sábado, 29 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Sem importância


AFINAL HÁ INFERNO OU NÃO? E DIABOS?

A nossa estrutura mental, anímica e até fisiológica, está nitidamente condicionada a obedecer a uma regra, não escrita, mas que a própria natureza nos impõe: a dualidade quase sempre presente. Começa-se por nos habituar ao ciclo contínuo do dia e da noite, quase que anulado quando o observador está situado num dos pólos do globo terrestre. Mas, sem nos restringir a este exemplo tão evidente, existem muitas mais situações que nos elucidam sobre a importância de considerar o peso que duas posições antagónicas nos condicionam.

Nas diferentes crenças que os humanos foram criando ao logo de milénios esta dualidade de opostos está sempre presente. A representação gráfica mais clara e simples que conheço é a do Ying e Yang nas culturas orientais. Só a noção dos pólos positivo e negativo na electricidade pode dar meças na evidência. O mesmo conceito aplica-se para contrapor o Bem com o Mal.

E no nosso mundo ocidental, sem quase ter dado por isso se as pirâmides hierárquicas nos dois campos opostos, do Bem e do Mal, estão identificados como sendo o Céu e o Inferno. Cada um deles tem o seu hub sob um comando supremo indiscutível, ou seja no Céu o “patrão” é o Deus Pai, ou a terna Deus, Jesus e Espírito Santo, e no Inferno, situado nas profundezas da Terra, tem o comando Satanás, que têm tantos heterónimos como o poeta nacional da modernidade: Fernando Pessoa (Belzebu, Satã, Lúcifer, Tentador, Tinhoso, Capeta, Diacho, e mais).

Ora, esta estrutura, que ao longo de séculos foi estudada e discutido por doutas cabeças, de repente e graças a uma mente esclarecida de um Papa, ficou sem um dos membros mais importantes: Declarou que o Inferno não existia, ou melhor, que estava na nossa mesma sociedade, fomentado pelo mau comportamento dos nossos semelhantes. E, por não ser necessário, com a mesma penada eliminou do mapa o Purgatório, que devia ser um local de castigo temporal, com duração de tempo de penar que não podíamos conhecer.

O que não se quis evidenciar é que para existir uma situação de prémio, no Céu, é indispensável existir o contraponto, o local de castigo. E se abandonamos a noção dos extremos, do branco e do preto, como deve funcionar o campo da ultra-morte? Se as almas “boas e quase-boas” deslocam-se para o Céu, onde arrumam agora a malandragem? E lembremos que em muitas representações pictóricas e gravuras, entre os condenados às labaredas eternas, do Inferno figuravam muitos purpurados “inté” papas. Uma confusão! “sem sentido nem cabimento”. Se a malandragem, mesmo os do piorio, não forem arrumados no centro da terra e, obviamente, não podem ir incomodar as boas almas que envergando umas vestes brancas de neve estão usufruindo da companhia das individualidades. Entre a multidão dos que enchem a galáxia celestial destacam-se aqueles que em vida foram membros das bandas e orquestras sinfónicas, tocando os seus instrumentos (entre eles o pífaro e a gaita) montados em alvas nuvens como num palco.

Não se admite que os diabólicos, mais os condenados, possam intimar com os bons!(deixaram de existir as classes? Haja respeito e guardem-se as formas!) Seja como for que se organize este mundo espiritual surge uma dúvida:

Se, de facto, por delegação de Jeová o Papa de Roma foi autorizado a encerrar o inferno, esta decisão afecta tão só os adictos à doutrina católica, apostólica e romana, ou também é extensiva aos membros cristãos ortodoxos e protestantes? Se estas formações dissidentes lhes continuam a dar guarida, então toda a estrutura diabólica terá um emprego. De não ser assim vão todos para o Fundo de Desemprego! E terão direito ao subsídio? Ou só a guarida, com cama, comida e roupa lavada? E poderão fazer grandes fogueiras tal como estavam habituados?

Estas e outras perguntas e questões deveriam, com urgência, serem estudadas pelos sábios da Igreja Católica, e esclarecidas quanto antes aos humanos que já se sentem despojados de um dos alicerces fundamentais da estrutura anímica que nos suportou durante séculos. Pelo menos desde que se instalou o judaísmo, se esquecermos as heranças das pretéritas religiões mesopotâmicas, pois já então se “sabia” que existiam os diabos.

O tal Papa nos deixou um problema …





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