quinta-feira, 12 de abril de 2018

CRÓNICAS DO VALE . Cap. 32



- Este toque que nos interrompeu era do Medeiros, ou seja o Presidente da Junta. De entrada me informou que a seu ver uma adiafa não serve de justificação para convidar entidades. BOA NOTÍCIA! E por isso o meu receio de provocar melindres fica arrumado na cave. Também me disse que ele mesmo escolheu, no máximo, de três a quatro elementos para o acompanharem, o capitão dos bombeiros, o mestre da banda e dois membros do seu “estafe”. MAIS BOAS NOTÍCIAS. A coisa começa a compor-se, e hoje vejo quanto estávamos a exagerar.

Mas outras notícias são incomodas, por assim dizer. Disseram-lhe que andou pelo Vau, e até pela Vila, um sujeito bem falante mas com maneiras tão educadas que se tornavam esquisitas, que perguntava sobre o que se sabia, entre a população, do cadáver da mata. Não quis aprofundar nisso, mas cheirou-lhe a que seja um membro do clube dos gays. Recomendou-me que, caso me procurassem, não lhes desse muita conversa.

- Eu? Esteja tranquilo, Amigo Medeiros, sou especialista, quando quero, em mandar bolas fora. Não tenho nada que me ligue a este clube. Só lhes desejo, de boca calada, que vivam a sua vida com sossego e que não incomodem nem sejam incomodados.

- Pois eu também creio que está à altura de voltar ao princípio, com alguma sensatez. Se não te parecer mal adiamos a reunião com primos e filhos para um almoço em família, sossegados quanto baste. Assim como é sensato que nos deixemos de acções de cariz política-social, pois não creio que com esta iniciativa, tão descabida e isolada, conseguíssemos mudar nada de nada. Importante é que O QUANTITATIVO DE PRESENÇAS VAI-SE REDUZINDO !

Tens que falar com o feitor Ernesto e dizer que tens uma certa urgência em saber com quantos ele entende que devemos contar, sempre que ligados ao trabalho da mata. Em princípio desde próximo sábado a oito dias.

De qualquer modo creio que podia ser interessante conseguir que os teus advogados-amigos, e até o notário (que pode ser útil mais adiante) venham para nos acompanhar e fazer núcleo com o grupo da Junta. Veremos o que te dizem de Coimbra acercada disponibilidade do Inspector (até pode ele pensar que a possibilidade de falar, de certo modo abertamente, com a malta da terra lhe pode dar alguma pista. Nem que seja o de lhe contarem da tal visita inquiridora não oficial) Penso que não perdes nada em referir este alarme que corre pelo lugar do Vale e que eles podem deixar cair como quem não quer. Mesmo que ele tenha bufos por aí, é bom mostrar que andas a par.

- Já mandei recado para que o Ernesto venha falar comigo. E entretanto ligarei agora mesmo aos meus amigos de Coimbra. Parece-te mal que eles tragam dois ou três colegas conhecidos? Sabes que a malta de Coimbra sempre está desejosa, como Jesus e os seus companheiros, a participar em comezainas bem regadas.
- Por minha parte tudo nos conformes. Só peço, em troca, Ah! Ah! Ah! Que esta tarde possa ir até a Vila e convidar as duas, ou quiçá quatro, senhoras do meu negócio. Lhes direi que devem vir vistosas, sem exagerar “demasiado”, para deixar os parolos de boca aberta, mesmo sabendo, por ter visto, que as damas do campo, dos lugares e Vilas, quando se dirigem para casamentos e baptizados mascaram-se com exagero. Chegam a ser ridículas, elas em especial. Mas são sintomas de evolução social, pelo menos a nível mental, ou pelo propósito de imitar as farpelas dos migras, que vem propositadamente nestas ocasiões, muito “bem arreados”.

- Creio que destas presenças já estávamos de acordo. Venham elas. São as tuas damas da corte. Quanto ao teu irmão gostaria que se sentasse na mesa com os meus filhos. Tem que ser bem recebido. Não tem culpa nenhuma de ser só meio irmão teu. Gostaria que se integrasse e tratarei da falar com ele em privado.

- Até aqui já avançamos alguma coisa daquela lista. Mas temos que nos sentar, com calma e “picar” os capítulos que cada um de nós encontrou. Eu já fiz um esboço. Quando te aparecer o feitor Ernesto será oportuno abrirem a adega e ver o que é preciso fazer para a tornar minimamente aceitável. Se por lá encontrares alfaias antigas e máquinas de lavoura, manda que as limpem e abrilhantem com óleo de motor e as coloquem à vista, sem impedirem a circulação. Está na moda expor estas velharias, e quem não as tem compra-as! Não te esqueças de, quanto antes, tratar dum electricista capaz. Nestas alturas andam bastante atarefados com compromissos anteriores. Lança um cabo ao Medeiros, que ele pode saber com quem poderemos confiar. Toma nota de tudo!

Eu vou dizer à Idalina que, depois de almoçar, se prepare para irmos juntas ás compras na Vila. E por lá tratarei de saber com que empresas é hábito contratarem para as festas de casório. Se calhar não é necessário ir até Aveiro nem a Coimbra. Mas não contratarei nada disso.


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