Mais
uma vez não resisto à tentação de entrar no domínio dos sonhos.
Mas desta feita tentaria comentar como se teceram muitas teorias com
o propósito de tentar explicar as supostas mensagens que a mente nos
oferecia. São citados, ao longo da história, e também na
actualidade, muitos profetas e adivinhos que se dispuseram a
interpretar o significado dos sonhos. Hoje ainda existem estes
beneméritos para os crédulos que confiam na suas capacidades
esotéricas e não conseguem digerir, calmamente, as fantasias
mentais que os preocupam.
Sendo
céptico por natureza nunca prestei atenção aos livros que se dizem
capazes de interpretar os sonhos. Mesmo assim já comprei algum, que
nunca sequer folheei, para atender uma pessoa sumamente crédula.
Curiosamente, ou não, estas pessoas que procuram ajuda dos espertos,
ou mais propriamente espertalhões, são também crédulos convictos
de milagres, pertencem à religião preponderante em Portugal, ou
derivaram para alguma seita das muitas que tem proliferado.
A
minha perspectiva sobre este assunto implica o admitir que o nosso
cerebro, quando com funcionalidade normal, tem uma enorme capacidade
de armazenamento de dados, e depois é capaz dos combinar e processar livremente. Para a inteligência natural, que os investigadores
pretendem copiar e até ultrapassar artificialmente, quando pode agir
sem o seu portador estar em vigilia, e por isso sem que as ordens do
utente o procurem orientar para o que deseja, o cérebro encarrega-se
de construir uma estrutura, mais ou menos plausível, socorrendo-se
dos muitos entradas que recebeu, seja pela vivência do indivíduo
portador do crâneo respectivo, como também pelos impulsos que o
atingiram por visualização de filmes, de leituras ou de relatos que
lhe causaram algum impacto.
As
possibilidades de o cerebro criar a partir de elementos recebidos é
imensa, e até podemos deduzir com alguma aproximação, aquilo que a
experiência nos indicou que pode ter possibilidades de acontecer.
Mas tudo isto num processo mental simultâneamente complexo e
simples. O que nos é impossível, estando dormidos ou acordados, é
antever o futuro. Daí que acreditar que alguêm seja capaz de prever
o que há de acontecer através dos sonhos é, além de ser um
atrevimento insensato, uma impossibilidade indiscutível. Não há
nem nunca houve profetas que mereçam crédito. Muitas profecias que
se consideram autênticas foram, certamente, relatadas a posteriori.
A
técnica seguida pelos visionários em activo é a de anunciarem um
amplio leque de sucessos para o futuro, em geral a médio prazo ou,
de preferência, para longo prazo. Depois apostam na voragem do tempo
que neutraliza as profecias não cumpridas e ele, o futurólogo, se
encarrega de destacar o acontecimento que mais se aproxima do que, de
uma forma pouco concreta, distribui às audiências. Ou seja, quanto
mais coisas se anunciem para o futuro maior é a possibilidade de
acertar numa.
Isso
sem referir aqueles que apostam sabendo que irão acertar, por
exemplo nos eclipses ou nas cheias de outono. Se não aconteceram as
cheias anunciadas não foi por falta de chuva, mas porque as
barragens vazias se encarregaram de acumular a água, sem rebentarem.
Sempre surgem explicações plausíveis para justificar o fracasso.
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