A
população molda-se sem nos aperceberemos
De
modo geral podemos admitir que todos sentimos que, de facto, existe
um fascínio com a televisão, mesmo aquelas pessoas que tentam
evitar ser dominados por esta máquina de transmitir imagens e
mensagens, que para muitos nem todas são interessantes e muitas em
pouco contribuem para a formação cultural e social da população
em geral. Mesmo assim, e como acontece com muitos dos factores que
pesam sobre nós, nem tudo é mau nem bom.
Uma
influência que, sem a avaliarmos como merece, tem sido positiva é a
promoção de uma linguagem, ou melhor uma pronuncia, cada vez mais
uniforme entre regiões e camadas sociais. No aspecto da uniformação
linguística podemos admitir que se ganhou bastante. E o contrapeso
pernicioso é que pelo caminho se estão perdendo, por falta de uso,
muitos termos da linguagem vernácula. Imaginando que se fez um
balanço ponderado sobre o número decrescente de termos que se usam,
mesmo contando com neologismos e barbarismos o mais provável é que
o número global de vocábulos em uso corrente, sem entrar em linha
de conta com as linguagens temáticas profissionais, deve estar em
regressão progressiva, e não digo acelerada por não ter elementos
numéricos onde me apoiar.
Tem
sido habitual, pelo menos entre muitos ilustrados, afirmar que a
televisão tem sido uma máquina de estupidificação da população.
Só que para que isso corresponda a realidade seria necessário
comparar o nível cultural médio da população na fase anterior à
massificação das emissões de TV e a actualidade. Para já é
indiscutível que entre a possibilidade de obter informação (nem
sempre fidedigna) em casa ao sintonizar um aparelho para uma emissora
que emita, naquele momento, um programa que interesse e a leitura em
papel, existe um recuo considerável tanto no seguimento de jornais e
revistas (uns mais
respeitáveis do que outros, consoante o critério de cada cabeça).
Mas
dentro de amplo espectro de programas que o TV oferece há, sem
dúvida, uma faceta formativa, cultural que, sem surgir como lições
enfadonhas, podem ter aberto janelas de assimilação factual além
do que aparece em imagens. Tentarei explicar e, em corolário, poder
transferir para a sociologia aquilo que verificamos ser habitual, por
conhecimento adquirido ao longo de gerações, entre animais, os que
habitualmente desprezamos como sendo irracionais. Um erro de grande
magnitude.
Através
de muitos documentários sobre o comportamento dos animais na
natureza já se assimilou o modo que muitos tem, especialmente peixes
de pequeno porte, aves e mamíferos pouco agressivos, a viverem em
grupos numerosos. E, através dos comentários nestas reportagens,
nos explicaram que a movimentação dos membros em bandos compactos e
com deslocação em sintonia geral, os defende dos predadores, pela
dificuldade em poder atacar um elemento indeterminado. Mesmo quando
os predadores caçam em matilha. Daí se deduz, sem dificuldade, de
grande porte, optam por se defender em grupo.
Recordei
esta táctica ao meditar sobre os vergonhosos ataques de apupo que
são habituais nas claques do futebol, ou nas gritarias, mais ou
menos sensatas, que ocorrem no seio de manifestações onde se
reclama seja o que for. Comparativamente sabemos que as reclamações
individuais, com identificação voluntária, são practicamente
inexistentes -vejam-se os livros oficiais de
reclamações, quase todos imaculados.
E
podemos afirmar que os humanos estão mais evoluídos
do que as sardinhas ou as pombas? A vaidade dos humanos anda por
patamares de irracionalidade. Em muitos temas estamos em sintonia com
os tais animais irracionais, que
qualquer pessoa que trate e observe o comportamento de muitos dos
nossos companheiros de viagem na Terra já decidiu que nos ensinam
mais do que de nós possam aprender.
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