, nas lojas de alimentação
que ainda estão abertas. Tudo isto inocentemente convencidos que
estamos numa situação transitória, “possivelmente” breve. E se
for longa? Estão os países da nossa zona preparados para resistir
um isolamento e paragem profissional longa? Duvido. E nos podem
ajudar?
Um
exemplo, entre outros: Clausuraram-se as feiras. Tudo bem. Ou nem
tudo? Nas feiras tradicionais, semanais, todos sabemos que havia um
bloco importante de feirantes em exclusividade -a
não ser que, de facto, também se dedicassem ao tráfego de produtos alucinogénos- Quase todos de etnia cigana, e muitos
deles com cidadania portuguesa, mas sempre vistos como uma minoria
pouco controlada, perderão o seu modo de se financiar -e com
eles as empresas ou fabricas e oficinas que lhes forneciam a
contrafacção- E agora? Nem pretendo indicar para que
actividades se poderão orientar.
E
a enorme quantidade de pessoas com empregos muito precários, que se
viram desempregados sem “direito” a terem acesso ao fundo de
desemprego? Quando chegarem ao nível da pobreza absoluta podemos ter
a surpresa de que serão multidão. Que farão estes deserdados e que
fará a autoridade que nos representa?
Por
enquanto o que nos caiu em cima é canja, aguenta-se com algo de
estoicidade, mas por enquanto sem passar fome nem frio. Os subsídios
e adiamentos não podem esconder que terão que ser revertidos,
pagos, e com juros, pois que a produção de notas não esquece a
pressão do Ministério das Finanças, digamos dos Impostos.
Situações
equivalentes, e relativamente recentes, conduziram estados a ter que
declarar banca-rota. Pois, pois! Pensamos que os colegas e amigos nos
ajudarão! E e forem “Amigos de Peniche”, com problemas próprios
que os desaconselhem a dar a mão aos outros quando na sua terra
também haja fortes carências?
Uma
das possíveis evoluções da situação actual, que insisto não ser
grave para muitos, mas bastante preocupante para muitos mais, em
especial pelo facto de que atingiu uma dispersão mundial do
problema, é que o êxodo do campo para as cidades venha a ter um
refluxo, ou seja, que muitos dos que se sintam desamparados, com
risco imediato de carência alimentar, se decidam a procurar
acolhimento entre aqueles que ficaram nas suas localidades de origem.
Em zonas quase que improdutivas, e onde não existem os salva-vidas de
empregos remunerados -que já
foram permanentes, mas já não são. Aqueles
“resistentes” que se visitavam nas férias (se
não partissem num cruzeiro a pagar em prestações) e ao
partir levavam aos seus habitáculos suburbanos, cargas de batatas,
azeite e hortaliças que os velhotes amanharam.
A
sociedade, quase que estável, a que nos habituamos, teve grandes
penalidades nos países que sofreram a segunda guerra mundial. O que
eu deixei em alerta é pouco, em comparação geral com o que as
pessoas comuns, os que não estavam no nível das elites, tiveram que suportar. E alguns sobreviveram. São os avós dos que hoje tremem
com um medo que não conhecem.
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