Caí da cama
MAS NÃO PERDI O FIO DO SONHO
MAS NÃO PERDI O FIO DO SONHO
Estava
imerso num sonho que misturava recordações com a colheta do dia e,
repentinamente, lembro que devido a uma brusquidão no eléctrico em
que viajava, dei de caras no chão. O chão era, precisamente, o
espaço que exsite entre “o meu lado no tálamo conjugal” e a
parede (não aquela Parede que linda com o empreendimento
urbanístico de Carcavelos e que “servirá de apoio” residencial
aos docentes e discentes, e até pode ser que de alguns membros da
equipa técnica, que estiverem igados à Universidade da Linha, em
estado muito adiantado de instalação).
Ao
que íamos: Estava eu viajando no eléctrico da Carris e comigo se
encontrava, o já defunto estimado colega E.Q. Também recordo outro
passajeiro que nos interpelou apontando um letreiro que recomendava
que não deixassem o lugar sentado e fossem para a coxia antes do
veículo estar parado. Devem ter copiado este aviso das lenga-lengas
habituais dos tripulantes dos aviões comerciais. Este cidadão,
exemplar, era um rapazinho, bastante encorpado, digamos redondinho,
que aparecia em diversas cenas deste sonho, mas que não sei qual era
o seu papel nem quem o tinha contratado.
Aquilo
que me incitou (segundo creio) a que recordasse diferentes “quadros”
deste sonho deve ter sido o lembrar, com saudade, (o que nem sempre
acontece) o convívio com E.Q., enquanto e depois do periodo
académico. A sua imagem, que permaneceu até hoje, era muito
diferente da que a restante equipa de colegas deixava. Uma equipa em
mutação periódica, na que entravam novas caras e desapareciam
outras.
E.Q.
Tinha em si características incomuns naquele grupo. Para já era
mais velho, muito mais experiente na vida real, no mundo do trabalho
remunerado, uma altura que destacava e a capacidade de esconder um
espírito alegre e jocoso atrás de uma cara-de-pau. Não sei
explicar as razões que me levaram a pender para ser seu amigo, e até
sentir alguma reciprocidade. Ou, sendo mais correcto, não quero
deixar aqui alguns detalhes que podem justificar esta aproximação.
Deixarei como factor importante que era a sua personalidade, fora das
regras existentes naquele grupo, que a meu entender o elevava.
Como
certamente acontece com todos os humanos, e humanas (caso
existisse esta denominação para as nossas queridas companheiras do
planeta) tampouco E.Q., escapou incólume das múltiplas
ratoeiras que a vida nos apresenta. Teve os seus momentos, bons, maus
e assim-assim. Eram dele, e de quem conviveu com ele nas ocasiões
concretas. O facto de conhecer alguns items da sua vida pessoal só
me pode orgulhar pela sua confiança, mas não me autoriza a os
tornar públicos.
Só
um breve recordatório, de uma das últimas conversas que mantivemos.
Ao comentar que estava mais do que reformado, dada a idade que devia
constar no seu B.I., ou agora do C.C., perguntei-lhe como distribuia
o seu tempo e afezeres, caso os tivesse, nesta fase de não
trabalhar. Respondeu-me que eu estava, mais uma vez, errado. Ele
tinha emprego. Depois de acordar, arranjar-se, incluído o calçado,
dirigia-se directamente para o seu local de trabalho. Onde?
Perguntei. No centro de idosos da freguesia. Ali convivo com os que
ainda falam e dizem coisas coerentes, leio o jornal, almoço e, se
encontrar um parceiro idóneo, fazer umas partidas de damas, xadrez
ou de cartas, sem dinheiro nem feijões. Era este o seu emprego
depois de fora de serviço.
Como
as composições de comboio vergonhosamente arrumadas nas linhas
mortas entre Oeiras e Carcavelos, aguardando o serem enviadas para a
sucata.
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