Mas
desta vez sem compensação por parte do devedor.
Recordemos
que existiam, e se calhar ainda existem, pessoas que a cambio de
serem remuneradas por acordo mútuo, se encarregavam de cumprir as
promessas de outrem quando estas implicavam um esforço físico ou
uma degradação indesejável para o real devedor. Podemos exemplificar com a promessa de fazer uma longa caminhada, a pé, desde a
residência habitual até um santuário, considerado como muito
propício para favorecer necessidades sem esforço nem mérito. Então
combinava-se com um voluntário que assumisse este encargo físico, e
tudo ficava numa boa. Para já isso implicava ser aceite a ideia de
que era possível enganar a personagem, fosse ela Deus ou um Santo
qualquer, sem temer possíveis repressões.
Em
garoto ouvi, no sei da família e por mais de uma ocasião, relatarem
uma marotice acontecida entre gente da praia. Uns pescadores, metidos
mar adentro, viram-se inesperadamente no meio de uma tempestade que
ameaçava afundar a sua pequena barca. Como era hábito nas gentes
crentes do mar, invocaram a ajuda da Nossa Senhora que se venerava na
imagem existente numa ermida situada num pequeno monte, perto da
praia. Os dois compadres na aflição prometeram ir calçados -o
que neles era pouco habitual, pois faziam a via descalços- e
com grão de bico dentro dos seus sapatos, para assim aumentar a
penitência.
O
mar acalmou, como era normal acontecer, e mais uma vez salvaram-se.
Chegaram à praia com a barca e o produto da pesca, e as suas
famílias os aguardavam com gestos de agradecimento às entidades
celestes. Os primeiros dias em terra decorreram sem grandes
referências à aventura de que se safaram, e só passadas umas
semanas é que se decidiram a comentar que deviam cumprir a promessa
feita naquela aflição, pois de não o fazer arriscavam-se a que
para a próxima não lhes fosse prestada qualquer ajuda celeste. Lá
ficou assente o dia em que os dois,a sós e sem testemunhas, subiriam até a ermida, calçados com aqueles sapatos que tanto
evitavam e com grão de bico dentro.
Já
antes de abandonar as últimas casas da terra, um dos pescadores já
mal podia assentar os pés; fazia manobras para se apoiar no cutelo
do pé, e mesmo assim manquejava como um destrambelhado. Chorava em
silêncio, cabisbaixo e sofrendo como nunca lhe tinha acontecido. O
parceiro até fumava e trazia as mãos nos bolsos quando não cuidava
da cigarrilha. Mas ambos chegaram, vivos, ao eremitério da Nossa
Senhora do Mar.
Deixaram-se
cair no degrau da entrada e descalçaram-se- O fumador queixava-se de
nunca mais iria calçar aqueles sapatos, e mostrou as bolhas que lhe
tinham feito nos calcanhares. O outro quando tirou pé e meia era uma
banho de sangue. O grão de bico tinha-se engastado na sola do dos
pés, mesmo dura e curtida como era pelo dia a dia no areal, e o
desgraçado desmaiou. Quando deu acordo de si e viu o companheiro,
fresco como uma alface, ficou abismado e perguntou: Mas
tu não trazias grão de bico nos pés?. Ao
que o outro retorquiu, pois claro que
pus, e bastante, não ia faltar à promessa, só que eu tratei de
cozer os grão primeiro!
A história ficou
longa e sei que não gostam assim tanto de ler. Mas acontece que o
tema que estava disposto a tratar era coisa séria. A DÍVIDA PÚBLICA
QUE, MAIS UMA VEZ, NOS CAIRÁ EM CIMA. Tratarei disso noutra entrega.
Deixo um adiantamento:
Não
podemos esquecer que A BANCA é herdeira dos agiotas, e estes
lucraram sempre com emprestar dinheiro que sabiam seria difícil, ou
impossível, ser-lhes devolvido. Pelo caminho iam recebendo juros,
muitos deles pagos através de novos empréstimos. E tudo "garantido"
por nuvens de fantasia. Quando chegar a altura de todos reclamarem a
devolução dos empréstimos não só vai rebentar a bolha (mais uma
vez) como voltará a se carregar o cidadão inocente, que não foi
tido nem achado, para carregar com a amortização, via Estado
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