terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES - Nem tudo o que luz é oiro



MAS TUDO O QUE BALANÇA CAI

Pelo menos quanto a dentes isto não falha. E se não se decidir a cair de por si, resta a ajuda de um alicate apropriado. Reconheço que esta é uma interpretação muito simplista do anexim, e como tal temos que a descartar.

Entrarei no domínio das memórias pessoais. Dos primeiros anos da segunda metade do XX.

Nos meus primeiros anos de secundário tive um professor de língua que, para provar o nível de pensamento onde tinha chegado cada um dos seus alunos, de vez em quando nos mandava fazer uma composição, escrita como é evidente, baseada num ditado popular que ele escrevia no quadro. Mas apesar de que a ideia era boa nunca esclarecia o seu propósito; corrigia as faltas de ortografia e sintaxe, mas nada comentava acerca da interpretação. Recordo que um destes trabalhos vinha incitado pelo conhecido : Vale mais um pássaro na mão do que dez a voar. Nem quero reconstruir a tontice que certamente escrevi. Só direi que era novo e nunca tinha entrado numa guerra.

Muito mais tarde, recordando esta fase do ensino, oficial, critico com desgosto o
facto de que, antes de nos deixar em frente do papel e da caneta de aparo, não nos «tivesse dado uma indicação acerca da complexa profundidade que sempre existiu «nos adágios populares. Pelo menos nalguns deles, pois que os do tipo Em Abril águas mil ou Em ano de neves pagas o que deves, são inócuos.

Só recordo de que sobre este assunto outro professor, este de história, nos alertou que o recurso a provérbios, de aparência inocente em função das palavras utilizadas, em muitas ocasiões comportavam azedas críticas, veladas, à autoridade. Hoje dizemos que carregam uma mensagem subliminar. Mais disse: que os alguns dos mais antigos destes conselhos, transmitidos pelo povo, comportavam uma “prenda escondida”. Uma queixa, denúncia ou reclamação que era perigoso apresentar abertamente, por serem passiveis de castigo. Não sei se nos deixou algum exemplo, mais ou menos inocente, mas os fui encontrando ao longo dos anos.

No escrito de hoje, antes de avançar, o cabeçalho me empurrava para fazer uma crítica mordaz aos discursos dos políticos, nomeadamente quando nos pretendem enrolar com palavras doces, agradáveis, mas que antes de as pronunciar já sabiam que não eram para cumprir. Mas, depois de me espraiar em divagações literárias, apesar de populares, pensei que nada do que pensava escrever seria novidade para os pouco prováveis leitores, em especial para os mais astutos, que certamente que sabem pensar pelas suas cabeças, e daí que não carecem de ajudas vindas do exterior.

E não vos maço mais.


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