Finalmente
consegui meter-me a caminho para Coimbra. Mas a agenda que trazia em
mente já foi alterada com a visita do inspector da P.J. Não me
posso fiar demasiado nas doces palavras deste homem, pois antes de
tudo é um polícia e desta feita deve estar debaixo de olho dos seus
superiores. Esta bronca que armaram, uns desconhecidos que é
imperioso identificar, vai ser vista com cuidado e procurarão um
bode expiatório, escolhido num sorteio onde, pelo que pressinto, eu
tenho alguns números.
Tenho
que me por em campo e procurar saber mais do que simples deduções.
E deduzo que por aí é capaz de ter entrado em jogo, sujo como é
evidente, alguma das máfias dos países do leste europeu, que
negoceiam e traficam, também em Portugal, como cão por vinha
vindimada. Pelas notícias que transpiram até parece que as nossas
autoridades não os apertam tanto quanto merecem. Consta que são
diversos grupos, todos com origem entre a Ucrânia e a Hungria,
passando pelos territórios conturbados dos Balcãs. Em primeiro
passo necessita-se seleccionar quais são os grupos de traficantes de
droga e mulheres que actuam na zona centro, concretamente em Coimbra
e arredores.
A
pessoa que me pode dar alguma dica, se estiver por aí virado, é o
chefe dos de “etnia cigana” desta área. E digo isso porque sei o
zelo com que sempre olham e defendem as suas áreas de actuação. E
estes do Leste vieram alterar o equilíbrio. Daí que imagino que os
ciganos da casa não devem ter muita amizade com os de fora, até
porque não só lhes invadem o território mas porque alteram, para
pior, o já instável equilíbrio com que sempre convivem com a
autoridade, especialmente com a dupla GNR-PJ, sem contar com o grupo
de Estrangeiros e Fronteira. Devo ter o telefone de Rafael ORTEGA,
que creio é ou era o chefe dos calés desta zona. Este espaço livre
é bom para parar e telefonar.
Senhor
Ortega? Sim? Bom dia sou o José Maragato, passou bem? Gostaria de
poder trocar umas palavras com o senhor. Pode ser? E donde está
nesta altura? Em Aveiro, perto da feira, óptimo! Podemos ficar num
café sossegado? Na Gaivota? Sei onde fica. Em dez minutos estarei
consigo. Até já, e obrigado pela sua atenção e disponibilidade.
Vou a caminho.
Temos
que saber lidar com todo tipo de pessoas, e estes de etnia cigana são
muito importantes. Circulam por aí sem travões e sabem imensas
coisas que o cidadão comum ignora. A polícia, que desde sempre os
tem tentado cercar, sabe que são imprescindíveis para troca de
informações. E por isso é que conseguem ultrapassar as “rusgas”,
mais a fingir e para inglês ver, tanto da PSP, da Municipal e até
da ASAE. Só quando na droga ultrapassam os limites tacitamente
aceites, em casos de cenas com tiros e até mortes, é que as acções
de repressão são mais fortes.
Bom
dia, mais uma vez, Amigo e Senhor Ortega. Vejo que está com um
óptimo aspecto e, à vista desarmada, transpira saúde. Parabéns.
Esta menina que o acompanha é sua filha ou neta?
É
filha mesmo, e está no secundário aqui em Aveiro, com boas notas!
Quando pode faz-me de secretária, pois já me acontece falhar a
memória quanto a nomes e datas, e ela é uma agenda sempre
actualizada. E então Amigo Maragato, o que o traz por cá?
-Desta
vez não sou intermediário de ninguém, nem lhe quero apresentar uma
personagem com interesses comuns. Sou eu que gostava de comentar um
assunto preocupante e tentar que me orientasse. O tema é um pouco,
bastante, muito até, rebuscado e atingiu-me sem saber porque, pois
não tive arte nem parte activa nele.
É
possível que já lhe tenha chegado a notícia do morto que
despejaram num terreno da minha propriedade, que aliás era do pai da
minha falecida mulher dona Constança, que Deus a tenha ao seu lado.
-
Um morto ou são já dois?
- Isso é o que mais me traz
ralado. Não sei porque cargas de água escolheram aquele local para
se desembaraçar dos cadáveres. Cheira-me a coisas esquisitas. E
mais porque, pelas minhas fontes, tenho quase a certeza de que o
crime primeiro, e possivelmente o segundo está ligado ao primeiro,
teve origem numa festança que uns desconhecidos (por enquanto
não sei quem foram, mas desconfio..) deram numa grande casa
isolada, na zona do Buçaco.
