sexta-feira, 14 de setembro de 2018

CRÓNICAS DO VALE – cap 67



Foi só um alarme, mas forte!

Depois de tomar o segundo comprimido comecei a sentir uma moinha esquisita na barriga. Tive uma noite inquieta, mal dormida ou mais propriamente com uma insónia misurada com pesadelos intantâneos. De madrugada guardei a orina que o Dr. me pediu e, no boião transparente vi uns laivos de sangue. Tomei o terceiro comprimido e o mal-estar se acentuou. Quando me arranjava, com muita dificuldade em coordenar movimentos e um sentimento extranho no meu ínterior, sentí como surgiu um fluxo, mais espesso e até violento, do que o meu normal.

- Bom dia. Sou a Senhora Luísa Maragato e vinha deixar as amostras de orina de ontem ao deitar e de esta manhã ao levantar, atendendo ás indicações do Senhor Doutor. Certamente a enfermeira saberá o destino a dar a estas amostras. E creio que por agora é tudo. Se o Dr. Entender tem o meu telefone na ficha para entrar em contacto.

- Desculpe. Não se va embora já. O dr. Avisou que quando a dona Luísa, chegasse para entregar os dois frascos o informassemos, pois deseja consultar a Senhora quanto antes. Faça o favor de aguardar enquanto eu comunico com o Doutor. O Dr. Deu indicação para que entre no gabinete de consulta. Faça o favor de me seguir.

- Doutor, bom dia. Antes de mais queria dizer que, sejam quais forem as razões terapeuticas, os comprimidos que me entregou foram de efeito rápido. Não quero especular acerca do tratamenteo, mas gostaria que o Doutor me esclarecesse. Não tenho uma explicação plausível que me satisfaça, pois o que sei de medicina e nada é a mesma coisa. Só posso afirmar que agradeço ao Doutor a atenção com que atendeu ao nosso - meu e do meu marido- não digo que problema, pois caso se confirmasse existir uma gravidez inesperada. seria encararada com toda a sensibilidade e bom senso pertinente. Mas, de facto não deixava de ser uma situação extemporânea.

Já discursei e assim descarreguei o nervosismo que me pesava desde a noite passada. Agradeço o silêncio com que me ouviu e, também, em primeiro lugar, o método indolor e rápido com que possibilitou uma solução. Peço que me desculpe. Sempre fui impulsiva quando entro em parafuso, e o conhecer o Doutor de bastantes anos tornou-me indesculpávelmente atrevida.

- Amiga Dona Luísa Maragato. Conheço-a desde muitos anos a esta parte, como paciente de seguimento e por sorte sempre com boa saúde, ou seja, foram visitas rotineiras de precaução. Desta vez as coisas não foram, exactamente, como a Dona Luísa imaginou. Mas esteve muito perto. O que a desconcertou foi que, sem dar por isso, chegaram os primeiros sinais da fase menopausica, que altera practicamente todo o funcionamento do aparelho reprodutivo femenino, e provoca uma sintomatologia que nem sempre é agradável. Os homens também tem a sua cruz neste sector sexual: a andropausa, de que, tal como as senhoras, não gostam de falar porque psicológicamente sentem-se diminuídos. E de facto assim é!

Aguardaremos os resultados das análises a fazer com a sua orina, e depois o mais provável é que lhe tenha que receitar um tratamento hormonal específico para esta fase da vida femenina. É melhor tratar disso enquanto os sintomas não se acentuam. Entretanto, e porque a chegada deste declínio hormonal é causa de efeitos psicológicos, a maioria das mulheres, como já disse, não gostam de referir esta situação aos demais. Não devia ser visto como uma vergonha, mas a reacção habitual é como se fosse.

Confio na Dona Luísa para que arquitecte um arrazoado, credível, sem entrar em especulações de mau gosto. E até, se já tinha dado vozes de novidade a pessoas suas conhecidas, use a mesma argumentação para dar uma nova versão mais aceitável, esquecendo o alarme, imprevisto mas em princípio aceite, de que iria dar mais um herdeiro ao José Maragato.

E aqui damos a consulta por terminada. Felizmente sem sequelas, segundo desejo. Quero observa-la daqui a um mês. Trate de marcar a consulta com a senhora da recepção, a quem darei já indicações pelo telefone interno. Os dois estamos de parabéns, tendo remediado uma situação que se podia prever visse a ser potencialmente problemática.

- Então Luísa, como decorreu o encontro com a Dra. Diana? O que me antecipaste pelo telefone creio que é suficiênte, mas tens via livre para completar, caso entendar ser pertinente.

- É um assunto que ainda está no início. Não digo no prólogo, porque já se deram novas e rápidas alterações nao organização da filial de Coimbra. Já não é aquilo que coheciamos. E o melhor seria que pudessemos esquecer das circunstâncias que nos conduzirama ter estes contactos.

Mas há outros assuntos que mais nos podem interessar neste momento, além de que a possibilidade de te dar mais um herdeiro ficou pelo caminho. Segundo parecer do meu médico “de senhoras” acontece que entrei na fase menopausica, com a certeza de vir a sofrer dos calores, conhecidos como afrontamentos e indisposições de novo tipo, própirios das matronas. Querido, não te darei um filho -vade retro, Satanás!- mas cá estou para me investir de senhora respeitável sem despesas de pensos higiénicos, pelo menos numa periodicidade regular.

O outro tema, que trazia na mira, ou seja a vontade de instalar uma estufa para plantas junto da hortinha, pode ser que venha a ter algun avanço. Ao passar pela Vila falei com a referida senhora, mãe de um engenheiro “ingrícola”, especializado em floricultura e meninas -a mamá sempre conta, muito vaidosa, da constante mudança de namoradas do seu rebento. E todas elas de parar o trãnsito!- a fim de que lhe pergunte se pode deslocar-se até o Vale para nos poder dar uma ideia de se entende ser possível a instalção da sonhada estufa. E depois poder contar com a sua asistência futura enquanto eu não ganhe experiência.

Uma loucura seródia que, como ves, está tão longe do lavar cabeças, e pintar cabeleiras, como consta do meu currículo “universitário”, como está Marte em relação a Aveiro.

- Eu dei um dos meus passeios diários no terreno e tive uma conversa com o Ernesto acerca da tua ideia de montar uma estufa. Ele sabia disso, porque tu já lho contaste. Vimos os espaços que nos parecem apropriados e qual implicari o abater de muitas árvores. O que ele nos recomenda é que nos precavermos de que a estrutura a instalar seja resistente a ventanias, pois é uma tristeza ver como algumas instalações deste género são derrubadas e desfeitas caso a aragem seja mais forte; ou seja, se surgir um vendaval. Quando souberes da vinda do “técnico” posso estar por perto. Mas a conversa terás que a ter tu. Como na cozinha, duas pessoas a temperar o mesmo esturgido ou assado é muito arriscado.

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