TUDO
OK – salvo o novo caso
Decidimos
parar para respirar e confiar em que as decisões tomadas nos
levariam a bom porto. Continuar a bater ferro,estando já frio, seria
contraproducente. E além de mais ESTAVAMOS FARTOS, e convencidos de
que os seguidores ainda mais ENFASTIADOS do que nós. Daí que
passamos para a frente e farei eu, Isabel, o relato dos
acontecimentos.
Chegou
o dia e compareceram oitenta e tal pessoas. Uns convidados e outros
penetras. Mas nestas coisas não se pode ter um porteiro como era a
do Frágil. Surpreendentemente vieram os dois filhos do José e da
falecida Constança, ambos acompanhados, tanto a parceira do Bruno
como o acompanhante da Luísa, além de bem parecidos e educados,
mostraram-se amáveis e afectuosos para mim, e simpáticos para os
desconhecidos, que eram a imensa maioria.
Os
dois amigos advogados de Coimbra, também aceitaram o convite, e com
duas brasas de tirar os soluços aos mais impressionáveis. Não
ficava atrás a companhia do Inspector Dr. Sílvio CARDOSO, que ao
chegar pediu ao José que tentasse evitar ser apresentado como
Inspector da PJ, pois veio a título pessoal. O José fez sinal ao
Presidente Aníbal MEDEIROS, que trazia atrelada a sua esposa
Noémia, para lhe transferir o pedido. Beijinhos da praxe.
Também
veio o meu irmão Óscar, mais uma companheira que se identificou
como Ruth, que trazia pendurado, ou melhor dizendo, pela mão um
menino que, após lhe perguntar, me disse ter quatro anos e se chamar
Carlos Manuel (outro Camané
na forja!). A azáfama não deu para saber se este
Carlitos era filho do Óscar ou vinha de uma fornada anterior.
Teremos tempo, depois de tantos anos sem sabermos uns dos outros.
As
minhas convidadas dos salões, radiantes, cabelos de revista e
fatiotas de virar os olhos. Foram mais simpáticas do que eu mesma
imaginava, mas tinha-as treinado no trabalho para isso. Por isso não
podiam deixar de sorrir e dar beijinhos a torto e a direito. A Ivone
não me largava. O que notei, sem esforço, é que os homens da
terra, que nenhum se atreveu a comparecer sem trazer a sua
guarda-costas, não tinham olhos a medir. Esta reunião “social”
vai ser, sem dúvida, recordada durante bastante tempo.
Tal
como previsto, quando chegavam os convidados eram atendidos pelas
empregadas e empregados que trouxe a Dona Gertrudes, carregando
bandejas com canapés, bolinhos de bacalhau, croquetes e rissóis,
tudo em tamanho mini, outros com copos de verde fresco, cerveja para
os clássicos e sumos para as senhoras tímidas. Como quem não quer
deixei cair que tudo aquilo e mais os salgados que viessem no bufete,
eram decisões da Dona Gertrudes, dona da restaurante A CALECHE, a
quem depositei a minha inteira confiança e que me prestou uma
inestimável ajuda.
Entretanto
e como é habitual, foram-se cruando pequenos grupos de pessoas
afins, uns conhecidos de antes e outros curiosos, desejosos de beber
as palavras daqueles desconhecidos, alguns foram marcando os lugares
que desejavam, com casacos, malas, echarpes, o que tivessem à
mão. E chegou o aviso de que as travessas estavam no balcão e não
convinha deixar arrefecer. Foi uma corrida à Carlos Lopes e à
Rosa Mota . Os empurrões e cotoveladas poderiam ter sido
mais, não fosse a previsão da Grande Chefe do Caleche que mandou
situar de três a quatro travessas do mesmo petisco, distribuídas
pelo balcão. Ao todo, então contei, eram de seis a oito pratos
diferentes. Algumas das travessas tiveram que ser reabastecidas mais
do que uma vez.
Fui
à cozinha para comentar com a Dona Gertrudes se tinha precavido, ao
que me respondeu que estava habituada a casamentos e saber como eram
glutões se houvesse coisas de que gostavam e que nas suas casas
raramente, ou nunca, apareciam na mesa. Ali dei com que uma das
minhas empregadas, precisamente a recepcionista Sofia, tinha vestido
um avental e estava lavando pratos, copos e talheres. Disse-lhe ao
ouvido que ela, ali, era uma convidada, com a mesma categoria das
outras que por aí se vangloriavam. Que tirasse o avental e se
apresentasse na mesa para almoçar. Mesmo assim eu, pessoalmente,
agradecia a sua boa vontade, e que também tinha visto que as outras
suas colegas deram uma mão quando as coisas estavam com pressão.
Só
terminaram de “enfardar” quando as travessas vazias já não
regressavam com reforços e se anunciou a chegada de fruta, doces e
café. Então, levantei-me da mesa donde estavam o Presidente, os
advogados e o inspector, pedindo silêncio a fim de poder manifestar
a minha satisfação e dever de amizade á Dona Gertrudes. Surgiu uma
espontânea salva de palmas, em pé e com gritos de obrigado,
parabéns, vivas. A Gertrudes veio agradecer e demos um abraço com
mutuo sentimento. O José também quis um abraço (invejoso!), por
não poder abraçar, em público, algumas das belezas que nos
rodeavam. Bem gostaria ele, e não se ficaria pelo abraço. Se eu não
o conhecesse.
Após
bolos, que não sei como os conseguiram engolir, de tão cheios que
todos deviam estar, e mais o café, o José e eu fomos convidando os
casais maisbrepresentativos para entrarem na mansão do falecido
Comendador. Naquele momento eu senti-me uma usurpadora, uma intrusa.
Quem devia estar a fazer as honras da casa era a filha do Comendador,
a Dona Constança. Mas o mundo dá voltas sem parar e tive que ocupar
eu o lugar da falecida.
Levamos
as visitas aos salões, reservando um canto para os fumadores, pois
que dentro da casa as leis não se aplicavam com excessivo rigor. Para os deixar à vontade havia mesas de apoio entre os sofás e cinzeiros de grande capacidade, além de uma caixa de charutos cubanos, que o José referiu, com ar de gozo, "sirvam-se sem se cohibirem, pois são mesmo Cohibas.
Mesmo assim deixei a porta da varanda aberta. Acompanhei as senhoras para as casas de banho e mandei servir café, para quem desejasse, cognacs franceses, aguardentes nacionais, licores e tudo aquilo que o José se encarrega de manter na sua garrafeira particular.
Mesmo assim deixei a porta da varanda aberta. Acompanhei as senhoras para as casas de banho e mandei servir café, para quem desejasse, cognacs franceses, aguardentes nacionais, licores e tudo aquilo que o José se encarrega de manter na sua garrafeira particular.
E
nesta estávamos quando
REBENTOU
A BOMBA. TEMOS TROVOADA!
Ouvimos
bater, desalmadamente, à porta e a Idalina, em passo de corrida, foi
ver quem era. Regressou muito séria, assustada mesmo, fazendo sinal
ao José para que se chegasse sem companhia indiscreta.
-Ai,
menino José, diz aqui o rapaz que nos seus terrenos, mesmo ao lado
da cova onde encontraram aquele morto, está um homem enforcado num
carvalho. Mandaram-no montar na sua BTT para avisar os patrões e de
seguida telefonarem à Guarda para que compareçam a dar conta da
ocorrência.
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