terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES – Escolher em bolso alheio



Eucaliptos ou castanheiros

Um dilema que, pelos vistos, só existe na cabeça de quem não tem terrenos em pousio e que imagina, de um modo estrictamente especulativo, como conseguiria que um terreno -que não possui- lhe rendesse algum dinheiro. Neste capítulo destacam-se as parcelas que, dada a evolução da urbanização e abandono da agricultura, podem estar em locais com predisposição para serem urbanizados. São um caso aparte.

O facto de ter lido, em várias fontes de difusão, afirmações, aceitemos que sensatas e realistas, de que os frutos de um hectare povoado de castanheiros rendem mais do que se forem plantados dos indesejados eucaliptos -fonte de tantos males !? e que me abstenho de apontar e comentar dado que todos estamos saturados desta polémica e, aqueles que não tem áreas de terreno rural entendo que não devemos intervir, por respeito à sensatez.

Mas … (o quase sempre presente alerta de contraditório) mesmo desde fora do conhecimento “em primeira mão” admito que existe um factor de ponderação que pode influenciar a decisão a tomar pelo proprietário que não se sinta vocacionado a ser defensor do ambiente, abdicando dos seus rendimentos mais substanciosos dos frutos secos, nem que seja por incapacidade pessoal de se dedicar directamente ao cuidado do seu património.

Sabemos que para plantar eucaliptos é fácil encontrar não só ajudas mas até prontidão para trazer e colocar no terreno eucaliptos já com alguns tamanho, numa espécie seleccionada, por técnicos credenciados (?) como ser a mais adequada para sobreviver e crescer naquele terreno. Também oferecem, gratuitamente -a cargo da empresa que faz promoção desta espécie- acerca dos cuidados a ter com a manutenção desta espécie arbórea, e que são quase nulos. Quando os novos eucaliptos já atingem um diâmetro de tronco médio que pode ser interessante para o mercado da celulose, ao dono do terreno só lhe falta fazer uma chamada à empresa que se encarrega do corte e transporte para poder receber o montante que aceitou. E mais, conhecendo a capacidade de sobrevivência e reprodução deste tipo de árvores, a repovoação faz-se sem necessidade de trabalho humano. Basta fazer um desbaste entre os rebentos, que podem ser demasiados no mesmo pé, para aquilo voltar à possibilidade de um novo retorno dentro de pouco tempo.

Em relação aos castanheiros, cujo rendimento anual por hectare, ou por pé, se diz ser superior ao dos eucaliptos, não tenho um conhecimento directo que me permita fazer o contraste numérico, económico, embora admita que as afirmações que sobre isto fui lendo podem ser aceites sem dúvidas. Tal como os versículos da Bíblia Sagrada. Existem sempre questões a esclarecer.

Teríamos que ter acessibilidade aos custos de preparação do terreno, dos pés de castanheiro a plantar, e das variedades mais favoráveis para a zona em questão. Nem sabemos quanto tempo leva uma plantação recente a dar frutos, em quantidade comercial. Das possíveis pragas que podem existir e que nos estraguem o fruto; e os custos da prevenção. Para um proprietário absentista, que tem a sua vida normal radicada longe do seu terreno agrícola, a apanha, selecção da castanha e a sua introdução no mercado pode constituir um problema, económico, que não fica restrito ao preço por quilo que o comprador-armazenista-distribuidor ofereça ao proprietário.

Assim, de relance e sem um quadro numérico que sirva de apoio, podemos admitir que aceitar uma plantação nova de eucalipto na sua área disponível, é bastante mais descansado do que tratar de árvores de fruto, sejam castanheiros ou nogueiral, que tem valores anuais de mercado variáveis e cativos de jogos especulativos. Por outro lado sabe-se, hoje, que mesmo as tradicionais culturas de sequeiro rendem, na altura da colheita, mais por hectare quando se lhes instala uma rega controlada, gota-a-gota, sem esquecer que esta decisão implica um investimento que se deve amortizar e carece de manutenção, além de electricidade disponível.

Termino com a convicção de que decidir entre eucaliptos e castanheiros não se pode fazer “encima do joelho”, que cada caso deve ser ponderado com cuidado, a fim de não ter surpresas a médio ou longo prazo.

Sem comentários:

Enviar um comentário