A
FOME É MÁ CONSELHEIRA
Já
o pensador e poeta latino Virgílio sabia que a ambição, que é uma
das facetas da fome (de
poder político e económico, sempre com grande risco de andarem de
braço dado)
incitarem a abusar dos passivos. Pela convicção de que estes não
reagirão de modo a neutralizar os seus propósitos ou de corrigir o
que destruíram.
Na
nossa sociedade actual, dado que a ainda incipiente democracia não
sedimentou. Como se deve observar pelos acontecimentos mais recentes.
Muitas pessoas já sentem como o espectro político que parecia
inalterável, numa rotação equivalente à que existia durante o fim
da monarquia, já se desmembrou. Hoje temos pequenos grupos
dispersos, que vistos isoladamente não apresentam perigo imediato
para os partidos já instalados. Uma negligência e desprezo que pode
vir a dar surpresas e mudanças importantes. Estes grupos hoje
minoritários existem e teimam em dar cartas neste jogo. Mal será se
a contestação urbana pender para o anarquismo. Já esteve mais
longe.
É
um evoluir perigoso (para as pessoas tranquilas) mas que avança, com
maior ou menor sucesso, porque o ambiente que se respira é de
crescente descontentamento, descrédito de como se habituaram a
exercer o poder nesta rotação sem progresso social visível, antes
com um retrocesso notório.
O
factor mais pesado que acabará por ser entendido pela população é
o de que, apesar de nos quererem vender a alegoria de que “as
contas estão certas” e, por receio de perder as suas
oportunidades, os partidos tradicionais comem, ou fingem comer, mas
calam, o que não se pode esconder durante muito mais tempo é que a
dívida pública, e também a dívida da cidadania, tem aumentado em
vez de diminuir, como se anunciava que aconteceria.
Simultâneamente
as pessoas comuns, os cidadãos que votam e “escolhem”, sem
saber onde se metem, já cada vez entendem melhor que esta forma de
apresentar as contas públicas (seja
qual for o que estiver no poleiro)
está recheada de truques e falsidades. Quando o “povo” descobrir
que, neste momento, existe uma bolha de economia
devedora equivalente,
ou até superior, á que levou a que o FMI entrasse com o propósito
de encarreirar a nossa economia (sem
se esforçar muito, pois o dinheiro conta muito e os interesses
ligados a ele são pesados)
e de cuja acção recordamos (será
que recordamos mesmo?)
um período de redução de despesa e da concessão de crédito, mas
(outra vez
os interesses dos poderosos)que
nos levou para as PPP (que
são pesadas cangas no pescoço da cidadania que depende de um
salário) e
vendas a preço de saldo dos poucos activos que ainda restavam.
É
inevitável que se inflame o rastilho da explosão social com que a
população venha mostrar o seu desconforto, descontentamento e daí
a revolta destruidora. Moral da história: apesar
de saber o perigo a que nos expomos, quem governa prefere chamar os
bombeiros do que prevenir os incêndios (e
a população até apoia silenciosamente)
A
insistente pressão para manter, e aumentar, o consumismo, após
esgotar as reservas familiares conduziu ao crédito esbanjador,
desgovernado, e ao recurso de não conjugar a pressão comercial com
a realidade económica. Daí que não lhes seja factível equilibrar
as receitas do Estado com os seus compromissos, e menos às despesas ineludíveis. O truque de magia (para
tontos)
utilizado é o que chamam de ”retenção”, como se fosse a
reserva de alimentos que cada casa procura ter no seu dia-a-dia. Não
pode continuar eternamente com este rumo. SIMPLESMENTE PORQUE NÃO SE
CUMPRIREM AS VERBAS PROMETIDAS, ORÇAMENTADAS E ATÉ APROVADAS, OS
SERVIÇOS PÚBLICOS SE DEGRADAM.
O
remédio que o capital propõe, é, também neste caso, pior do que a
doença, pois que na maioria de casos em que se pretende substituir a
acção estatal, nomeadamente na saúde e no ensino, empurrando que
necessita com urgência para os sistemas privados, na realidade
encostados ao Estado através das PPP, cujos contratos existentes
lhes garantem cobertura para os deficits sem os penaliza nos
sectores rentáveis. Uma situação menos complexa do que pode
parecer mas que fundamenta-se em tratar a economia nacional
como se este fosse um País próspero, quando na realidade ….
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