Este capítulo, assim como o e os que eventualmente podem seguir-se (caso a vergonha não me atacar) dedico-os aos meus 4 a 6 seguidores NÃO IDENTIFICADOS, mas que além de merecerem a minha estima mostram uma dose de massoquismo deveras elevada. Abraços electrónicos.
O
casal reúne-se
- Isabel, onde estás? Eu já terminei
as minhas conversas com O Victor Moreira e o sócio Raul Reis. Nada
de novo que se possa contar pelo telefone. Podemos encontrar-nos onde
te calhar melhor, seja em Aveiro ou na Vila. Espero a tua resposta
para poder decidir.
- Cheguei
há momentos ao salão da Vila, e tenho alguns assuntos para ver e
decidir. O melhor é esperar por ti aqui, e consoante a hora em
decidimos para donde e como avançar. Mas pode demorar coisa de mais
de uma hora a partir de agora. Beijinho.
- Senhor
Presidente? Boa tarde. Sou o José Maragato, ou , Maravilhas se
preferir e estou a caminho da Vila, ou do Vale se as coisas se
arrumarem. É que me lembrei de caso não tenha o serão muito
ocupado podíamos jantar juntos, mais a minha esposa, pois que
casamos três ou quatro dias atrás. O que me diz sobre este convite
inesperado?
- Boa
tarde amigo Maragato, é um prazer falar consigo depois de uns dias
de ausência. E dentro e uma hora, pouco mais ou menos, posso dispor
do meu tempo livre para poder conversar e cumprimentar a sua recente
esposa. Se não lhe parece mal penso que seria preferível jantar,
com sossego, num local da Vila. Conheço um restaurante, pequeno mas
de bom tamanho, onde a cozinheira é asseada e confere bons paladares
aos pratos que servem. Pode ser? Ah, já me esquecia, peço que em
privado não me trate por Presidente, sou, para si, simplesmente
Medeiros.
- Sendo assim, fica tudo combinado, e agradeço a sua disponibilidade, Amigo Sr. Macário. Nos encontraremos no largo da Câmara
Municipal.
- Isabel.
Vou encontrar-me contigo na Vila, deixarei o carro no largo da
Cãmara. E jantaremos num local que devo conhecer, mas que o nosso
convidado pretende indicar. Não te admires de meter companhia na
mesa, mas já te tinha dito que tinha que conversar com o Presidente
da Junta de freguesia do Vale, e um encontro num lugar mais ou menos
neutro pode ser menos protocolar, como sei que entendes. Teremos
tempo para por os nossos assuntos privados em dia quando chegarmos a
casa. Ainda vou telefonar a Dona Idalina.
- Dona
Idalina? Boa tarde. É para lhe dizer que vamos passar a noite na
mansão, mas jantaremos na Vila. Como está frescote e a cama deve
estar gelada seria bom que já de noite ponha um saco de água quente
a meio da cama. Eu ligarei da Vila quando estivermos para nos meter
em caminho. Tenha, também, qualquer coisa para o pequeno almoço. É
tudo, obrigado e desculpe ser tão em cima da hora.
- Não
tem que pedir desculpa menino José, que ainda o vejo com calções brincando no jardim, tentando apanhar os
pardais.
….
Já na Vila
- Boa
tarde. Como está a menina Sofia? Que está bem vejo eu. Se não ficasse
feio eu dizer isso dispararia que está mesmo apetitosa. Mas,
cuidado, não fui eu que me atrevi a tanto, foi o diabo que carrego.
Pode avisar à Dona do salão, minha conhecida Isabel, que já
cheguei?
- Vou
já dizer a Dona Isabel que está aqui. E grata pelo seu piropo. Os seus ditos não são daqueles de denunciar na esquadra.
- Eu
não entro porque, se não estou errado, deve estar em reunião com a
encarregada, e não é bom atrapalhar reuniões. Vou-me entreter com
esta literatura, muito séria, que tem à disposição do
excelentíssimo mulherame que procura embelezar-se, ainda mais do que
a natureza lhes facilitou, neste salão que as cuida com esmero. Diga
lá dentro que não tenho pressa. Espero o tempo que for preciso para
poder ser atendido.
- José.
És um brincalhão incorrigível, e deixas o pessoal baralhado com as
tuas graças. Espero que desta feita não tenhas sido excessivamente
atrevido, pelo menos não tanto como é o teu habitual.
Vou só dar
um retoque e vestir um agasalho para poder acompanhar este
cavalheiro, antes de que chegue o meu marido, que disse que vinha cá
ter. Oxalá que não nos apanhe.
Não és só tu que sabes
desconversar !
Então,
não tens novidades?
- Algumas,
mas pouco importantes. Para começar os amigos do peito -a pagar, quando se entra no campo profissional como é óbvio- informaram-me
que, por enquanto não lhes chegou mais nenhum pormenor acerca do
morto.
Para a Judiciária ainda deve ser coisa fresca; nem sequer
está no segredo do sumário, pois diz-se que o primeiro relatório
não foi entregue. As previsões mantém-se na mesma. Que aquilo deve
ter começado naquela festa de rebaldaria. Na qual certamente meteram-se no
terceiro ou quarto grau. Tudo bêbado ou quase, se não drogados com
picas, fumo e pó branco. Já sabemos o que a casa gasta nestes
encontros, onde misturam gente bem, endinheirados e de posição, com
membros da ralé, eles, elas e ambiguos como o travesti em questão. Habitualmente são nojentamente usados e. se for entendido
como necessário, deitados fora, o que equivale a os fazer
desaparecer do mapa. Nada que não tivéssemos comentado entre nós.
Daquela
minha ideia de transferir o meu escritório “fantasma” da Vila
para Coimbra, nem sequer falei, pois que, friamente, entendi que no que
está bem não se deve mexer. E a situação que mantive até agora
cumpriu, a gosto, a necessidade de recato. Sabes, ou ouviste dizer,
que o segredo é a alma do negócio. E os negócios dos Maragato
sempre se trataram com muito cuidado, sigilo e à distância. Recorda aquele
provérbio que te disse na viagem de comboio: Uma mão convêm que
não saiba o que faz a outra. Portanto não leves a mal que nalguns
temas te cheire que escondo cartas na manga. É para nosso resguardo,
meu e teu.
Do
que sim tratei foi de os convidar para o almoço no Vale. Só
precisam de saber a data, e se for num sábado ou domingo, dias em que não
há julgamentos, em princípio estarão disponíveis e agradados em
nos poder acompanhar. O sondarem o inspector da Judiciária não
sabem se é boa ideia. Tudo depende de se fazerem encontrados e ver
que face lhes mostra. Já nos informarão. Quem sabe se o homem se
põe a jeito.
Olha,
já chegou o homem da Junta de Freguesia.
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