domingo, 8 de abril de 2018

CRÓNICAS DO VALE - Cap. 28

DEDICATÓRIA

Este capítulo, assim como o e os que eventualmente podem seguir-se  (caso a vergonha não me atacar) dedico-os aos meus 4 a 6 seguidores NÃO IDENTIFICADOS, mas que além de merecerem a minha estima mostram uma dose de massoquismo deveras elevada. Abraços electrónicos.

O casal reúne-se

- Isabel, onde estás? Eu já terminei as minhas conversas com O Victor Moreira e o sócio Raul Reis. Nada de novo que se possa contar pelo telefone. Podemos encontrar-nos onde te calhar melhor, seja em Aveiro ou na Vila. Espero a tua resposta para poder decidir.

- Cheguei há momentos ao salão da Vila, e tenho alguns assuntos para ver e decidir. O melhor é esperar por ti aqui, e consoante a hora em decidimos para donde e como avançar. Mas pode demorar coisa de mais de uma hora a partir de agora. Beijinho.

- Senhor Presidente? Boa tarde. Sou o José Maragato, ou , Maravilhas se preferir e estou a caminho da Vila, ou do Vale se as coisas se arrumarem. É que me lembrei de caso não tenha o serão muito ocupado podíamos jantar juntos, mais a minha esposa, pois que casamos três ou quatro dias atrás. O que me diz sobre este convite inesperado?

- Boa tarde amigo Maragato, é um prazer falar consigo depois de uns dias de ausência. E dentro e uma hora, pouco mais ou menos, posso dispor do meu tempo livre para poder conversar e cumprimentar a sua recente esposa. Se não lhe parece mal penso que seria preferível jantar, com sossego, num local da Vila. Conheço um restaurante, pequeno mas de bom tamanho, onde a cozinheira é asseada e confere bons paladares aos pratos que servem. Pode ser? Ah, já me esquecia, peço que em privado não me trate por Presidente, sou, para si, simplesmente Medeiros.

- Sendo assim, fica tudo combinado, e agradeço a sua disponibilidade, Amigo Sr. Macário. Nos encontraremos no largo da Câmara Municipal.

- Isabel. Vou encontrar-me contigo na Vila, deixarei o carro no largo da Cãmara. E jantaremos num local que devo conhecer, mas que o nosso convidado pretende indicar. Não te admires de meter companhia na mesa, mas já te tinha dito que tinha que conversar com o Presidente da Junta de freguesia do Vale, e um encontro num lugar mais ou menos neutro pode ser menos protocolar, como sei que entendes. Teremos tempo para por os nossos assuntos privados em dia quando chegarmos a casa. Ainda vou telefonar a Dona Idalina.

- Dona Idalina? Boa tarde. É para lhe dizer que vamos passar a noite na mansão, mas jantaremos na Vila. Como está frescote e a cama deve estar gelada seria bom que já de noite ponha um saco de água quente a meio da cama. Eu ligarei da Vila quando estivermos para nos meter em caminho. Tenha, também, qualquer coisa para o pequeno almoço. É tudo, obrigado e desculpe ser tão em cima da hora.

- Não tem que pedir desculpa menino José, que ainda o vejo com calções brincando no jardim, tentando apanhar os pardais.
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Já na Vila

- Boa tarde. Como está a menina Sofia? Que está bem vejo eu. Se não ficasse feio eu dizer isso dispararia que está mesmo apetitosa. Mas, cuidado, não fui eu que me atrevi a tanto, foi o diabo que carrego. Pode avisar à Dona do salão, minha conhecida Isabel, que já cheguei?

- Vou já dizer a Dona Isabel que está aqui. E grata pelo seu piropo. Os seus ditos não são daqueles de denunciar na esquadra.

- Eu não entro porque, se não estou errado, deve estar em reunião com a encarregada, e não é bom atrapalhar reuniões. Vou-me entreter com esta literatura, muito séria, que tem à disposição do excelentíssimo mulherame que procura embelezar-se, ainda mais do que a natureza lhes facilitou, neste salão que as cuida com esmero. Diga lá dentro que não tenho pressa. Espero o tempo que for preciso para poder ser atendido.

- José. És um brincalhão incorrigível, e deixas o pessoal baralhado com as tuas graças. Espero que desta feita não tenhas sido excessivamente atrevido, pelo menos não tanto como é o teu habitual. 

Vou só dar um retoque e vestir um agasalho para poder acompanhar este cavalheiro, antes de que chegue o meu marido, que disse que vinha cá ter. Oxalá que não nos apanhe. 

Não és só tu que sabes desconversar !

Então, não tens novidades?

- Algumas, mas pouco importantes. Para começar os amigos do peito -a pagar, quando se entra no campo profissional como é óbvio-  informaram-me que, por enquanto não lhes chegou mais nenhum pormenor acerca do morto. 

Para a Judiciária ainda deve ser coisa fresca; nem sequer está no segredo do sumário, pois diz-se que o primeiro relatório não foi entregue. As previsões mantém-se na mesma. Que aquilo deve ter começado naquela festa de rebaldaria. Na qual certamente meteram-se no terceiro ou quarto grau. Tudo bêbado ou quase, se não drogados com picas, fumo e pó branco. Já sabemos o que a casa gasta nestes encontros, onde misturam gente bem, endinheirados e de posição, com membros da ralé, eles, elas e ambiguos como o travesti em questão. Habitualmente são nojentamente usados e. se for entendido como necessário, deitados fora, o que equivale a os fazer desaparecer do mapa. Nada que não tivéssemos comentado entre nós.

Daquela minha ideia de transferir o meu escritório “fantasma” da Vila para Coimbra, nem sequer falei, pois que, friamente, entendi que no que está bem não se deve mexer. E a situação que mantive até agora cumpriu, a gosto, a necessidade de recato. Sabes, ou ouviste dizer, que o segredo é a alma do negócio. E os negócios dos Maragato sempre se trataram com muito cuidado, sigilo e à distância. Recorda aquele provérbio que te disse na viagem de comboio: Uma mão convêm que não saiba o que faz a outra. Portanto não leves a mal que nalguns temas te cheire que escondo cartas na manga. É para nosso resguardo, meu e teu.

Do que sim tratei foi de os convidar para o almoço no Vale. Só precisam de saber a data, e se for num sábado ou domingo, dias em que não há julgamentos, em princípio estarão disponíveis e agradados em nos poder acompanhar. O sondarem o inspector da Judiciária não sabem se é boa ideia. Tudo depende de se fazerem encontrados e ver que face lhes mostra. Já nos informarão. Quem sabe se o homem se põe a jeito.

Olha, já chegou o homem da Junta de Freguesia.


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