- Este toque que nos interrompeu
era do Medeiros, ou seja o Presidente da Junta. De entrada me
informou que a seu ver uma adiafa não serve de justificação para
convidar entidades. BOA NOTÍCIA! E por isso o meu receio de
provocar melindres fica arrumado na cave. Também me disse que ele
mesmo escolheu, no máximo, de três a quatro elementos para o
acompanharem, o capitão dos bombeiros, o mestre da banda e dois
membros do seu “estafe”. MAIS BOAS NOTÍCIAS. A coisa começa a
compor-se, e hoje vejo quanto estávamos a exagerar.
Mas
outras notícias são incomodas, por assim dizer. Disseram-lhe que
andou pelo Vau, e até pela Vila, um sujeito bem falante mas com
maneiras tão educadas que se tornavam esquisitas, que perguntava
sobre o que se sabia, entre a população, do cadáver da mata. Não
quis aprofundar nisso, mas cheirou-lhe a que seja um membro do clube
dos gays. Recomendou-me que, caso me procurassem, não lhes desse
muita conversa.
- Eu? Esteja tranquilo, Amigo
Medeiros, sou especialista, quando quero, em mandar bolas fora. Não
tenho nada que me ligue a este clube. Só lhes desejo, de boca
calada, que vivam a sua vida com sossego e que não incomodem nem
sejam incomodados.
- Pois eu também creio que está à altura de voltar ao princípio,
com alguma sensatez. Se não te parecer mal adiamos a reunião
com primos e filhos para um almoço em família, sossegados
quanto baste. Assim como é sensato que nos deixemos de acções de
cariz política-social, pois não creio que com esta iniciativa,
tão descabida e isolada, conseguíssemos mudar nada de nada.
Importante é que O QUANTITATIVO DE PRESENÇAS VAI-SE REDUZINDO !
Tens
que falar com o feitor Ernesto e dizer que tens uma certa urgência
em saber com quantos ele entende que devemos contar, sempre que
ligados ao trabalho da mata. Em princípio desde próximo sábado a
oito dias.
De
qualquer modo creio que podia ser interessante conseguir que os teus
advogados-amigos, e até o notário (que
pode ser útil mais adiante) venham para nos acompanhar e
fazer núcleo com o grupo da Junta. Veremos o que te dizem de Coimbra
acercada disponibilidade do Inspector (até
pode ele pensar que a possibilidade de falar, de certo modo
abertamente, com a malta da terra lhe pode dar alguma pista. Nem que
seja o de lhe contarem da tal visita inquiridora não oficial)
Penso que não perdes nada em referir este alarme que corre pelo
lugar do Vale e que eles podem deixar cair como quem não quer. Mesmo
que ele tenha bufos por aí, é bom mostrar que andas a par.
- Já mandei recado para que o Ernesto venha falar comigo. E
entretanto ligarei agora mesmo aos meus amigos de Coimbra. Parece-te
mal que eles tragam dois ou três colegas conhecidos? Sabes que a
malta de Coimbra sempre está desejosa, como Jesus e os seus
companheiros, a participar em comezainas bem regadas.
- Por minha parte tudo nos
conformes. Só peço, em troca, Ah! Ah! Ah! Que esta tarde possa ir
até a Vila e convidar as duas, ou quiçá quatro, senhoras do meu
negócio. Lhes direi que devem vir vistosas, sem exagerar
“demasiado”, para deixar os parolos de boca aberta, mesmo
sabendo, por ter visto, que as damas do campo, dos lugares e Vilas,
quando se dirigem para casamentos e baptizados mascaram-se com
exagero. Chegam a ser ridículas, elas em especial. Mas são sintomas
de evolução social, pelo menos a nível mental, ou pelo propósito
de imitar as farpelas dos migras, que vem propositadamente nestas
ocasiões, muito “bem arreados”.
- Creio que destas presenças já estávamos de acordo. Venham elas.
São as tuas damas da corte. Quanto ao teu irmão gostaria que se
sentasse na mesa com os meus filhos. Tem
que ser bem recebido. Não tem culpa nenhuma de ser só meio irmão
teu. Gostaria que se integrasse e tratarei da falar com ele em
privado.
- Até aqui já avançamos alguma coisa daquela lista. Mas temos que
nos sentar, com calma e “picar” os capítulos que cada um de nós
encontrou. Eu já fiz um esboço. Quando te aparecer o feitor
Ernesto será oportuno abrirem a adega
e ver o que é preciso fazer para a tornar minimamente aceitável.
Se por lá encontrares alfaias antigas e máquinas de
lavoura, manda que as limpem e
abrilhantem com óleo de motor e as coloquem à vista, sem impedirem
a circulação. Está na moda expor estas velharias, e quem não as
tem compra-as! Não te esqueças de, quanto antes, tratar dum
electricista capaz.
Nestas alturas andam bastante atarefados com compromissos
anteriores. Lança um cabo ao Medeiros, que ele pode saber com quem
poderemos confiar. Toma nota de tudo!
Eu
vou dizer à Idalina que, depois de almoçar, se prepare para irmos
juntas ás compras na Vila. E por lá tratarei de saber com que
empresas é hábito contratarem para as festas de casório. Se calhar
não é necessário ir até Aveiro nem a Coimbra. Mas não
contratarei nada disso.
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