domingo, 16 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Pagador de promessas



Mas desta vez sem compensação por parte do devedor.

Recordemos que existiam, e se calhar ainda existem, pessoas que a cambio de serem remuneradas por acordo mútuo, se encarregavam de cumprir as promessas de outrem quando estas implicavam um esforço físico ou uma degradação indesejável para o real devedor. Podemos exemplificar com a promessa de fazer uma longa caminhada, a pé, desde a residência habitual até um santuário, considerado como muito propício para favorecer necessidades sem esforço nem mérito. Então combinava-se com um voluntário que assumisse este encargo físico, e tudo ficava numa boa. Para já isso implicava ser aceite a ideia de que era possível enganar a personagem, fosse ela Deus ou um Santo qualquer, sem temer possíveis repressões.

Em garoto ouvi, no sei da família e por mais de uma ocasião, relatarem uma marotice acontecida entre gente da praia. Uns pescadores, metidos mar adentro, viram-se inesperadamente no meio de uma tempestade que ameaçava afundar a sua pequena barca. Como era hábito nas gentes crentes do mar, invocaram a ajuda da Nossa Senhora que se venerava na imagem existente numa ermida situada num pequeno monte, perto da praia. Os dois compadres na aflição prometeram ir calçados -o que neles era pouco habitual, pois faziam a via descalços- e com grão de bico dentro dos seus sapatos, para assim aumentar a penitência.

O mar acalmou, como era normal acontecer, e mais uma vez salvaram-se. Chegaram à praia com a barca e o produto da pesca, e as suas famílias os aguardavam com gestos de agradecimento às entidades celestes. Os primeiros dias em terra decorreram sem grandes referências à aventura de que se safaram, e só passadas umas semanas é que se decidiram a comentar que deviam cumprir a promessa feita naquela aflição, pois de não o fazer arriscavam-se a que para a próxima não lhes fosse prestada qualquer ajuda celeste. Lá ficou assente o dia em que os dois,a sós e sem testemunhas, subiriam até a ermida, calçados com aqueles sapatos que tanto evitavam e com grão de bico dentro.

Já antes de abandonar as últimas casas da terra, um dos pescadores já mal podia assentar os pés; fazia manobras para se apoiar no cutelo do pé, e mesmo assim manquejava como um destrambelhado. Chorava em silêncio, cabisbaixo e sofrendo como nunca lhe tinha acontecido. O parceiro até fumava e trazia as mãos nos bolsos quando não cuidava da cigarrilha. Mas ambos chegaram, vivos, ao eremitério da Nossa Senhora do Mar.

Deixaram-se cair no degrau da entrada e descalçaram-se- O fumador queixava-se de nunca mais iria calçar aqueles sapatos, e mostrou as bolhas que lhe tinham feito nos calcanhares. O outro quando tirou pé e meia era uma banho de sangue. O grão de bico tinha-se engastado na sola do dos pés, mesmo dura e curtida como era pelo dia a dia no areal, e o desgraçado desmaiou. Quando deu acordo de si e viu o companheiro, fresco como uma alface, ficou abismado e perguntou: Mas tu não trazias grão de bico nos pés?. Ao que o outro retorquiu, pois claro que pus, e bastante, não ia faltar à promessa, só que eu tratei de cozer os grão primeiro!

A história ficou longa e sei que não gostam assim tanto de ler. Mas acontece que o tema que estava disposto a tratar era coisa séria. A DÍVIDA PÚBLICA QUE, MAIS UMA VEZ, NOS CAIRÁ EM CIMA. Tratarei disso noutra entrega. Deixo um adiantamento:


Não podemos esquecer que A BANCA é herdeira dos agiotas, e estes lucraram sempre com emprestar dinheiro que sabiam seria difícil, ou impossível, ser-lhes devolvido. Pelo caminho iam recebendo juros, muitos deles pagos através de novos empréstimos. E tudo "garantido" por nuvens de fantasia. Quando chegar a altura de todos reclamarem a devolução dos empréstimos não só vai rebentar a bolha (mais uma vez) como voltará a se carregar o cidadão inocente, que não foi tido nem achado, para carregar com a amortização, via Estado


Sem comentários:

Enviar um comentário