quinta-feira, 6 de setembro de 2018

MEDITAÇÕES - não bate certo



Não sei como os cidadãos menos abastados avaliaram as repetidas notícias, que a meu entender são alarmantes, e não um sintoma de corporativismo. Refiro concretamente as sucessivas demissões, em grupo, dos responsáveis de hospitais civis, ou seja daquelas unidades de cuidados de saúde que dependem para o seu funcionamento directamente do Ministério da Saúde, e portanto das cerbas aprovadas quando se discutiu o Orçamento Geral do estado. Verbas que, de facto, lhes deveriam ser atribuídas para poderem não só tratar os pacientes que ali se acolhem mas, indispensável, poder abastecer-se dos artigos necessários, desde medicamentos, meterial de consumo, equipamentos funcionais e conseguir os elementos humanos sem os quais é difícil ou impossível manter aquelas unidades hospitalares funcionais.

Isto parece tão claro e evidente que, tendo no governo um conjunto de forças que se auto-qualificam de esquerda, e sendo uma das premissas desta facção social o garantir os cuidados de saúde, ajam perversamente em oposição factual ao aprovado no tal Orçamento Geral do Estado. Com o intuito de ganhar méritos contabilísticos perante os credores, retiraram uma parte das verbas teóricamente atribuídas em muitos departamentos. Chamam a esta manobra sibilina, o aplicar cativações.

Este truque aritmético consiste, traduzido na linguagem normal, em dar com uma mão e tirar de imediato com a outra. Agindo assim é impossível cumprir um plano de acção sério. Anda coxo logo à partida.

São muitos os serviços que se queixam desta diminuição efectiva de verbas disponíveis. Podemos admitir, sem que o País caia, que se corte no orçamento real da “cultura”. Que os museus tenham que manter salas fechadas por não ter o quadro de vigilantes completo. Que as companhias de teatro, ballet ou orquestras estejam na penúria por falta de apoio monetário; que não se possam subsidiar filmagens ou restauros considerados urgentes; etc.

Mas que os cidadãos carentes de cuidados de saúde vejam que não podem ser atendidos nos hospitais, e outras unidades de saúde, por carência de meios, e se tente justificar este crime social pelo propósito de ficar bem qualificados perante quem nos avalia, é inaceitável. E se os sindicatos, sejam filiados na CGTP,na UGT ou Independentes (teóricamente) fazem greves, pressionam e conseguem, se não tudo aquilo que reclamam pelo menos uma fracção a fim de que se calem, nem que seja por um periodo de tempo relativamente curto, o que podem fazer os doentes?

A greve do doente deve ser o morrer sem assistência. Quem se importa na governação? A opção, para aqueles que tenham uma reserva económica com uma certa magnitude, é a de poder procurar tratamento junto das unidades de saúde particulares, privadas, cujas contas são, posteriormente, cobertas pelos cofres do estado. Assim,pelo caminho, há quem lucre com a desgraça alheia. Bacano!

Os críticos, apoiantes indirectos ou camuflados, das habilidades do ministro -agora a tempo parcial, enquanto sorri com toda a dentadura- dirão que desde os médicos às equipas de enfermagem e de diagóstico, são muitos aqueles que, mesmo sem estarem em greve, prestam o seu trabalho profissional nos hospitais privados. Centros estes que constantemente aliciam os profisiionais que foram preparados pelo estado. A estes denunciantes podiamos perguntar: que entendem que deviam fazer estes membros dos quadros hospitalares, quando não os contratam ou não são remunerados como na concorrência -que sabemos joga com as costas e as contas quentes, garantidas pelas verbas do estado- para sobreviver e tirar proveito económico da sua capacidade profissional?

E este esquema, além de outros também do domínio público, funciona com o beneplácito duns elementos que se proclamam como tendo um intenso sentindo, um pendor, social; preocupados com os problemas dos mais desfavorecidos. Pelo menos, aqueles que aceitam, claramente, a sua vocação direitista, não tentam enganar o pessoal.

Uma vergonha. Não que aconteça isto, mas pior, o facto de não existir um sentimento geral de repúdio e revolta. Que vale o fingir que estamos no bom caminho quando se sacrificam os serviços essenciais?



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