quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES – Malesuada Fames (Virgilio)lio



A FOME É MÁ CONSELHEIRA

Já o pensador e poeta latino Virgílio sabia que a ambição, que é uma das facetas da fome (de poder político e económico, sempre com grande risco de andarem de braço dado) incitarem a abusar dos passivos. Pela convicção de que estes não reagirão de modo a neutralizar os seus propósitos ou de corrigir o que destruíram.

Na nossa sociedade actual, dado que a ainda incipiente democracia não sedimentou. Como se deve observar pelos acontecimentos mais recentes. Muitas pessoas já sentem como o espectro político que parecia inalterável, numa rotação equivalente à que existia durante o fim da monarquia, já se desmembrou. Hoje temos pequenos grupos dispersos, que vistos isoladamente não apresentam perigo imediato para os partidos já instalados. Uma negligência e desprezo que pode vir a dar surpresas e mudanças importantes. Estes grupos hoje minoritários existem e teimam em dar cartas neste jogo. Mal será se a contestação urbana pender para o anarquismo. Já esteve mais longe.

É um evoluir perigoso (para as pessoas tranquilas) mas que avança, com maior ou menor sucesso, porque o ambiente que se respira é de crescente descontentamento, descrédito de como se habituaram a exercer o poder nesta rotação sem progresso social visível, antes com um retrocesso notório.

O factor mais pesado que acabará por ser entendido pela população é o de que, apesar de nos quererem vender a alegoria de que “as contas estão certas” e, por receio de perder as suas oportunidades, os partidos tradicionais comem, ou fingem comer, mas calam, o que não se pode esconder durante muito mais tempo é que a dívida pública, e também a dívida da cidadania, tem aumentado em vez de diminuir, como se anunciava que aconteceria.

Simultâneamente as pessoas comuns, os cidadãos que votam e “escolhem”, sem saber onde se metem, já cada vez entendem melhor que esta forma de apresentar as contas públicas (seja qual for o que estiver no poleiro) está recheada de truques e falsidades. Quando o “povo” descobrir que, neste momento, existe uma bolha de economia devedora equivalente, ou até superior, á que levou a que o FMI entrasse com o propósito de encarreirar a nossa economia (sem se esforçar muito, pois o dinheiro conta muito e os interesses ligados a ele são pesados) e de cuja acção recordamos (será que recordamos mesmo?) um período de redução de despesa e da concessão de crédito, mas (outra vez os interesses dos poderosos)que nos levou para as PPP (que são pesadas cangas no pescoço da cidadania que depende de um salário) e vendas a preço de saldo dos poucos activos que ainda restavam.

É inevitável que se inflame o rastilho da explosão social com que a população venha mostrar o seu desconforto, descontentamento e daí a revolta destruidora. Moral da história: apesar de saber o perigo a que nos expomos, quem governa prefere chamar os bombeiros do que prevenir os incêndios (e a população até apoia silenciosamente)

A insistente pressão para manter, e aumentar, o consumismo, após esgotar as reservas familiares conduziu ao crédito esbanjador, desgovernado, e ao recurso de não conjugar a pressão comercial com a realidade económica. Daí que não lhes seja factível equilibrar as receitas do Estado com os seus compromissos, e menos às despesas ineludíveis. O truque de magia (para tontos) utilizado é o que chamam de ”retenção”, como se fosse a reserva de alimentos que cada casa procura ter no seu dia-a-dia. Não pode continuar eternamente com este rumo. SIMPLESMENTE PORQUE NÃO SE CUMPRIREM AS VERBAS PROMETIDAS, ORÇAMENTADAS E ATÉ APROVADAS, OS SERVIÇOS PÚBLICOS SE DEGRADAM.

O remédio que o capital propõe, é, também neste caso, pior do que a doença, pois que na maioria de casos em que se pretende substituir a acção estatal, nomeadamente na saúde e no ensino, empurrando que necessita com urgência para os sistemas privados, na realidade encostados ao Estado através das PPP, cujos contratos existentes lhes garantem cobertura para os deficits sem os penaliza nos sectores rentáveis. Uma situação menos complexa do que pode parecer mas que fundamenta-se em tratar a economia nacional como se este fosse um País próspero, quando na realidade ….

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