Espiolhando
aqui e ali, e magicando por minha conta e risco, deduzo que por aí é
capaz de ter entrado em jogo, sujo como é evidente, alguma das
máfias dos países do Leste europeu, que negoceiam e
traficam, também em Portugal, como cão por vinha vindimada. Pelas
notícias que transpiram até parece que as nossas autoridades não
os apertam tanto o cerco quanto merecem. Consta que são diversos
grupos, todos com origem entre a Ucrânia e a Hungria, passando pelos
territórios conturbados dos Balcãs. Para já, eu desconheço quase
tudo sobre esta gente. Não sei quais são os que traficam drogas e
mulheres que actuam na zona centro, concretamente em Coimbra e
arredores. Mas naquela festa que refiro houve das duas coisas com
fartura, e também travestis e paneleiros de produção nacional.
Sem
tentar ser indiscreto, mas tampouco um anjo, deduzo que estes
malandros que vieram de fora se estão intrometendo nas vossas áreas
de comércio, e que apesar de alguns se identificarem como romis,
se calhar não são aceites como
parceiros e menos como competidores pelos da sua etnia, já
estabelecidos na península. Mas que não estão isolados pelas
fronteiras, pois que, pelo que de vez em quando aparece em
reportagens de festas, existe, desde sempre, uma trasfega de pessoas
entre as famílias de Espanha e Portugal.
Avançando: Chego a pensar que da vossa parte devem ter algumas
incompatibilidades com estes invasores, que ainda por cima fazem
alarde de contrabandear armas e outros artigos, como são as
raparigas para eles, em grande escala. Estão levantando lodo que
devia ser mantido parado. Se eu estiver certo, pensa o Senhor Ortega
que podemos dar uma mão uns aos outros e ver se entre “os da casa”
e as polícias, que nem sempre agem a tempo e horas, se pode
conseguir dar-lhes na cabeça? Da minha parte estou pessoalmente
interessado em me ver livre destas graças, sem graça nenhuma, e
também estaria disposto a servir de elo de ligação entre as suas
famílias, através do Ortega, e a Judiciária, que, como sabe é
melhor os termos como “amigos” do que como cães de fila. O amigo
Maragato está carregado de razão, tanto no que o molesta como no
que aos meus companheiros e familiares afecta. Ficaria muito contente
se esta malta do Leste fosse chatear para outro lado.
-
Conte comigo. Mas neste momento só lhe posso dar isso: a certeza de
que o ajudarei e entre os dois lavaremos as mãos. Deixe-me o seu
contacto reservado e não tardarei em o procurar. É tudo por hoje? É
que já viu que vieram procurar-me, com certeza que para dar sentença
para alguma desavença.
CRÓNICAS DO VALE - cap XLIII
Um jantar a dois em casa. Que agradável é poder usufruiir deste sosego familiar. Faz-me recordar tempos de duas décadas atrás. Mas faltam as crianças a que dar a provar paladares novos, ensinar a comer nésperas e otras frutas de caroço. proporcionar que descubram como era bom mordiscar, com calma, uma fatia de pao caseiro, com umas pingas de tinto, sem ensopar ou mesmo ensopado, e polvilhado com açúcar. Esta iguaria, que o era, hoje está totalmente banida dos costumes, por considerar que induz as crianças a se tornarem alcoólicos, sem ponderar que não passaráo cinco lustros sem que lhes ponham na mão os tais shotts, que naqueles copinhos carregam mais destilado do que um litro de vinho. Temos muitas mentiras enquistadas, mesmo que se baseiem em exageros sem sentido.
- Mas tomar a parte pelo todo,ou ao contrário, pode levar a resulatdos nefastos. Digo isso porque não podemos esquecer o costume, em certas zonas e camadas da população, de considerar as tais sopas de cavalo cansado, que eram,nem mais nem menos, ou mais mais do que menos, uma tigela de pão troceado ensopado com tinto carrascão, que não era sequer de colheita de viticultor como agoara de tornou "bem". Não consideras isto como um costume prejudicial?
