Quando
se alcança um lugar de mando, de comandante do navio como exemplo, o
cidadão que se encontra esta situação sabe, ou cedo descobre, que
mesmo se a sua personalidade o impulse para se tornar um ditador
omnipresente omnidecisor, a realidade pode mostrar-lhe que o seu
horizonte comporta uma vastidão tão grande de assuntos que não
consegue aplicar a mão de ferro em todos os capítulos. Daí que se
torna inevitável o ter que escolher pesoas a quem delegar funções,
e daí lhes dar alguns vectores de poder, mesmo que limitados.
E
aqui podem começar os problemas, inicialmente de pouca monta mas que
paulatinamente podem gerar departamentos estanques onde nem ele, o
comandante, ou precisamente ele em especial, consegue penetrar. O
mais anedótico é que, na maior parte dos casos, o refrido
comandante, que mantêm para o exterior a imagem de ser
todo-poderoso, o supremo decisor, nem sabe do que se coze nas suas
costas. Daí que, no caso bastante vulgar de o grande chefe descobrir
que o seu segundo, evoluiu se mostrou ser um ambicioso camuflador, já
experiente e sempre cuidando de manter a imagem de ser um leal
servidor, sem de facto o ser. O chefe, se lhe resta uma nesga de bom
senso, deve decapitar, urgentemente, este que lhe corta a erva
debaixo dos seus pés. Tradicionalmente os segundos endem a utilizar
todos os meios -em geral pouco éticos- para derrubar o chefe e
colocar-se eleno trono.
A
história universal está recheada de relatos onde se especifica como
até um Rei, de uma coroa absolutista, esteve, de facto, nas mãos de
um valido, de um primeiro ministro, dum secretário ou mesmo de um
confessor ou um cardeal. Por comodidade e gostando de ter a papinha
feita, passou a estar “comodamente” num posto de boneco. Os
exemplos críveis referem todos estas possibilidades, e ainda
outras, sempre bem identificados. Um dos mandantes por trás do
reposteiro mais referido foi o Cardeal Richelieu. Mas houve muitos,
mesmo na história moderna.
PATRIARCADO
vesus MATRIARCADO
Descendo
para o mundo banal, o familiar, podemos dedicar alguma atenção ao
que acontece no seio dos casais. É norma, quase que geral, admitir
que dentro da casa, abrangendo as decisões mais normais, repetitivas
ou não, o comando é delegado à esposa, e mais quando esta atinge o
estatuto de mãe, pois que, desde sempre, o início da educação das
crianças esteve, por ser práctico e de modo tácito, entregue às
mães.
A
situação pode tornar-se, progressivamente conflituosa, quando o
marido, já sentindo que o estatuto de “cabeça de casal” pedeu
muito do seu peso real, decide comentar e pedir a opinião da esposa
de uma forma assidua. Uma situação até aqui normal, correcta e
socialmente admitida como positiva. Todavia, se o homem, nem que seja
por comodidade ou imprevisão, deixa que a esposa se torne a
decissora irrevocável de cada vez mais temas, o anteriormente cabeça
de casal passa a ser um zero à esquerda. E se ficar revoltado com
esta degradação de autoridade inclusive podem atingir um ponto de
ruptura. Quase impereptivelmente se passou do esquema de patriarcado
ao de matriarcado. E é que o mais difícil neste mundo, mesmo
reduzindo a duas pessoas, é o de que tendo visões nem sempre
coincidentes, possam atingir um nível de convivência, estilo
democrático, sem que um deles aceite ceder mais do que prevalecer.
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