- José,
por donde andas? Eu estou quase de regresso para o Vale e tratei de
bastantes coisas. O assunto vai adiantando. Com sossego os temas
vão-se compondo. Já estive nos dois salões da Vila, mas terei que
te explicar com pormenor. Também fomos às compras de não
perecíveis, e agora, a Dona Idalina e eu, mais as duas encarregadas,
entraremos para almoçar na Caleche, que é o nome do
restaurante típico onde comemos com o Medeiros. Quero sondar umas
hipóteses com a dona, a senhora Gertrudes, pois além de a conhecer
de outras alturas sempre me pareceu pessoa honesta e de confiança.
Até logo. Uma beijoca.
- Estava
admirado por não teres telefonado; mas também pensei que andasses
atarefada com os capítulos que te atribuíste, e que agradeço a tua
ajuda, preciosa. Eu já falei com o Ernesto, e ele me dará a sua
lista amanhã de manhã. Entramos na adega. Aquilo é grande que
chegue, mas implica bastante trabalho de limpeza e arrumações, além
de que, como tu pensaste, vai ser imprescindível, além da limpeza,
dar uma caiação geral. O Ernesto toma conta destas duas
empreitadas, mas, vai precisar da ajuda de mais um ou dois homens,
que ele mesmo escolherá. Daqui a pouco vou cair na Junta para falar
como Medeiros, em especial para lhe pedir opinião,ou ajuda, quanto
ao reforço de potencia na adega, pois que ali há umas miseráveis
lâmpadas penduradas que, à noite devem fazer ver fantasmas e
blisómens, como dizem os do campo
À
noite telefonarei aos meus filhos, para marcar presença e lhes falar
no almoço popular. Se eles quiserem aparecer, sem que isso os
dispense da tal prevista reunião familiar, teremos muito gosto de
que nos acompanhem, mas nada de obrigação. Entendes? E tu, deves ir
tentando falar com o teu irmão Óscar.
- Amigo
Medeiros, pode atender-me como Presidente da Junta?
- Com
certeza, Amigo Maragato e em primeiro lugar como pessoa amiga que é,
depois, também como Presidente da Junta naquilo que lhe puder ser
útil. Para si, esta porta admito que estará sempre aberta.
- Obrigado
e uma bacalhauzada de cumprimento.
- Já
tenho aqui uma minuta como nome dos que me acompanharão; só tive
que inserir mais um por causa dos melindres. Trata-se do chefe das
oficinas, um tal Camilo Pereira, que é homem que se sente muito
importante e é, pois dele depende o funcionamento de muitos sectores
imprescindíveis. O pessoal da ferrugem e das faíscas são bastante
ciosos das suas capacidades.
- Foi
bom o Medeiros ter-se lembrado a tempo, pois aquilo para que lhe
venho a pedir orientação pode ser que vá tocar nos serviços deste
seu funcionário, que provavelmente é mais antigo na casa do que o
próprio Medeiros. Acontece que depois de analisar os múltiplos
capítulos que é necessário decidir e afinar, além de que
recordando que situação na origem esta a promessa de uma adiafa
como complemento compensatório ao que paguei pelo trabalho de
limpeza da mata, nós, o casal, concordamos em que se o almoço de
convívio se pudesse fazer no nosso terreno era muito simpático.
E
creio que já lhe falei na hipótese de aproveitar a antiga adega,
que por ora está practicamente inactiva, mas não totalmente vazia.
Hoje mesmo estive no interior, mais o nosso feitor, e combinamos a
necessidade de fazer uma forte limpeza geral, uma arrumação das
alfaias, deitar fora o que não servir para nada, nem para se mostrar
como antiguidade, e darem uma caiação geral. Como imagina há
trabalho para uma equipa de esforçados trabalhadores. O feitor se
encarrega de organizar este pequeno exército.
E,
em complemento, pensamos em que não podemos confiar no facto de que
os dias já estão mais longos. Todos sabemos que depois de um
repasto agradável -que esperamos seja- as conversas são
sempre demoradas e não é de bom tom abrir a porta e dar a entender
que queremos que o pessoal se despache para a sua vida. Não se pode
convidar ninguém com prazo certo; não é um contrato de trabalho.
Posto isso temos que garantir uma iluminação capaz, e até o ter
potência para um bom frigorífico, mais uma arca de refrigeração,
uma máquina de café quase profissional e um par de micro-ondas se
forem necessários. Tudo isso tem que funcionar com garantia de que a
rede da adega aguenta o consumo, ou a carga sendo mais correcto.
E
para nos precaver, antes de procurar um especialista na Vila ou em
Aveiro, pode ser de boa política pedir a opinião do vosso Camilo
Pereira, se a si lhe parecer bem. Se este senhor estiver disponível,
amanhã a uma hora que ele determinar, gostosamente o viria procurar
e o acompanharia ao local “do crime”. Nada de confundir com o
crime do já identificado desgraçado.
- Meu
caro amigo, isto é mais do que normal. Vou já ligar para as
oficinas e veremos se podemos contar como Pereira. Mas antes de que o
Maragato siga para os seus pequenos ou grandes afazeres derivados da
sua prometida adiafa. Caso seja esta a primeira vez em que se meteu a
organizar um ágape para bastantes comensais, já deve estar vendo
que está metido numa camisa de onze varas.
- É
precisamente o que dizemos um ao outro, lá em casa.
- Por
isso quero perguntar-lhe se, por acaso, tem mobiliário, digamos
mesas e cadeiras, suficientes para sentar a tropa toda, pois se for
necessário teremos muito prazer em ceder algum do equipamento que
temos em armazém, que nos tem servido para mobilar o pavilhão em
ocasiões semelhantes.
- O Amigo Medeiros parece que adivinha. A Isabel e eu já pensamos em se
deveríamos alugar mobiliário a uma destas agências que preparam
casamentos. Mas, segundo nos informaram estes empresários querem
todo o serviços completo, até propõem erguer uma tenda! Acontece
que a Isabel prefere encarregar-se pessoalmente da ementa de comes e
bebes, sem depender de estranhos, e de encomendar, por separado, os
serviços pontuais para os que não temos habilitações nem
equipamento. Logo que fale com ela, e saibamos o total de presenças
procurarei o amigo Medeiros e se for factível possivelmente
aceitarei a sua oferta.
Continuará
no Capítulo XXXIV
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