Fofoquices
Enquanto
jantamos não é de bom tom falar de trabalho, e menos de problemas,
pois faz mal à digestão. E se não faz, acreditemos em que é
preferível guardar estes assuntos para depois. E eu prometi que
daria uns exemplos das intimidades que as mulheres , nem todas é
verdade, mas muitas gostam de sacudir na janela, como quem diz. Por
vezes se escondem com um “diz-se por aí”, “não sei de quem se
trata” e outras tácticas de disfarce tão pueris que ninguém
duvida que as conhece em primeira mão.
Uma
história aparentemente incrível, mas que mais tarde fiquei a saber
que é mais frequente do que os bem intencionado imaginamos, foi-me
contada, em privado, sem que mais ninguém ouvisse, por uma senhora
muito respeitável, bem na casa dos 50 para 60, que me chamou de
parte a fim de desabafar de algo que lhe pesava tanto na sua cabeça
que sentia a necessidade de contar a outra pessoa, mas que fosse de
confiança. Via-se bem que o assunto lhe era penoso, tão pesado que
chegava a dar pena, e mais quando vi que os seus olhos se tornaram
rasos de lágrimas, mesmo que ela conseguisse que não derramassem em
cascata.
Disse-me
ela que durante décadas aguentou a cruz por um habito do seu marido,
cavalheiro que certamente eu conhecia de vista e que tinha todo o
aspecto de ser uma pessoa de respeito. De estatura acima da média,
sempre impecável, com boa figura e extremamente educado com os
conhecidos e vizinhos com quem se cruzava.
Pois
a sofredora esposa me informou que mal o marido chegava a casa,
depois de largar o emprego na cidade, onde mantinha uma posição de
topo hierárquico, mudava de roupa e, servindo-se do enxoval pessoal
que tinha num roupeiro e numa cómoda, vestia-se, de cima a abaixo de
mulher, incluindo a roupa interior, que era sempre vistosa e cara, de
marcas de nomeada. Maquilhava-se a preceito e usava uma das várias
perucas que guardava em cabeças de manequim, das que se podem ver
nalguns cabeleireiros.
Mas
jamais saia de casa com este preparo. A não ser que tivesse um outro
ninho onde mudar de roupa, reservava esta dupla personalidade a mim.
Por sorte não tiveram filhos! Um dia, em que não podia ficar
silenciosa, engolindo a vergonha, e se lamentou desta situação, lhe
respondeu que ela era feliz na sua santa ignorância pois que havia
um grande número de indivíduos com este hábito. Que havia clubes.
Que comunicavam entre si e conheciam-se por contactos de telefone e
mais recentemente pela tal Internet. Algumas vezes reuniam-se com a
desculpa de participarem em congressos ou reuniões profissionais.
Depois
de desabafar a boa senhora suspirou, como se tivesse afastado um
fardo das suas costas. Pediu-me sigilo e nos separamos com um
afectuoso abraço. Tu és a primeira pessoa a quem refiro esta
confissão. Mas não te esclareço de quem se trata, por respeito ao
sofrimento de uma senhora esposa.
Outra
história, que corria no salão de Aveiro era de uma desavergonhada,
com boa figura, sempre bem vestida e pintada de loiro, que se
vangloriava de que tendo o marido embarcado num grande navio de
cruzeiros turísticos, não sei se inglês ou americano, mas
certamente que navegando com bandeira de conveniência, passava
longos períodos de tempo no mar, sem vir a casa.
E
uma mulher, em bom estado e ardente como dizia dela mesma, não podia
ficar sem ser atendida eternamente. Daí que tinha sempre um galã no
activo, que se encarregava de a servir ao longo do dia. Quando o
marido avisava que iria chegar, carregado de prendas, ela dava folga
ao querido e tratava de apertar a sua crica.
O
método que ela dizia lhe dava resultado consistia em moer um bocado
de vidro, fosse de copo ou garrafa, no almofariz até ficar num pó
quase impalpável, como o pó de talco. Depois misturava duas
colheres deste pó num litro de água fervida e dava uma lavagem no
seu interior. Era milagrosa esta receita.
E
mais outra história. Bastante diferente, mas que também mete sexo
duro e clandestino. Foi-me relatada de forma “sigilosa”, mas de
tal modo clara e perceptível que até uma criança do primeiro ciclo
era capaz de deduzir de quem se trata. Uma senhora, bonitona, com uns
30 e tal anos, casada com um político local, bem instalado na
hierarquia, e que deve ter, pelo menos, uns vinte e tal anos , se não
trinta, mais de idade do que ela. Aconteceu aquilo que se diz que é
dos livros. Mas em grau superlativo, pois afirmam que toda a gente
sabe ela ser insaciável nos afazeres de cama. Que mantêm contactos
de primeiro grau com vários malandros que se dedicam às mulheres
casadas.
O
mais notável nesta história é que os encontros tem lugar na casa
do casal, e daí que se diga que o marido é corno convivente. Chegam
a relatar que sabe-se que a esposa, fiel como a balança da justiça,
quando espera visita coloca um sinal no cortinado da sala que é
visível da rua. Dizem que é um lenço de seda vermelha ou uma
lâmpada, também vermelha, caso for de noite. Assim o esposo não
entra e vai dar uma volta, sob os olhares indiscretos da vizinhança,
que tanto gostam destas notícias. Quem são os membros deste casal?
Como dizia a empregada da limpeza “é na sei!”
Continuará
no Cap. XXXVI
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