Há opiniões de todo género e merecedoras de ser respeitadas
Em
principio admito que todos nós, excepto os mais influenciáveis,
automaticamente desvalorizamos as opiniões que não encaixam na nossa própria craveira. Se não fosse assim, possivelmente teríamos
metade da população seriamente incompatibilizada com os militantes
com ideias diametralmente opostas às nossas. Felizmente existe mais
sensatez na sociedade do que aquilo que seria de esperar se
acreditássemos nos extremistas de um e outro bando.
Mesmo assim é
conveniente admitir que, para alguns, num quantitativo que não me
atrevo a imaginar, são extremamente avessos a aceitar que “o
outro” pelo simples facto de não aderir aos mesmos postulados, tem
que ser, forçosamente, um inimigo, ou, pelo menos, alguém que não
deve ser convidado para “ir à bola” na nossa companhia.
Porque
me meto nesta camisa de onze varas, sem mais nem menos? Simplesmente
porque, tal como me acontece numa frequência aparentemente
inusitada, nos lembrarmos (os
dois membros deste casal de velhos) de uns amigos, já
falecidos, com os quais se criaram laços de amizade que seriam
improváveis se, os quatro, tivéssemos cumprido “à risca”as
regras habituais da rejeição. Existiam factores de peso que foram
postos de lado. Estes amigos, que tanto recordamos, eram ambos do
sector que se considera de direita convicta. Ele militar de carreira,
oficial aposentado e, simultaneamente possuidor de um curso superior
em engenharia, e mais: teve uma fase de actividade na vida política
municipal.
Muito
havia entre os dois casais que não nos devia facilitar uma
aproximação. E, apesar disso, foram valorizados outros aspectos que
nos possibilitaram uma amizade, um convívio bastante intenso, sem
outro propósito de que permitir intensificar a familiaridade num
nível que nem os próprios familiares entendeu ser possível.
Viajamos juntos por diversas vezes e, nunca esquecerei, o dia em que ele, o amigo improvável
(segundo as regras da arte),
já no leito de morte, poucas horas antes de falecer, me disse: Bert
(era assim que me
nomeava, pelo meu “nome de guerra”) tenho muita
pena de não termos viajado juntos em mais ocasiões. Vocês foram um
casal verdadeiramente amigo e desinteressado.
Nunca mais esqueci, nem esquecerei,
estas palavras e a sinceridade com que me foram ditas. Eles crentes,
practicantes, eu ateu militante. Os acompanhei à missa inicialmente,
até o dia em que pedi que me autorizassem a ficar fora do templo,
aguardando a saída. E, curiosamente, em muitas ocasiões
apareciam acompanhados, alem da minha mulher, do padre que oficiou o
sacramento. Todos muito educados e civilizados, sem nunca jamais
entrar no tema da religião, nem tampouco nos critérios de política
que comentávamos com cuidada isenção e sem fanatismos. Entendíamos
a prudência da atitude Cada macaco no seu galho. E assim coincidíamos em mais pormenores do que se poderia imaginar desde fora .
Recordando um dos temas que sempre
apareciam a revista Selecções. Estes amigos tornaram-se, por mérito
próprio, as nossas personagens inesquecíveis.
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