UM LINDO FUTURO
As
transformações em curso são tantas e tão agressivas que, sem
darmos por isso, esta-se a mudar drásticamente o esquema de vida em
que os mais idosos, e até os com idade acima dos 40, fomos criados e
ao que nos adaptamos. A geração que está entre os 18 e os 30-35,
que no dito “nosso tempo” já estava orientada no mundo do
trabalho, ou preparando-se para um nível superior, hoje, a julgar
pelas notícias através de terceiros e dos meios de comunicação,
arrisca-se a permanecer mais uns tempos sob o amparo dos pais,
inclusive quando estes já estão sem actividade profissional
remunerada.
A
invasão da electrónica e dos serviços prestados através do espaço
electrónico está condicionando, intensamente e com uma progressão
a nível mundial, a vida de muitos, em especial aos que já manipulam
estas aparelhagens desde a pré-adolescência. Estas mudanças
afectam muitas actividades que eram fonte de ocupação e trabalho
para muitos. As mutações neste são tantas e de tal importância
que a sua listagem jamais fica actualizada. Desde a redução de
efectivos humanos nos balcões dos bancos até a privatização dos
serviço de correio, com a consequente fecho de postos de atendimento
e a consequente redução de efectivos, conduziram a uma
generalização dos contratos de trabalho a termo certo, em geral de
curta duração e com salários baixos e possível exigência de
horários prolongados.
O
motivo com que se tenta justificar esta redução de efectivos é que
o crescente custo do capítuloo chamado, eufemísticamente, “recursos
humanos”, é incomportável. A solução, que tem o rabo de fora, é
a de contratar estas tarefas a empresas vocacionadas para servir
tarefeiros indeterminados, pagos por uma factura e sem compromissos
sociais posteriores. Tais empresas são muitas vezes criadas e
geridas para este fim por elementos dos quadros superiores da mesma
empresa onde os eventuais terão que prestar o serviço que, em
muitas ocasiões, já faziam antes de ser dispensados.
As
legislações do trabalho tem sido progressivamente alteradas em
prejuízo do trabalhador. Quando timidamente apareceram as empresas
de trabalho temporário deu-se o mote para facilitar os contratos a
prazo certo, renováveis como sendo o primeiro depois de deixar o
funcionário em casa uns poucos dias, e voltar à situação inicial,
como num Jogo da Glória, mas desta feita brincando abusivamente com
pessoas reais. As, claro, sempre dentro da lei preparada para o
efeito.
Nunca
o grande capital, os grandes manipuladores, tiveram uma fase de livre
acção como agora. O binómio criado com o mercado livre e a
mundialização, mais a capacidade de anular as forças sindicais,
com artimanhas antigas de favorecer uns tantos em detrimento dos
muitos, levou a que, actualmente, as classes sociais mais
sacrificadas nem sequer se apercevam de como estão presos pelo
crédito e enganados com o consumismo.
Chega
a ser incompreensível como não tenha surgido uma nova maré de
anarquismo. Que a população ocidental aceite, convictamente, que os
seus inimigos são as fábricas orientais e os migrantes, sem
entender que em ambos casos existe um chamariz nas acções,
concertadas, dos especuladores ocidentais. Em simultâneo não se
pode entender qual a vantagem real e de longo prazo, que os
capitalistas de hoje possam recolher depois de derrubar o ocidente,
de onde eles são originários. Mantedo-se anónimos -mais em
teoria do que na practica, pois muitos estão identificados- agem
como autores de um parricídio generalizado.
Aqueles
que, como eu mesmo, tivemos uma doutrinação cristâ, ou católica,
com todos os defeitos que nos são conhecidos, podemos ver como um
exemplo a seguir a mensagem de como Jesus afugentou os cambistas do
templo. Derrotar ou eliminar os exploradores desta época não é
tarefa fácil. Nem consigo imaginar um roteiro que podesse servir
para tal. O ser um descontente, um inconformado tenaz, não faz de
mim um revolucionário capaz de liderar um movimento social
libertador. Mas isso não obsta a que não consiga antever um bom
futuro para aqueles que vão continuar neste planeta.
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