MAS
TUDO O QUE BALANÇA CAI
Pelo
menos quanto a dentes isto não falha. E se não se decidir a cair de
por si, resta a ajuda de um alicate apropriado. Reconheço que esta é
uma interpretação muito simplista do anexim, e como tal temos que a
descartar.
Entrarei
no domínio das memórias pessoais. Dos primeiros anos da segunda
metade do XX.
Nos
meus primeiros anos de secundário tive um professor de língua que,
para provar o nível de pensamento onde tinha chegado cada um dos
seus alunos, de vez em quando nos mandava fazer uma composição,
escrita como é evidente, baseada num ditado popular que ele escrevia
no quadro. Mas apesar de que a ideia era boa nunca esclarecia o seu
propósito; corrigia as faltas de ortografia e sintaxe, mas nada
comentava acerca da interpretação. Recordo que um destes trabalhos
vinha incitado pelo conhecido : Vale mais um pássaro na mão do
que dez a voar. Nem quero reconstruir a tontice que certamente
escrevi. Só direi que era novo e nunca tinha entrado numa guerra.
Muito
mais tarde, recordando esta fase do ensino, oficial, critico com
desgosto o
facto
de que, antes de nos deixar em frente do papel e da caneta de aparo,
não nos «tivesse dado uma indicação acerca da complexa
profundidade que sempre existiu «nos adágios populares. Pelo menos
nalguns deles, pois que os do tipo Em Abril águas mil
ou Em ano
de neves pagas o que deves, são
inócuos.
Só
recordo de que sobre este assunto outro professor, este de história,
nos alertou que o recurso a provérbios, de aparência inocente em
função das palavras utilizadas, em muitas ocasiões comportavam
azedas críticas, veladas, à autoridade. Hoje
dizemos que carregam uma mensagem subliminar.
Mais disse: que os alguns dos mais antigos destes conselhos,
transmitidos pelo povo, comportavam uma “prenda escondida”. Uma
queixa, denúncia ou reclamação que era perigoso apresentar
abertamente, por serem passiveis de castigo. Não sei se nos deixou
algum exemplo, mais ou menos inocente, mas os fui encontrando ao
longo dos anos.
No
escrito de hoje, antes de avançar, o cabeçalho me empurrava para
fazer uma crítica mordaz aos discursos dos políticos, nomeadamente
quando nos pretendem enrolar com palavras doces, agradáveis, mas que
antes de as pronunciar já sabiam que não eram para cumprir. Mas,
depois de me espraiar em divagações literárias, apesar de
populares, pensei que nada do que pensava escrever seria novidade
para os pouco prováveis leitores, em especial para os mais astutos,
que certamente que sabem pensar pelas suas cabeças, e daí que não
carecem de ajudas vindas do exterior.
E
não vos maço mais.
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