sexta-feira, 24 de agosto de 2018

MEDITAÇÕES - 11 - Futuro


UM LINDO FUTURO

As transformações em curso são tantas e tão agressivas que, sem darmos por isso, esta-se a mudar drásticamente o esquema de vida em que os mais idosos, e até os com idade acima dos 40, fomos criados e ao que nos adaptamos. A geração que está entre os 18 e os 30-35, que no dito “nosso tempo” já estava orientada no mundo do trabalho, ou preparando-se para um nível superior, hoje, a julgar pelas notícias através de terceiros e dos meios de comunicação, arrisca-se a permanecer mais uns tempos sob o amparo dos pais, inclusive quando estes já estão sem actividade profissional remunerada.

A invasão da electrónica e dos serviços prestados através do espaço electrónico está condicionando, intensamente e com uma progressão a nível mundial, a vida de muitos, em especial aos que já manipulam estas aparelhagens desde a pré-adolescência. Estas mudanças afectam muitas actividades que eram fonte de ocupação e trabalho para muitos. As mutações neste são tantas e de tal importância que a sua listagem jamais fica actualizada. Desde a redução de efectivos humanos nos balcões dos bancos até a privatização dos serviço de correio, com a consequente fecho de postos de atendimento e a consequente redução de efectivos, conduziram a uma generalização dos contratos de trabalho a termo certo, em geral de curta duração e com salários baixos e possível exigência de horários prolongados.

O motivo com que se tenta justificar esta redução de efectivos é que o crescente custo do capítuloo chamado, eufemísticamente, “recursos humanos”, é incomportável. A solução, que tem o rabo de fora, é a de contratar estas tarefas a empresas vocacionadas para servir tarefeiros indeterminados, pagos por uma factura e sem compromissos sociais posteriores. Tais empresas são muitas vezes criadas e geridas para este fim por elementos dos quadros superiores da mesma empresa onde os eventuais terão que prestar o serviço que, em muitas ocasiões, já faziam antes de ser dispensados.

As legislações do trabalho tem sido progressivamente alteradas em prejuízo do trabalhador. Quando timidamente apareceram as empresas de trabalho temporário deu-se o mote para facilitar os contratos a prazo certo, renováveis como sendo o primeiro depois de deixar o funcionário em casa uns poucos dias, e voltar à situação inicial, como num Jogo da Glória, mas desta feita brincando abusivamente com pessoas reais. As, claro, sempre dentro da lei preparada para o efeito.

Nunca o grande capital, os grandes manipuladores, tiveram uma fase de livre acção como agora. O binómio criado com o mercado livre e a mundialização, mais a capacidade de anular as forças sindicais, com artimanhas antigas de favorecer uns tantos em detrimento dos muitos, levou a que, actualmente, as classes sociais mais sacrificadas nem sequer se apercevam de como estão presos pelo crédito e enganados com o consumismo.

Chega a ser incompreensível como não tenha surgido uma nova maré de anarquismo. Que a população ocidental aceite, convictamente, que os seus inimigos são as fábricas orientais e os migrantes, sem entender que em ambos casos existe um chamariz nas acções, concertadas, dos especuladores ocidentais. Em simultâneo não se pode entender qual a vantagem real e de longo prazo, que os capitalistas de hoje possam recolher depois de derrubar o ocidente, de onde eles são originários. Mantedo-se anónimos -mais em teoria do que na practica, pois muitos estão identificados- agem como autores de um parricídio generalizado.

Aqueles que, como eu mesmo, tivemos uma doutrinação cristâ, ou católica, com todos os defeitos que nos são conhecidos, podemos ver como um exemplo a seguir a mensagem de como Jesus afugentou os cambistas do templo. Derrotar ou eliminar os exploradores desta época não é tarefa fácil. Nem consigo imaginar um roteiro que podesse servir para tal. O ser um descontente, um inconformado tenaz, não faz de mim um revolucionário capaz de liderar um movimento social libertador. Mas isso não obsta a que não consiga antever um bom futuro para aqueles que vão continuar neste planeta.

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