segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

MEDITAÇÕES – Ganha-se e Perde-se



A população molda-se sem nos aperceberemos

De modo geral podemos admitir que todos sentimos que, de facto, existe um fascínio com a televisão, mesmo aquelas pessoas que tentam evitar ser dominados por esta máquina de transmitir imagens e mensagens, que para muitos nem todas são interessantes e muitas em pouco contribuem para a formação cultural e social da população em geral. Mesmo assim, e como acontece com muitos dos factores que pesam sobre nós, nem tudo é mau nem bom.

Uma influência que, sem a avaliarmos como merece, tem sido positiva é a promoção de uma linguagem, ou melhor uma pronuncia, cada vez mais uniforme entre regiões e camadas sociais. No aspecto da uniformação linguística podemos admitir que se ganhou bastante. E o contrapeso pernicioso é que pelo caminho se estão perdendo, por falta de uso, muitos termos da linguagem vernácula. Imaginando que se fez um balanço ponderado sobre o número decrescente de termos que se usam, mesmo contando com neologismos e barbarismos o mais provável é que o número global de vocábulos em uso corrente, sem entrar em linha de conta com as linguagens temáticas profissionais, deve estar em regressão progressiva, e não digo acelerada por não ter elementos numéricos onde me apoiar.

Tem sido habitual, pelo menos entre muitos ilustrados, afirmar que a televisão tem sido uma máquina de estupidificação da população. Só que para que isso corresponda a realidade seria necessário comparar o nível cultural médio da população na fase anterior à massificação das emissões de TV e a actualidade. Para já é indiscutível que entre a possibilidade de obter informação (nem sempre fidedigna) em casa ao sintonizar um aparelho para uma emissora que emita, naquele momento, um programa que interesse e a leitura em papel, existe um recuo considerável tanto no seguimento de jornais e revistas (uns mais respeitáveis do que outros, consoante o critério de cada cabeça).

Mas dentro de amplo espectro de programas que o TV oferece há, sem dúvida, uma faceta formativa, cultural que, sem surgir como lições enfadonhas, podem ter aberto janelas de assimilação factual além do que aparece em imagens. Tentarei explicar e, em corolário, poder transferir para a sociologia aquilo que verificamos ser habitual, por conhecimento adquirido ao longo de gerações, entre animais, os que habitualmente desprezamos como sendo irracionais. Um erro de grande magnitude.

Através de muitos documentários sobre o comportamento dos animais na natureza já se assimilou o modo que muitos tem, especialmente peixes de pequeno porte, aves e mamíferos pouco agressivos, a viverem em grupos numerosos. E, através dos comentários nestas reportagens, nos explicaram que a movimentação dos membros em bandos compactos e com deslocação em sintonia geral, os defende dos predadores, pela dificuldade em poder atacar um elemento indeterminado. Mesmo quando os predadores caçam em matilha. Daí se deduz, sem dificuldade, de grande porte, optam por se defender em grupo.

Recordei esta táctica ao meditar sobre os vergonhosos ataques de apupo que são habituais nas claques do futebol, ou nas gritarias, mais ou menos sensatas, que ocorrem no seio de manifestações onde se reclama seja o que for. Comparativamente sabemos que as reclamações individuais, com identificação voluntária, são practicamente inexistentes -vejam-se os livros oficiais de reclamações, quase todos imaculados.

E podemos afirmar que os humanos estão mais evoluídos do que as sardinhas ou as pombas? A vaidade dos humanos anda por patamares de irracionalidade. Em muitos temas estamos em sintonia com os tais animais irracionais, que qualquer pessoa que trate e observe o comportamento de muitos dos nossos companheiros de viagem na Terra já decidiu que nos ensinam mais do que de nós possam aprender.

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