sexta-feira, 13 de abril de 2018

CRÓNICAS DO VALE – Cap. 33




- José, por donde andas? Eu estou quase de regresso para o Vale e tratei de bastantes coisas. O assunto vai adiantando. Com sossego os temas vão-se compondo. Já estive nos dois salões da Vila, mas terei que te explicar com pormenor. Também fomos às compras de não perecíveis, e agora, a Dona Idalina e eu, mais as duas encarregadas, entraremos para almoçar na Caleche, que é o nome do restaurante típico onde comemos com o Medeiros. Quero sondar umas hipóteses com a dona, a senhora Gertrudes, pois além de a conhecer de outras alturas sempre me pareceu pessoa honesta e de confiança. Até logo. Uma beijoca.

- Estava admirado por não teres telefonado; mas também pensei que andasses atarefada com os capítulos que te atribuíste, e que agradeço a tua ajuda, preciosa. Eu já falei com o Ernesto, e ele me dará a sua lista amanhã de manhã. Entramos na adega. Aquilo é grande que chegue, mas implica bastante trabalho de limpeza e arrumações, além de que, como tu pensaste, vai ser imprescindível, além da limpeza, dar uma caiação geral. O Ernesto toma conta destas duas empreitadas, mas, vai precisar da ajuda de mais um ou dois homens, que ele mesmo escolherá. Daqui a pouco vou cair na Junta para falar como Medeiros, em especial para lhe pedir opinião,ou ajuda, quanto ao reforço de potencia na adega, pois que ali há umas miseráveis lâmpadas penduradas que, à noite devem fazer ver fantasmas e blisómens, como dizem os do campo

À noite telefonarei aos meus filhos, para marcar presença e lhes falar no almoço popular. Se eles quiserem aparecer, sem que isso os dispense da tal prevista reunião familiar, teremos muito gosto de que nos acompanhem, mas nada de obrigação. Entendes? E tu, deves ir tentando falar com o teu irmão Óscar.

- Amigo Medeiros, pode atender-me como Presidente da Junta?

- Com certeza, Amigo Maragato e em primeiro lugar como pessoa amiga que é, depois, também como Presidente da Junta naquilo que lhe puder ser útil. Para si, esta porta admito que estará sempre aberta.

- Obrigado e uma bacalhauzada de cumprimento.

- Já tenho aqui uma minuta como nome dos que me acompanharão; só tive que inserir mais um por causa dos melindres. Trata-se do chefe das oficinas, um tal Camilo Pereira, que é homem que se sente muito importante e é, pois dele depende o funcionamento de muitos sectores imprescindíveis. O pessoal da ferrugem e das faíscas são bastante ciosos das suas capacidades.

- Foi bom o Medeiros ter-se lembrado a tempo, pois aquilo para que lhe venho a pedir orientação pode ser que vá tocar nos serviços deste seu funcionário, que provavelmente é mais antigo na casa do que o próprio Medeiros. Acontece que depois de analisar os múltiplos capítulos que é necessário decidir e afinar, além de que recordando que situação na origem esta a promessa de uma adiafa como complemento compensatório ao que paguei pelo trabalho de limpeza da mata, nós, o casal, concordamos em que se o almoço de convívio se pudesse fazer no nosso terreno era muito simpático.

E creio que já lhe falei na hipótese de aproveitar a antiga adega, que por ora está practicamente inactiva, mas não totalmente vazia. Hoje mesmo estive no interior, mais o nosso feitor, e combinamos a necessidade de fazer uma forte limpeza geral, uma arrumação das alfaias, deitar fora o que não servir para nada, nem para se mostrar como antiguidade, e darem uma caiação geral. Como imagina há trabalho para uma equipa de esforçados trabalhadores. O feitor se encarrega de organizar este pequeno exército.

E, em complemento, pensamos em que não podemos confiar no facto de que os dias já estão mais longos. Todos sabemos que depois de um repasto agradável -que esperamos seja- as conversas são sempre demoradas e não é de bom tom abrir a porta e dar a entender que queremos que o pessoal se despache para a sua vida. Não se pode convidar ninguém com prazo certo; não é um contrato de trabalho. Posto isso temos que garantir uma iluminação capaz, e até o ter potência para um bom frigorífico, mais uma arca de refrigeração, uma máquina de café quase profissional e um par de micro-ondas se forem necessários. Tudo isso tem que funcionar com garantia de que a rede da adega aguenta o consumo, ou a carga sendo mais correcto.

E para nos precaver, antes de procurar um especialista na Vila ou em Aveiro, pode ser de boa política pedir a opinião do vosso Camilo Pereira, se a si lhe parecer bem. Se este senhor estiver disponível, amanhã a uma hora que ele determinar, gostosamente o viria procurar e o acompanharia ao local “do crime”. Nada de confundir com o crime do já identificado desgraçado.

- Meu caro amigo, isto é mais do que normal. Vou já ligar para as oficinas e veremos se podemos contar como Pereira. Mas antes de que o Maragato siga para os seus pequenos ou grandes afazeres derivados da sua prometida adiafa. Caso seja esta a primeira vez em que se meteu a organizar um ágape para bastantes comensais, já deve estar vendo que está metido numa camisa de onze varas.

- É precisamente o que dizemos um ao outro, lá em casa.

- Por isso quero perguntar-lhe se, por acaso, tem mobiliário, digamos mesas e cadeiras, suficientes para sentar a tropa toda, pois se for necessário teremos muito prazer em ceder algum do equipamento que temos em armazém, que nos tem servido para mobilar o pavilhão em ocasiões semelhantes.

- O Amigo Medeiros parece que adivinha. A Isabel e eu já pensamos em se deveríamos alugar mobiliário a uma destas agências que preparam casamentos. Mas, segundo nos informaram estes empresários querem todo o serviços completo, até propõem erguer uma tenda! Acontece que a Isabel prefere encarregar-se pessoalmente da ementa de comes e bebes, sem depender de estranhos, e de encomendar, por separado, os serviços pontuais para os que não temos habilitações nem equipamento. Logo que fale com ela, e saibamos o total de presenças procurarei o amigo Medeiros e se for factível possivelmente aceitarei a sua oferta.

Continuará no Capítulo XXXIV


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