-Luísa, sabes perfeitamente que o nível de pobreza existenet no campo ainda era muito mais elevado na nossa meninice do que hoje. Ou pensas que aqueles desgraçados, que vestiam farrapos herdados ou, quando muito, roupas usadas até o fio pelo anterior possuidor, tinham dinheiro para comprar farinha láctea? Ao mesmo tempo o nível de cultura estava abaixo de cão. Muitas famílias não tinham um elemento que soubesse ler e entender o que estava num papel. A decisão e iniciativas sociais, nomeadamente por parte dos governos ou de privados, que se tinham tido um início com Grandella e alguns outros maçõns de cariz filantrópico e humanista, não foram suficientes para conseguir uma evolução notável da população rural. Já com o operariado fabril, entre sindicalistas, anarquistas e revolucionários de outras capelas, se esforçaram e conseguiram iniciar a culturização dos mais pobres. Sempre com voluntariado e resistindo às embestidas, quantas vezes violentas e sangrentas, dos conservadores.
- José. Sem dar por isso já nos metemos na política caseira, que só nos pode causar problemas. Sabemos que este jogo, quando se pratica honestamente e por "amor à arte" não é rentável, e aceito que nem se pretendia que dese frutos pessoais; antes deseja-se que os resultados positivos, se aparecerem, se reflitam em desconhecidos. Mas esta atitude é própria dos lunáticos, dos utópicos, dos que teimam em não avaliar as tácticas e modos de agir dos cínicos que se aproveitam por trás dopano e bem apoiados enter si. E que, sem dúvida, nos dão asco.
CRÓNICAS DO VALE - cap XLIII
Um jantar a dois em casa. Que agradável é poder usufruiir deste sosego familiar. Faz-me recordar tempos de duas décadas atrás. Mas faltam as crianças a que dar a provar paladares novos, ensinar a comer nésperas e otras frutas de caroço. proporcionar que descubram como era bom mordiscar, com calma, uma fatia de pao caseiro, com umas pingas de tinto, sem ensopar ou mesmo ensopado, e polvilhado com açúcar. Esta iguaria, que o era, hoje está totalmente banida dos costumes, por considerar que induz as crianças a se tornarem alcoólicos, sem ponderar que não passaráo cinco lustros sem que lhes ponham na mão os tais shotts, que naqueles copinhos carregam mais destilado do que um litro de vinho. Temos muitas mentiras enquistadas, mesmo que se baseiem em exageros sem sentido.
- Mas tomar a parte pelo todo,ou ao contrário, pode levar a resulatdos nefastos. Digo isso porque não podemos esquecer o costume, em certas zonas e camadas da população, de considerar as tais sopas de cavalo cansado, que eram,nem mais nem menos, ou mais mais do que menos, uma tigela de pão troceado ensopado com tinto carrascão, que não era sequer de colheita de viticultor como agoara de tornou "bem". Não consideras isto como um costume prejudicial?
-Luísa, sabes perfeitamente que o nível de pobreza existenet no campo ainda era muito mais elevado na nossa meninice do que hoje. Ou pensas que aqueles desgraçados, que vestiam farrapos herdados ou, quando muito, roupas usadas até o fio pelo anterior possuidor, tinham dinheiro para comprar farinha láctea? Ao mesmo tempo o nível de cultura estava abaixo de cão. Muitas famílias não tinham um elemento que soubesse ler e entender o que estava num papel. A decisão e iniciativas sociais, nomeadamente por parte dos governos ou de privados, que se tinham tido um início com Grandella e alguns outros maçõns de cariz filantrópico e humanista, não foram suficientes para conseguir uma evolução notável da população rural. Já com o operariado fabril, entre sindicalistas, anarquistas e revolucionários de outras capelas, se esforçaram e conseguiram iniciar a culturização dos mais pobres. Sempre com voluntariado e resistindo às embestidas, quantas vezes violentas e sangrentas, dos conservadores.
- José. Sem dar por isso já nos metemos na política caseira, que só nos pode causar problemas. Sabemos que este jogo, quando se pratica honestamente e por "amor à arte" não é rentável, e aceito que nem se pretendia que dese frutos pessoais; antes deseja-se que os resultados positivos, se aparecerem, se reflitam em desconhecidos. Mas esta atitude é própria dos lunáticos, dos utópicos, dos que teimam em não avaliar as tácticas e modos de agir dos cínicos que se aproveitam por trás dopano e bem apoiados enter si. E que, sem dúvida, nos dão asco.
-Luísa
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