sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - In memoriam



VASCO PULIDO VALENTE

Foi há menos de uma hora que me chegou uma triste notícia. Faleceu o escritor e comentador da política nacional VASCO PULIDO VALENTE. Os que se sentiam atraídos pelos seus escritos de opinião, sem papas na língua, e que precisamente por isso estou convencido de que muitos compatriotas o detestavam, por considerar que os seus pareceres eram, em demasiadas ocasiões excessivos, por truculentos e azedos, numa dose que sempre excedeu o que tem sido hábito neste jardim ao longo de décadas.

V.P.V. não quis ceder nas suas opiniões e classificações. Rejeitou a decisão social de ser preferível, aconselhável até, alimentar a hipocrisia, mascarada com boas maneiras e salamaleques, em vez de dizer as coisas pelos seus nomes (feios?). E por isso a população, em quase todos os estratos sociais, apreciava e praticava mais as boas formas, que no seu conjunto correspondia ao famoso respeitinho muito bonito.

Ao longo dos anos, e sem jamais o ter conhecido pessoalmente, teimei em procurar os escritos que apareciam na imprensa nacional, e alguns livros que, na sua faceta de historiador, nos deixou. Para o meu gosto, os escritos de V.P.V. eram suficientemente ácidos para atingirem, com dardos certeiros, a imagem que se desejava impoluta da maior parte das personagens que nos habituamos a ter que aturar. Hoje, atrevo-me a imaginar que, mesmo silenciosamente, muitos pecadores e covardes respiraram profundamente (com prazer mórbido) ao lhes chegar a notícia de que, mesmo sabendo estar ele V.P.V. doente, finalmente tinha deixado de ter a oportunidade de os qualificar com o seu azedume habitual.

Para mim, que não sou ninguém, que não existo, este falecimento nos deixa sem um historiador-escritor-crítico-pensador educado, do meio respeitável na melhor sociedade portuguesa. Sinto a sua falta. Estou de luto carregado.


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