domingo, 15 de abril de 2018

CRÓNICAS DO VALE – Cap. 35


Fofoquices

Enquanto jantamos não é de bom tom falar de trabalho, e menos de problemas, pois faz mal à digestão. E se não faz, acreditemos em que é preferível guardar estes assuntos para depois. E eu prometi que daria uns exemplos das intimidades que as mulheres , nem todas é verdade, mas muitas gostam de sacudir na janela, como quem diz. Por vezes se escondem com um “diz-se por aí”, “não sei de quem se trata” e outras tácticas de disfarce tão pueris que ninguém duvida que as conhece em primeira mão.

Uma história aparentemente incrível, mas que mais tarde fiquei a saber que é mais frequente do que os bem intencionado imaginamos, foi-me contada, em privado, sem que mais ninguém ouvisse, por uma senhora muito respeitável, bem na casa dos 50 para 60, que me chamou de parte a fim de desabafar de algo que lhe pesava tanto na sua cabeça que sentia a necessidade de contar a outra pessoa, mas que fosse de confiança. Via-se bem que o assunto lhe era penoso, tão pesado que chegava a dar pena, e mais quando vi que os seus olhos se tornaram rasos de lágrimas, mesmo que ela conseguisse que não derramassem em cascata.

Disse-me ela que durante décadas aguentou a cruz por um habito do seu marido, cavalheiro que certamente eu conhecia de vista e que tinha todo o aspecto de ser uma pessoa de respeito. De estatura acima da média, sempre impecável, com boa figura e extremamente educado com os conhecidos e vizinhos com quem se cruzava.

Pois a sofredora esposa me informou que mal o marido chegava a casa, depois de largar o emprego na cidade, onde mantinha uma posição de topo hierárquico, mudava de roupa e, servindo-se do enxoval pessoal que tinha num roupeiro e numa cómoda, vestia-se, de cima a abaixo de mulher, incluindo a roupa interior, que era sempre vistosa e cara, de marcas de nomeada. Maquilhava-se a preceito e usava uma das várias perucas que guardava em cabeças de manequim, das que se podem ver nalguns cabeleireiros.

Mas jamais saia de casa com este preparo. A não ser que tivesse um outro ninho onde mudar de roupa, reservava esta dupla personalidade a mim. Por sorte não tiveram filhos! Um dia, em que não podia ficar silenciosa, engolindo a vergonha, e se lamentou desta situação, lhe respondeu que ela era feliz na sua santa ignorância pois que havia um grande número de indivíduos com este hábito. Que havia clubes. Que comunicavam entre si e conheciam-se por contactos de telefone e mais recentemente pela tal Internet. Algumas vezes reuniam-se com a desculpa de participarem em congressos ou reuniões profissionais.

Depois de desabafar a boa senhora suspirou, como se tivesse afastado um fardo das suas costas. Pediu-me sigilo e nos separamos com um afectuoso abraço. Tu és a primeira pessoa a quem refiro esta confissão. Mas não te esclareço de quem se trata, por respeito ao sofrimento de uma senhora esposa.

Outra história, que corria no salão de Aveiro era de uma desavergonhada, com boa figura, sempre bem vestida e pintada de loiro, que se vangloriava de que tendo o marido embarcado num grande navio de cruzeiros turísticos, não sei se inglês ou americano, mas certamente que navegando com bandeira de conveniência, passava longos períodos de tempo no mar, sem vir a casa.

E uma mulher, em bom estado e ardente como dizia dela mesma, não podia ficar sem ser atendida eternamente. Daí que tinha sempre um galã no activo, que se encarregava de a servir ao longo do dia. Quando o marido avisava que iria chegar, carregado de prendas, ela dava folga ao querido e tratava de apertar a sua crica.

O método que ela dizia lhe dava resultado consistia em moer um bocado de vidro, fosse de copo ou garrafa, no almofariz até ficar num pó quase impalpável, como o pó de talco. Depois misturava duas colheres deste pó num litro de água fervida e dava uma lavagem no seu interior. Era milagrosa esta receita.

E mais outra história. Bastante diferente, mas que também mete sexo duro e clandestino. Foi-me relatada de forma “sigilosa”, mas de tal modo clara e perceptível que até uma criança do primeiro ciclo era capaz de deduzir de quem se trata. Uma senhora, bonitona, com uns 30 e tal anos, casada com um político local, bem instalado na hierarquia, e que deve ter, pelo menos, uns vinte e tal anos , se não trinta, mais de idade do que ela. Aconteceu aquilo que se diz que é dos livros. Mas em grau superlativo, pois afirmam que toda a gente sabe ela ser insaciável nos afazeres de cama. Que mantêm contactos de primeiro grau com vários malandros que se dedicam às mulheres casadas.

O mais notável nesta história é que os encontros tem lugar na casa do casal, e daí que se diga que o marido é corno convivente. Chegam a relatar que sabe-se que a esposa, fiel como a balança da justiça, quando espera visita coloca um sinal no cortinado da sala que é visível da rua. Dizem que é um lenço de seda vermelha ou uma lâmpada, também vermelha, caso for de noite. Assim o esposo não entra e vai dar uma volta, sob os olhares indiscretos da vizinhança, que tanto gostam destas notícias. Quem são os membros deste casal? Como dizia a empregada da limpeza “é na sei!”

Continuará no Cap. XXXVI

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